Indústria defende regulamentação de serviços de reuso de água de esgoto
Segundo estudos da CNI, para ser viável economicamente as centrais de tratamento de esgoto precisam estar situadas em, no máximo, um raio de 13 quilômetros de polos industriais
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) defende que regulamentação de serviços de reuso de água de esgotos crie ambiente seguro e atrativo para novos negócios. Entre as propostas da indústria está a previsão de projetos de reuso de água em planos de expansão de serviços de saneamento básico. Segundo estudos da CNI, para ser viável economicamente as centrais de tratamento de esgoto precisam estar situadas em, no máximo, um raio de 13 quilômetros de polos industriais. “É preciso ainda incluir no rol de serviços de saneamento básico o abastecimento de águas por fontes alternativas, como a de reuso”, completa a diretora de Relações Institucionais da CNI, Mônica Messenberg.
Outra medida defendida pela CNI é que o serviço de reuso de água, quando realizado no mesmo terreno, não deve ser considerado serviço público. Apesar de não estar regulamentada, a prática de reuso de água é cada vez mais disseminada no setor industrial brasileiro. O exemplo clássico é o da Aquapolo, que fornece 650 litros por segundo de água de reuso para o polo petroquímico da Região do ABC Paulista. Isso equivale ao abastecimento de uma cidade de 500 mil habitantes. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a BRK Ambiental e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
Experiências de reuso de água dentro da mesma planta industrial são mais comuns no Brasil. “Se ainda há insegurança jurídica para esse tipo de projeto dentro do próprio terreno, imagine para iniciativas maiores, que envolvem polos industriais. O incentivo ao uso da água residual contribui significativamente para a segurança hídrica e, por isso, precisamos avançar rapidamente nessa regulamentação”, destaca Mônica.
Gestão Hídrica
A produtora de aço ArcelorMittal reutiliza cerca de 97% da água de seus processos em todas suas unidades no Brasil. Desde a sua consolidação em 2006 – a partir da fusão da Mittal Steel Company e da Arcelor – a empresa considera os recursos hídricos como uma das questões centrais nas estratégias de sustentabilidade e estabilidade operacional para sua produção. No entanto, a crise hídrica de 2014 intensificou essa atenção e, desde 2015, a indústria conta com Planos Diretores de Águas para todas suas unidades no Brasil.
Como exemplo, na unidade de Tubarão, cerca de 95% da água consumida no processo é proveniente do mar e para resfriamento de equipamentos (depois devolvida ao oceano, sem entrar em contato direto com nenhum outro material). Mesmo assim, era necessário descobrir formas de administrar e racionar os outros 5%, provenientes do Rio Santa Maria da Vitória.
“Transformamos uma ameaça em oportunidade”, resume o gerente geral de sustentabilidade da ArcelorMittal Brasil, Guilherme Abreu. Foi criada, assim, uma equipe técnica multidisciplinar para estudar mais pontos de redução de consumo de água doce a partir da identificação de novas fontes. A medidas adotadas incluíram uso de produtos químicos para substituir a aspersão com água nas pilhas de carvão e minério, estação de reuso interno de água, aumento dos índices de recirculação nas torres de resfriamento, identificação de vazamentos nas redes de distribuição e uso de água e instalação de redutores de vazão em locais para consumo humano.
Também foi diversificada a origem das fontes de água contando com participação de águas subterrâneas. E no médio e longo prazo deverão ser implantadas ações para dessalinização de água do mar bem como reuso de efluentes externos.
Redução no consumo
Outra iniciativa de reuso de água foi realizada na Grendene, empresa do segmento de fabricação de calçados plásticos. A empresa conta com mais de 20 mil funcionários e possui quatro unidades – além de Farroupilha (RS), em Fortaleza, Sobral e Crato (todas no Ceará).
Apesar de estarem em extremos opostos do país, as quatro unidades ficam igualmente em regiões onde os rios estão enquadrados como críticos ou muito críticos em relação à demanda e disponibilidade de água. As unidades cearenses, inclusive, estão na área de menor vazão média de água por habitante no país, segundo a Agência Nacional das Águas (ANA).
Em 2015, a companhia estabeleceu a meta de que, até 2020, todo efluente gerado nas quatro unidades fabris será reutilizado. Naquele mesmo ano deu início aos primeiros estudos para implantar sistemas de adequação para reutilização dos efluentes tratados. No ano seguinte, o reuso de água começou parcialmente, com 36% dos efluentes tratados sendo usados em descargas de banheiros e na irrigação de jardins.
Desde então, esse percentual vem subindo gradativamente e refletindo no consumo. Em 2018, chegou a quase 49%. Antes do projeto, cerca de 1 litro de água era descartado por par produzido. Desde o início do reuso, esse número caiu para uma média entre 0,59 e 0,48 por par produzido. (Fonte CNI)