Cuidar do corpo, curar a alma
Minha técnica é um conjunto de várias visões adquiridas. Vi o trabalho de cirurgiões de ponta e peguei um pouquinho de cada um
Na tarde de 10 de junho, a reportagem de DeFato, enfim, encontrou uma brecha na movimentada agenda do doutor André Miolo, que, desde fevereiro deste ano, passou a prestigiar Itabira com um serviço de alto nível em cirurgia plástica. O simpático médico – que costuma operar ao som de Frank Sinatra – traz na bagagem as melhores notas em concursos e provas de especialização e a experiência de já ter trabalhado ao lado dos melhores cirurgiões do país. Enquanto falava sobre os procedimentos, mostrou vídeos e até convidou nossa equipe para acompanhar uma cirurgia ao vivo (o que não foi possível antes do fechamento desta edição). Quatro dias depois da entrevista, recebemos uma nova notícia: acabara de passar em primeiro lugar no mestrado em Cirurgia da Santa Casa, de Belo Horizonte, no qual desenvolverá tese sobre cicatrização patológica (queloides e cicatrizes hipertróficas).
O entusiasmo pela profissão vem desde a infância. “Ainda no colégio, já tinha certeza do curso que faria. Tenho até bilhetes de colegas de classe endereçados ‘ao meu futuro cirurgião plástico’”, conta. A dedicação, segundo o médico, é uma consequência da paixão pelo ofício que ele considera um dom.
O cirurgião já operou a mãe e a noiva. Ele mesmo, não sofreu nenhuma intervenção. “Sou bastante ligado a atividade física e não achei necessário ainda. Daqui a algum tempo, quem sabe…”
Nesta entrevista, doutor André fala sobre a importância da confiança entre cirurgião e paciente, dos desafios e responsabilidades da profissão e ainda faz um alerta àqueles que pretendem melhorar a estética: só aceite ser operado por um especialista membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Por que escolheu morar e trabalhar em Itabira?
Durante minha formação, conheci Itabira fazendo plantões no HNSD como cirurgião geral, fui bem recebido e gostei muito do povo da cidade. Quando me formei, procurei o doutor Dennis Drummond Avelino (cirgião plástico que reside em Itabira) que apoiou minha vinda para Itabira. Tive propostas para ir para outros estados ou ficar na capital, mas não aceitei pois enxergava em Itabira uma cidade próspera e em pleno desenvolvimento. No momento, está sendo espetacular, acima das expectativas. Tenho muitos amigos na cidade e pretendo ficar pelo resto da vida, se Deus quiser.
Como anda o ritmo de atendimento em seu consultório?
Até meados do mês de agosto, a agenda está lotada. Faço uma média de três cirurgias por semana e reservo os outros dias para atendimento nos consultórios. A demanda é bem grande em Itabira. Além disso, atendo pacientes de fora da cidade: Ipatinga, Coronel Fabriciano, Guanhães, João Monlevade e até do Espírito Santo.
A demanda se deve às indicações de pacientes, certo?
Sim, mas é importante que não se escolha este ou aquele cirurgião pelo fato de ele ser famoso ou barato. Em primeiro lugar, consulte se ele é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). É só acessar o site: www.cirurgiaplastica.org.br. Se o nome dele não estiver lá, não opere porque ele não é cirurgião plástico. Dos quase quatro mil médicos que se formam no Brasil, anualmente, somente 83 terão chances de ser cirurgiões plásticos. É uma quantidade pequena, mas a SBCP está mais interessada em qualidade, não em quantidade.
A cirurgia plástica vem se tornando mais acessível à população?
Os custos vêm caindo muito nos últimos anos sim, mas nunca será um procedimento barato. Grande parte dos materiais é importada, como próteses, fios e aparelhos. Isso, infelizmente, encarece esse tipo de cirurgia. É preciso tomar muito cuidado com ofertas e promoções: saúde não se trata assim. Às vezes, o barato sai caro e paga-se dobrado ou triplicado para consertar o que não foi feito corretamente.
Há alguma peculiaridade quanto ao público de Itabira e região?
