Dormir e viver bem
Durante o sono, o médico monitora o paciente e colhe informações para realização do laudo técnico
Boa noite! Essa saudação pode soar um tanto quanto irônica, dependendo da circunstância e para quem é dirigida. Isso em função de problemas que os especialistas denominam “distúrbios do sono”. A Medicina do Sono surgiu na década de 1960, com a polissonografia, exame voltado para analisar a qualidade do sono do paciente e que hoje ajuda os médicos a diagnosticar problemas que infernizam a vida daqueles que têm dificuldades para dormir. Em 2011, a Medicina do Sono foi reconhecida no Brasil pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) como área de atuação dentro das especialidades de Otorrinolaringologia, Pneumologia, Psiquiatria e Neurologia. Esses médicos estão aptos, após cursos de especialização, a fazer a polissonografia nos pacientes, exame capaz de identificar os distúrbios.
Entre eles, especialistas apontam apneia, ronco, insônia, sonolência excessiva, narcolepsia, pesadelo, terror noturno, sonambulismo, enurese noturna, síndrome das pernas inquietas e bruxismo noturno como os que mais acometem a população no mundo (ver box). Dentre todos esses, os tipos mais comuns são ronco e a apneia, distúrbio no qual a respiração cessa por determinados momentos.
Em João Monlevade, o aposentado J.E.P.G., de 62 anos, sabe o que é ter noites mal dormidas. Por dez anos conviveu com o incômodo provocado pelo próprio ronco e a apneia. Ele iniciava o sono sem dificuldades, entretanto, acordava várias vezes durante o período, inconscientemente. “Meu sono me sufocava”, recorda. Por isso, o seu problema não foi difícil de ser diagnosticado. Ele conta que sua esposa percebeu outros sintomas e o alertou.
Além do desconforto noturno, havia também o diurno. JEPG garante que os seus distúrbios causaram transtornos no relacionamento afetivo-sexual e produtividade no trabalho. “Muitas vezes cochilei ao volante. Dormia em reuniões, cinema, teatros… Televisão nem pensar! Não tinha vida social”, revela o paciente.
O aposentado demorou um tempo até encontrar um tratamento adequado. A polissonografia selou o diagnóstico: a apneia foi qualificada de nível grave. A cura foi tentada por meio de cirurgia, mas sem sucesso. Há cinco anos, o paciente encontra-se em tratamento pelo uso de Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas (CPAP), que é uma máquina com uma máscara anexada à boca e ao nariz que tem a função de impedir o ronco e a apneia. Enquanto dorme, o aparelho injeta ar sob pressão nas vias respiratórias do paciente. “Onde vou ele me acompanha, tenho um em casa e outro no sítio”, afirma.
A vida do aposentado mudou com o tratamento. Feliz, ele diz que hoje é possível dormir na mesma cama que a esposa e os filhos perceberam melhoras em seu comportamento, com mais disposição e bom humor. “Para mim, esse aparelho foi a invenção do século. Devolveu meu prazer de viver e com saúde”, comemora. O que muita gente não sabe é que a doença pode levar ainda a hipertensão arterial, distúrbios psiquiátricos, acidente vascular cerebral dentre outros. Por isso, o melhor é não protelar uma solução quando os primeiros sintomas surgirem.
TRATAMENTO
Segundo explica o médico cirurgião e otorrinolaringologista, Guilherme Schmitt Martins, especialista em Medicina do Sono, a polissonografia registra o número de vezes em que o paciente parou de respirar enquanto dormia.
A análise do exame classifica o nível da apneia em leve, moderada ou grave. “Para quem não fez o exame, a informação do companheiro é muito importante. Pela manhã, o cônjuge lembrará muito bem das pausas respiratórias do outro durante a noite. Se você dorme sozinho, deixe um gravador ligado.”, orienta Schmitt, que recomenda aos pacientes até mesmo gravações pelo celular.
O especialista explica que a cirurgia trata tanto casos leves como moderados. Para casos de apneia leve, há um dispositivo intraoral (um aparelho dentário, que mantém a mandíbula deslocada para frente). Já para os casos mais acentuados, o CPAP é o único tratamento. “O ronco isolado, sem apneia, pode ser tratado da mesma forma. o importante é saber que para a apneia obstrutiva do sono não existe tratamento por medicamento nem tratamentos milagrosos, como fitas adesivas colocadas sobre o nariz.”, esclarece.
Efeito da modernidade
A Drª. Janaína Couto Vieira Lage é a referência em distúrbios no sono em Itabira. A médica Otorrinolaringologista, pós-graduada em Medicina do Sono em São Paulo, é a responsável pelo Laboratório do Sono no Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD). Com a segurança oferecida pelo ambiente hospitalar, são realizados exames de polissonografia e a titulação para o CPAP, sendo este uma opção de tratamento para a apneia obstrutiva do sono.
Segundo a médica, dormir bem é sim uma questão social, pois interfere diretamente em como será o dia seguinte da pessoa. “Estamos dormindo cada vez menos e não é só por causa das doenças relacionadas ao sono. Hoje em dia, recebemos estímulos a todo o momento e acabamos deixando para deitar cada vez mais tarde ou acordar cada vez mais cedo”. A especialista explica que muitas pessoas podem ter distúrbios do sono e nem saber. Por isso, tanto paciente quanto acompanhante devem se lembrar da doença em caso de sintomas durante o dia e também à noite.
O auxílio médico é fundamental para o diagnóstico dos quadros suspeitos, apontando o momento ideal para a realização da polissonografia. “A síndrome da apneia obstrutiva do sono tem diagnóstico e tratamentos bem definidos, variando de acordo com a gravidade do quadro. Se não tratada, pode facilitar a ocorrência de acidentes de trabalho, de trânsito e até provocar mortes. Precisamos valorizar mais o nosso sono!” .
Diante dos efeitos da correria do dia a dia, cabe a cada um repensar os seus hábitos e atitudes. Afinal, dormir bem é sinônimo de viver bem.