Parto normal ou cesárea?
Se você for mulher, imagine ter 14 filhos de parto normal, 13 deles em casa, com parteira. Assim vieram ao mundo os filhos de Terezinha Fonseca, de 74 anos. Hoje em dia, fatos como esses são raros. As mulheres, cada vez mais modernas e independentes, procuram ter filhos de forma rápida, segura e, se possível, […]
Se você for mulher, imagine ter 14 filhos de parto normal, 13 deles em casa, com parteira. Assim vieram ao mundo os filhos de Terezinha Fonseca, de 74 anos. Hoje em dia, fatos como esses são raros. As mulheres, cada vez mais modernas e independentes, procuram ter filhos de forma rápida, segura e, se possível, sem dor alguma. Por esse motivo, a escolha do parto por cesárea é frequente.
As estatísticas em relação à quantidade de partos desse tipo preocupam a Organização Mundial de Saúde (OMS). A entidade recomenda que o procedimento não ultrapasse 15% dos partos realizados. Segundo dados mais recentes do Ministério da Saúde (2010), 52% dos partos no Brasil foram cirúrgicos. Na rede privada, a porcentagem chega a 82% contra 37% na pública. Em Itabira, na maternidade do Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD), de janeiro a dezembro de 2011, foram realizados 1.010 partos por cesárea e apenas 937 partos normais, número que reflete a média nacional.
Apesar desses índices, os médicos continuam recomendando o parto normal, por ser mais seguro, tanto para a mãe quanto para o bebê. “Embora, atualmente, a cesariana seja uma intervenção realizada com segurança, é uma cirurgia e, por isso, tem maior índice de complicações (infecções, hemorragias, hematomas, lesão de órgãos etc.) e de mortalidade que um parto normal, tanto para a mãe quanto para o filho”, explica o ginecologista e obstetra do HNSD, Marcos Aurélio de Oliveira. O médico lembra que o risco de morte materna em uma cesárea é 3,5 vezes maior do que em um parto normal.
Já o ginecologista e obstetra Duval Guimarães Camilo chama a atenção para o fato de 80% dos partos ocorrerem em hospitais públicos. “Na rede pública, a incidência de parto normal é bem maior. Entre os 20% de mulheres que optam em fazer partos pela rede privada, a incidência de cesariana predomina em cerca de 80%”, compara o médico. “A cesariana, na maioria das vezes, é realizada por indicação médica. Porém, atualmente é aceito que a mulher escolha o procedimento. O melhor tipo de parto é o que atenda às necessidade naquele momento”, complementa Duval.
Sem escolha
Após um parto por cesárea, a mulher precisa ficar 48 horas no hospital. Em um parto normal, o período seria de 24 horas. Mas, independentemente da preferência da paciente, em alguns casos não há opção, a não ser o parto cirúrgico. De acordo com Marcos Aurélio, o desenvolvimento de cada caso e as condições gerais da mãe e do bebê definem o procedimento ideal. “Existem indicações absolutas e relativas para a realização da cesárea. Trata-se de um procedimento importante para salvar a vida da mãe e do bebê quando uma delas ou as duas estão em risco”, explica o ginecologista e obstetra.
As indicações absolutas mais tradicionais são: desproporção céfalo-pélvica (quando a cabeça do bebê é maior do que a passagem da mãe); placenta prévia (quando a placenta implanta-se no fundo do útero), hemorragias no fim da gestação; ocorrência de doenças hipertensivas na mãe específicas da gravidez; bebê transverso (atravessado) e sofrimento fetal.
Duas cesáreas anteriores também são indicação para que o próximo parto seja cirúrgico. A ocorrência de diabetes gestacional, ruptura prematura da bolsa d’água e bebê com trabalho de parto prolongado são outras indicações relativas para a cesariana.
A advogada itabirana Viviane Gonzaga, 31, teve seus dois filhos, Vitor, 7, e Ana Beatriz, 2, por cesárea. Ambos por indicação absoluta, pois nas duas gestações os bebês estavam sentados. Ainda que tivesse escolha, ela diz que passar por um parto normal estaria fora de cogitação. “A minha primeira gravidez foi planejada e, desde o início do pré-natal, optei pela cesariana. Eu não queria ter parto normal porque tenho medo. Se fosse mãe novamente, optaria por outra cesárea. Tive operações bem sucedidas e não me arrependo”, conta a mãe.
Comodidade
Receios como os de Viviane inspiram cada vez mais partos por cesárea nas clínicas e hospitais. De acordo com Marcos Aurélio, em seu consultório, cerca de 80% das pacientes optam por cirurgia. “Há mulheres que ainda nem engravidaram e já falam que só vão ter filho se for cesariana. Esse tipo de procedimento vem tomando uma proporção fora do normal. O grande vilão dos partos normais são os conceitos de que são dolorosos. Se não fosse isso, teríamos mais partos assim hoje. Acredito que as campanhas do Ministério da Saúde devem ser intensificadas para mostrar as vantagens de se ter um filho pelo método natural”, diz o obstetra.
Se o problema é a dor sentida no parto normal, atualmente já existe o recurso da anestesia, para que a mulher dê a luz com mais conforto. O procedimento pode ser usado assim que as queixas de dor ou desconforto excessivo se intensificam. “No consultório, o que podemos fazer é explicar à paciente os prós e os contras de se ter uma cesárea ou um parto normal. Mas, como a maioria já chega com a opinião formada, dificilmente ela é mudada a partir das orientações médicas. Inclusive, tenho um termo de consentimento que algumas pacientes assinam, por conta das complicações que podem surgir”, explica Marcos Aurélio.
A possibilidade de agendar a data em que o filho virá ao mundo é um fator que muitas mulheres consideram, por gerar comodidade. Cômodo ou não, para Terezinha, a mãe de 14 filhos por parto normal citada no início da reportagem, esse é o melhor jeito de se conceber uma criança, principalmente, pela recuperação mais rápida do que na cesariana, que pode durar até 40 dias. Ela se casou aos 16 anos e aos 17 estava grávida do primeiro filho (hoje com 55 anos). Quem auxiliava o nascimento das crianças era a própria mãe, Maria Monteiro, conhecida parteira do Campestre, bairro onde viviam em Itabira. Em alguns casos, a ajuda vinha da sogra Maria José. “Durante cada gravidez, fui ao hospital somente para fazer exames, mas quis ter os meus filhos em casa. Três dias após o nascimento, já retomava as atividades habituais”, recorda.
No entanto, é necessário lembrar que os médicos recomendam o contrário do que fez Terezinha: recorrer a um hospital e realizar o pré-natal.
Seja por cesárea ou parto normal, o importante é que a mulher esteja consciente dos riscos, vantagens e desvantagens de cada procedimento. Afinal, o mais comum é que nove meses de expectativa sejam recompensados por uma vida inteira.
Pré-natal
O pré-natal é um processo imprescindível durante a gravidez. É por meio dele que são diagnosticados males importantes, como diabetes gestacional, pré-eclampse, má formação do feto e algumas patologias, caso do HIV, da toxoplasmose, entre outros. No pré-natal é que se define se a mulher tem gravidez de risco habitual ou de alto risco. E, consequentemente, é por ele que se torna possível saber se há indicação para uma cesárea ou se a mãe poderá esperar a concepção do filho de forma natural. Na primeira gestação, o trabalho de parto normal pode durar de oito a doze horas. Já na segunda, esse tempo é reduzido, em média, para 6 horas.