Adolescentes muito jovens e pessoas da terceira idade têm me surpreendido. Pessoas já idosas querendo colocar prótese, fazer lipoaspiração e abdominoplastia. Homens também têm procurado bastante.
A cirurgia plástica é indicada para quem?
Para quem quiser fazer. Porém, em primeiro lugar, o paciente tem que estar bem de saúde. Quem tem diabetes ou pressão alta, por exemplo, deve primeiro tratar. Depois que estiver tudo controlado, aí sim, será um paciente adequado para ser submetido à cirurgia plástica. A exceção são os fumantes. Pessoas que fumam um ou mais maços de cigarros por dia têm os riscos cirúrgicos elevados, não apenas para a plástica. Nesses casos, se o paciente não interromper o vício dois meses antes da cirurgia, não opero.
E os pacientes acima do peso?
Não é uma contra indicação. Explico sempre que se eles estão acima do peso, os resultados não vão ser tão bons como se estivessem com o peso normal. Eles entendem e voltam mais magros. Atendi a uma mulher que perdeu 25 kg em apenas três meses, para ser operada. Ela nem tomou remédio, só passou a fazer exercícios e se alimentar melhor. A cirurgia foi sua motivação.
A lipoaspiração é a cirurgia mais procurada?
É uma das mais procuradas, mas ainda existe muito receio por parte dos pacientes. É preciso esclarecer que a lipoaspiração, desde que realizada por especialistas, é segura. Se forem feitos todos os exames pré-operatórios, ela tem tudo para correr bem. Muitas vezes, as pacientes querem o resultado imediato. Existe um período de inchaço para depois chegar-se à forma desejada.
Lipo emagrece?
Logicamente, ao se retirar um volume grande de gordura, isso pode se refletir em uma pequena perda de peso, mas isso não é a principal linha de raciocínio da operação. A intervenção trata da forma e dá estímulo para que a pessoa a mantenha. Ela é indicada para melhorar a silhueta. Infelizmente, não existe nada na medicina que promova emagrecimento rápido e com saúde ao mesmo tempo. Nos emagrecimento rápidos, principalmente às custas de medicação, parte da gordura poderá se armazenar no fígado trazendo consequencias indesejadas (esteatose hepática). O emagrecimento mais adequado é o lento, seguro e acompanhado por nutricionista e atividade física.
Qual o procedimento mais difícil de se fazer?
Certa vez, em um congresso, fizeram essa mesma pergunta ao professor Ivo Pitanguy. Todos pensaram que responderia: a de nariz. Mas ele, surpreendentemente, disse que é a redutora de mama, explicando em seguida: “Porque fazer uma mama é fácil, difícil é fazer a outra igual”. Compartilho da mesma opinião: a plástica de mama é mesmo uma arte.
Você acha importante dominar todas as modalidades de cirurgia plástica?
Absolutamente. Durante toda a formação cirúrgica (dois anos em cirurgia geral e três em cirurgia plástica), somos moldados vendo, fazendo, aprendendo e discutindo as mais diversas técnicas cirúrgicas. A gente convive com cirurgiões experientes e vai “pescando” tudo. Minha técnica cirúrgica, por exemplo, é um conjunto de varias visões, adquiridas no período em que eu auxiliava cirurgiões experientes. O caráter cirúrgico é moldado através de muito treino.Trabalhei com cirurgiões de ponta, renomados nacional e internacionalmente, e peguei um pouquinho da técnica de cada um. Quanto mais operações você faz – tanto em quantidade quanto diversidade, mais preparado você é.
Em cirugia plástica, fala-se muito em estética e se esquece da reconstrutora. Você realiza as duas?
Sim, e a reconstrutora é um desafio. Operar um lábio leporino, por exemplo, que às vezes envolve todo o céu da boca, é prevenir que uma criança morra por complicações na hora de alimentar-se. O professor Ivo Pitanguy ficou famoso tratando pacientes do incêndio do grande circo de Niterói, há 50 anos. Suas técnicas foram reabilitando dezenas de pessoas com o tempo. É um processo demorado e difícil, porém, muito gratificante. Nos hospitais, pede-se muito a avaliação do cirurgião plástico para reconstruções. Itabira tem muito acidente de moto. Às vezes, o paciente tem uma fratura exposta na perna e, nesse local, a cicatrização é muito ruim. Há feridas que só mesmo técnicas de cirurgia plástica são capazes de fechar. É uma área que me dá uma satisfação pessoal incrível.
