Na minha época…
Confira o novo texto do colunista e psicólogo Arthur Kelles!
É comum ouvirmos alguém dizer: “Na minha época, as coisas eram melhores, não tinha disso que tem hoje, não”. O que se passava na televisão era melhor, as músicas eram mais interessantes, o que se fazia de lazer era bem melhor, hoje as pessoas não sabem aproveitar as coisas…. Há uma nostalgia muito intensa, que pode ser até preocupante, pois quando nos colocamos nessa posição, tendemos a ver o passado como idealizado, e o presente cheio de defeitos.
É como se só o passado fosse bom, o presente não. Quando pensamos em momentos passados, tendemos a adicionar a estas lembranças também nossas memórias afetivas. Vou me lembrar de uma ida ao cinema quando jovem com muito carinho, e tendo a esquecer da dimensão de todos os problemas que ocorriam na época. Essa é a verdade: cada época tem seus pontos positivos e negativos. Cada período de nossas vidas tem suas possibilidades e suas limitações. Fica difícil colocá-las em uma hierarquia. Não são melhores ou piores, são apenas diferentes.
As relações não se dão da mesma forma, as músicas são outras, as tecnologias são distintas. A nostalgia grande ao passado também faz pensar no medo que temos do novo. Quando surgiu o rádio, diziam que ele traria muitos problemas à sociedade, às famílias. O mesmo se disse do telefone, da televisão, da internet, do whatsapp. É claro que eles têm seus problemas, mas eles também trazem muitas novas possibilidades. Tudo que é novo nos assusta, e pode fazer com que voltemos a um passado que na nossa memória era confortável.
Por isso dizemos que na nossa época era tudo muito bom. Não há nada de errado lembrar do passado com alegria, com afeto. Mas outra coisa é diminuir o que estamos vivendo hoje. Isto faz com que nos fechemos ao novo, ao que pode surgir desse jeito diferente de viver.
Naquela época, fazer as coisas daquele jeito fazia sentido, mas por que não tentar algo diferente hoje? Sempre podemos encontrar novas formas de satisfação, seja no lazer, nas relações, no trabalho ou na tecnologia. É bastante saudável pensar com carinho sobre nossas memórias, mas isto não pode nos impedir de viver novas experiências.
Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos
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