Busca por canabidiol para tratamento de criança vira embate em Ipatinga
Repercussão foi tamanha que o prefeito municipal Gustavo Nunes (PSL) realizou live sobre o tema na última sexta-feira
O drama vivido pelo pequeno Yuri Pimentel e sua mãe, Naiara Pimentel, virou tema de embates em Ipatinga recentemente. A criança possui hemimegalencefalia, uma doença rara que vem tratando desde os primeiros meses de vida. Após o diagnóstico, Yuri passou por uma cirurgia, utilizou diferentes medicamentos e só atingiu uma rotina saudável, diz a família, com o uso do canabidiol, medicamento brasileiro feito à base de cannabis.
No ano passado, uma decisão liminar do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) até determinou que município e Estado fornecessem, de forma solidária, o remédio a Yuri, à época com dois anos. Na oportunidade, o Estado chegou a recorrer da decisão, mas teve seu recurso negado. Sete meses depois, o imbróglio segue indefinido e Yuri sem o canabidiol.
Entenda
O assunto ganhou muita relevância na última quarta-feira (22), após um vídeo gravado pelo médico de Yuri, Marcone Oliveira. Na postagem, realizada em suas redes sociais, o neurologista acusa a Prefeitura de Ipatinga de ter se recusado a dar o medicamento para a criança.
Com isso, diz Marcone, Yuri Pimentel voltou a ter convulsões frequentes, em um momento no qual já apresentava uma melhora. Além de dar sua versão sobre o caso, o médico pediu para que seus seguidores fizessem doações pelo Pix e pressionassem o prefeito Gustavo Nunes (PSL) pelas redes sociais. Assista ao vídeo logo abaixo.
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A reportagem da DeFato procurou Marcone Oliveira para saber, entre outras coisas, quanto pretende-se arrecadar pelo Pix, o impacto das seguidas convulsões na saúde de Yuri e o porquê de, segundo ele, a Prefeitura não arcar com o Canabidiol. No entanto, não obtivemos resposta.
Porém, durante uma live em seu perfil do Instagram, o neurologista rechaçou usar o caso para se promover politicamente e se desculpou com Gustavo Nunes por comentários ofensivos ao prefeito surgidos após a divulgação da história.
O outro lado
Na manhã da última sexta-feira (24), o prefeito de Ipatinga, Gustavo Nunes, concedeu uma coletiva dedicada, exclusivamente, ao tema. Segundo o chefe do Executivo, o fornecimento do remédio a Yuri e qualquer outro paciente depende de uma decisão judicial. Gustavo garantiu que deseja ajudar a criança, mas ponderou que é necessário atuar dentro das “quatro linhas da legislação”. Para ele, não é possível tratar um medicamento como o canabidiol como uma dipirona.
“A gente não pode tratar um medicamento específico como se fosse uma dipirona, porque não é assim que funciona, infelizmente. Ou felizmente, talvez. A legislação no Brasil não permite ser dessa forma, e não é só no município de Ipatinga que precisa de uma decisão judicial dessa não, é em todos os municípios do Brasil inteiro. Infelizmente, apenas por vontade própria, não podemos fazer isso. Como podemos auxiliar a família desse garoto? A Secretaria de Assistência Social, a Secretaria Municipal de Saúde, a Procuradoria Geral do Município estão à disposição para que possamos fazer o acolhimento possível do garoto Yuri, do garoto Davi. Mas, é claro, dentro das quatro linhas da lei que temos que cumprir”, disse.
O Davi ao qual Gustavo Nunes se refere é Davi Souza Major, criança de seis meses que luta contra uma Atrofia Muscular Espinhal (AME). Em trecho direcionado diretamente a Marcone Oliveira, o prefeito ipatinguense lamentou a postagem da última quarta-feira. Para Gustavo, a situação poderia ter sido conduzida por meio do diálogo.
“Me veio uma chateação muito grande quando assisti ao vídeo, porque a pessoa que fez aquele vídeo tem o meu telefone, estive na casa da pessoa. Há poucos dias essa pessoa me ligou pedindo ajuda para resolver um problema pessoal, que não vem ao caso, me mandou mensagem no meu WhatsApp particular. Poderia também ter me ligado para tentarmos entender qual é o problema”, completou.
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Exoneração
Recentemente, uma irmã de Marcone Oliveira foi exonerada da Prefeitura de Ipatinga. Questionado sobre o tema, Gustavo Nunes disse não acreditar que a postura do médico seja uma retaliação à exoneração.
“A irmã do médico foi exonerada recentemente pela Prefeitura, mas eu, particularmente, me recuso a acreditar que a ação dessa pessoa foi motivada pela exoneração da irmã dele. Acho que talvez ele tenha sido mal orientado na questão técnica/jurídica”, disse.
A reportagem da DeFato também buscou contato com o advogado de Yuri e Naiara Pimentel, identificado como Renê, mas não obteve retorno.