Qual é o segredo para um relacionamento sadio entre médico e paciente?
O segredo é confiar no cirurgião. É fundamental manter um diálogo franco, ou seja, falar com o paciente das suas reais necessidades. Aparecem mulheres que acham que os seios estão pequenos, quando na verdade estão lindos. Nesse caso, não opero. Já mandei pacientes de volta para a casa. Existe, claro, o desejo do paciente. Mas acima dele há a indicação cirúrgica. Em alguns casos, essa última não existe.
Os pacientes costumam depositar todas as suas expectativas de felicidade na operação estética?
Muitas vezes, eles acham que a operação resolverá todos os problemas. Às vezes ouço: “Meu casamento está horrível, eu preciso dar um jeito”. Explico que vou torná-la mais atraente, mas o casamento não depende só da atração física. É preciso diferenciar as coisas. O que a operação plástica faz é devolver a autoestima e a disposição. Muitas vezes, a paciente precisa de um tratamento psicológico e não de plástica. Em contrapartida, veja que fato interessante: alguns psiquiatras mandam pacientes para a cirurgia plástica e é comprovada a dimunição da ingestão de medicamentos antidepressivos depois da intervenção. Já vi mulheres tímidas e complexadas que mudaram totalmente após colocar uma próetese de silicone. A depressão é o câncer da alma. A plástica trata o corpo, mas pode curar também a alma.
Fazer cirurgias requer uma responsabilidade imensa, certo?
Os profissionais da medicina têm uma responsabilidade fora do normal. Em nenhuma outra profissão lida-se com escolhas tão importantes o tempo todo: “Vou recomendar esse ou aquele remédio? Quem deve ocupar uma última vaga no CTI: um senhor de 98 anos ou um menino de 18?” Mas a responsabilidade do cirurgião plástico é ainda maior. Isso porque o paciente é diferenciado, já que não tem problemas de saúde (no caso da cirurgia estética). Não é qualquer médico que pode ser cirurgião plástico. Passar no vestibular de medicina é difícil, mas passar na residência de cirurgia plástica é ainda pior. A maioria dos hospitais oferece apenas uma vaga. Não basta só querer, exige anos de estudo e muita dedicação.
Você tem um website muito visitado. Fale sobre ele.
O site já estava montado na minha cabeça há três anos, mas não poderia colocá-lo no ar enquanto não obtivesse o título de especialista. Apesar do pouco tempo, já se tornou referência para meus pacientes. Traz explicações detalhadas sobre as cirurgias, fala sobre mim e há um espaço para depoimentos. Eu mesmo o atualizo, respondo a todos os comentários e e-mails que recebo. Não publico todos, mas respondo 100%. O endereço é www.andremiolo.com.br e convido todos a acessarem. Inclusive, comentários sobre essa entrevista serão muito bem-vindos…
André Miolo nasceu em Andradas, no sul de Minas Gerais. Formou-se médico pela Universidade Severino Sombra (RJ), em 2005. Fez residência em Cirurgia Geral no Hospital Universitário Sul-Fluminense. É especialista em cirurgia geral pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), Associação Médica Brasileira (AMB) e Conselho Federal de Medicina (CFM). Em 2008, foi aprovado em 1º lugar geral no concurso da Fundação Educacional Lucas Machado (Feluma), da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCCMG) para a especialidade de Cirurgia Plástica. Foi admitido, então, no Hospital Belo Horizonte. É especialista pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), título conquistado este ano com a maior nota de Minas Gerais e a segunda maior do Brasil. Foi aprovado em 1º lugar para um mestrado em Cirurgia na Santa Casa, em Belo Horizonte. Em Itabira, é membro do corpo clínico do Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD) e do Hospital Carlos Chagas (HCC). Atende também em consultório na Clínica Haydée. Acaba de colocar seu site no ar: www.andremiolo.com.br