Brasil não adere à Rota da Seda mas assina 37 acordos com a China

A nova rota da seda é peça fundamental da política externa da China, que apoia e constrói 21 mil projetos em todo o mundo

Brasil não adere à Rota da Seda mas assina 37 acordos com a China
Foto: Ricardo Stuckert/PR/Flickr

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da China, Xi Jinping, se reuniram nesta quarta-feira (20), no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência onde definiram termos e assinaram 37 acordos de parceria em áreas de infraestrutura, energia e comunicações.

Os acordos bilaterais promovem o que o texto denomina de “sinergia” entre os programas brasileiros e a chamada Nova Rota da Seda, mas sem adesão formal à iniciativa.

A Nova Rota da Seda é a peça central da política externa chinesa, que apoia e constrói cerca de 21 mil projetos de infraestrutura em todo o mundo, em um investimento superior a 1,3 trilhão de dólares (R$ 6,3 trilhões).

O Brasil era pressionado pelo governo chinês a aderir à sua iniciativa de investimento em infraestrutura, mas o Itamaraty optou em não se envolver amplamente no projeto do gigante asiático. 

A diplomacia brasileira considera que a relação com a China já traz vantagens e a adesão ao projeto só traria ganhos simbólicos, mais que práticos.

A diplomacia não esconde que um alinhamento mais amplo com a China poderia trazer um desgaste político com os Estados Unidos, já que a China e os Estados Unidos são, respectivamente, os dois maiores parceiros comerciais do Brasil.

No entanto, no acordo assinado por Lula, há um caminho para parcerias que ligam ao projeto chinês de ampliar sua influência econômica por meio da infraestrutura, prevendo a criação de cooperação para políticas como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Plano Nova Indústria Brasil, integradas em “sinergia” à iniciativa Cinturão e Rota.

O Brasil tem sido um dos principais destinos de investimentos chineses que já vêm participando de vários projetos de infraestrutura e parcerias em empreendimentos como a construção de usinas hidrelétricas e ferrovias, gerando empregos, renda e sustentabilidade.

Na redação do acordo há também a previsão de inserção de empresas brasileiras na China, como a WEG, a Suzano e a Randon, além de criar parcerias nas áreas de comércio, investimentos, indústria, energia, mineração e agricultura, com a criação de protocolos que vão permitir a importação e exportação de mercadorias.

Desde 2017, o Brasil é o maior fornecedor de alimentos para a China, e em 2023, o comércio entre ambos atingiu valor histórico de 157 bilhões de dólares e, o superávit com a China sendo responsável por mais da metade do saldo da balança comercial brasileira.

O acordo estipulou um “memorando de entendimento” entre a brasileira Telebras, vinculada ao Ministério das Comunicações e a chinesa Shangai Spacesail Technologies para o provimento de serviços e soluções de telecomunicações no Brasil.

A gigante chinesa é rival da Space X, e o acordo abre espaço para a entrada da empresa Shangai no mercado brasileiro de internet por satélite, hoje dominado pela Starlink, do bilionário Elon Musk. A empresa chinesa espera disponibilizar o serviço no Brasil até 2026, num embate direto com Musk, em desgaste com autoridades brasileiras.

Elon Musk foi nomeado por Trump como chefe do Departamento de Eficiência Governamental e assume a função em janeiro de 2025.

O acordo contempla também outros temas, como memorandos de entendimento para aplicação de tecnologia nuclear para geração de energia, desenvolvimento de inteligência artificial além de cooperação nas áreas de turismo, esporte e cultura.

* Fonte: UOL