Aposentadoria precoce de Hazard acende alerta sobre o “futebol do dinheiro extremo”

Absurda injeção de dinheiro e interesses por todos os lados tornam o esporte cada vez mais insustentável

Aposentadoria precoce de Hazard acende alerta sobre o “futebol do dinheiro extremo”
Eden Hazard com a camisa do Chelsea, por onde mais fez sucesso. Foto: Chelsea/Twitter

Nesta terça-feira (10), o belga Eden Hazard anunciou sua nem tão surpreendente aposentadoria. Multicampeão pelo Chelsea, onde se projetou mundialmente, o habilidoso ponta esquerda não vinha apresentando bom futebol tanto no Real Madrid, seu último clube, quanto na seleção da Bélgica. Mas se quisermos entender a aposentadoria de Hazard precisamos levar a discussão para muito além da sua recente falta de desempenho.

O belga de 32 anos se junta a um grupo de atletas que parecem ter simplesmente se cansado do futebol. Outro exemplo notório é Gareth Bale, que também despontou na Premier League mas, ao contrário de Hazard, brilhou com a camisa do Real Madrid. Após conquistar tudo com a camisa merengue, o galês não se constrangeu em tratar a vida profissional de atleta como uma das suas últimas prioridades e pendurou as chuteiras com apenas 33 anos e a possibilidade de mais algumas temporadas em alto nível.

Mas ainda há aqueles que permanecem nos gramados. Como não falar de Neymar? Me parece claro que a pressão sobre tudo o que ele poderia ter sido foi minando o tesão por futebol demonstrado pelo moleque franzino surgido no Santos. Se há 12 anos o atacante carregou o Peixe ao título da Libertadores, hoje Neymar representa a imagem do atleta acomodado, pouco preocupado com os desafios da profissão.

Também acho fundamental relembrarmos a trajetória de outro brasileiro: Willian. Em 2021, o atacante retornou ao Corinthians cercado de muitas expectativas. Mas não aconteceu. Pouco mais de um ano depois, Willian fechou com o Fulham após conhecer, de perto, a relação doentia do brasileiro com seu esporte favorito.

Diante destes e outros exemplos, acho bastante oportuno refletirmos sobre o que tem se tornado o futebol. Nunca houve tanta injeção de dinheiro e interesses de diferentes tipos, inclusive políticos, na atividade esportiva mais popular do planeta. As redes sociais e sua capacidade de nos dar o poder que nunca tivemos também ajudam a inflamar esse ambiente cada vez mais fervoroso. Por todos os lados, o que vemos são cobranças, ameaças, intimidações e a visão do jogador como máquina.

Os torcedores querem ganhar de qualquer forma. Os dirigentes precisam vencer para se sustentarem. Os técnicos também dependem das vitórias para não serem mandados embora. Os patrocinadores precisam das vitórias pelo bem das suas marcas. Governos autoritários financiam clubes poderosos para limparem sua imagem perante a sociedade. Mas é impossível essa conta fechar em um cenário em que para um vencer, outro precisa perder. Ou, no máximo, ambos não vencerem.

Coloque tudo isso em um caldeirão e o resultado é o “futebol do dinheiro extremo”, como há alguns meses definiu de maneira brilhante o jornalista Vitor Birner, da ESPN. Um esporte manchado por violência e suas diferentes formas de intolerância, do racismo à xenofobia.

E no futebol do dinheiro extremo, lamentamos desde ontem a aposentadoria de um dos jogadores mais talentosos da sua geração. Proponho outro caminho. Que tal refletirmos sobre como alimentamos essa insanidade e podemos oferecer um ambiente mais saudável aos talentos belgas, brasileiros e galeses?

Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.

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