As primeiras ações de Donald Trump surpreendem? Não, “America First”
O principal projeto do novo morador da Casa Branca é transformar o mundo numa latrina dos americanos, principalmente a América latrina. O México é o destino da primeira descarga
Estava escrito nas estrelas. Donald Trump faria da sua posse um megaconcerto do narcisismo. Um circo universal. O cara (e agora ele é o cara) funciona dessa forma. Uma mistura de arrogância com egocentrismo. E tem apimentado ingrediente nesse tempero: Trump é uma ilha cercada por arrivistas. Elon Musk (Tesla Motors), Mark Zuckerberg (Meta) e Jeff Bezos (Amazon) só pensam naquilo (leia US$). E aí mora o perigo.
O discurso inaugural do “cabelo russo” foi previsível cartão de visita para a geopolítica. Na lorota, “o cara” não teve contemplação com ninguém. O papo foi o triunfo do “America First”. Confira a livre tradução da frase. “America First” = “nós é nós (sic), o resto é estrume”. O principal projeto do novo morador da Casa Branca é transformar o mundo numa latrina dos americanos, principalmente a América latrina. O México é o destino da primeira descarga. O bufão reiterou as ameaças dos dias anteriores à posse. O suposto homem mais poderoso do sistema solar novamente prometeu retomar o canal do Panamá, invadir a Groenlândia e anexar o Canadá. Fisicamente, Trump lembra Adolf Hitler. A fisionomia tem um quê do fuhrer. A retórica totalitária, nacionalista e expansionista não anda tão distante da visão ideológica do ditador nazista.
O norte – americano é falastrão compulsivo. Teoriza abundantemente e mente demasiadamente (é proposital). Muda de ideia a cada instante. Qual será o comportamento do “todo poderoso” diante do frio e misterioso Xi Jinping? Até agora não se sabe se o mandarim chinês é reencarnação de Confúcio ou Mao Tsé- Tung. Dúvida cruel. Donald terá a oportunidade de decifrar esse “claro enigma”. “America First”?
Na noite da posse, numa conversa informal com jornalistas, em pleno Salão Oval, Trump endereçou sutil recado ao governo Lula. “Eles (os brasileiros) precisam de nós mais do que precisamos deles”, mandou ver Orange. No pronunciamento oficial não houve um leve aceno ao Brasil. Por sinal, os principais membros do cenário internacional sequer foram citados. Mencionou apenas – porque é indispensável – Israel, México, Canadá e Panamá. E para que destacar os demais atores planetários? Desnecessário. Os Estados Unidos são o sol em volta do qual giram inexpressivos asteroides. “America First”.
O novo (velho) presidente tem alguns “parceiros” preferenciais. Tipos como a italiana Giorgia Meloni e o argentino Javier Milei estão nesta categoria. Há também os autointitulados amigos. Jair Bolsonaro encontra-se neste rol. Mas esses deslumbrados não significam nada para o big pic. Trump conta com apenas duas categorias de seletos do peito: a sua família e o dólar. Não se iludam. Meloni, Milei e Bolsonaro não passam de eventuais “totós” de estimação em pontos estratégicos do planeta. “America First”.
O protecionismo sempre foi a marca registrada de todos os estadistas da pátria de Tio Sam. Essa característica não é privilégio de Trump. Os outros mandatários dos EUA, porém, sabiam dissimular. Já Donald é o senhor do escracho. Não está nem aí para a opinião pública global. E atenção. O “mui amigo” taxará os produtos de todos os parceiros comerciais dos States, sem exceção. Amigos, amigos, negócios à parte. América nunca foi tão primeiro lugar.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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