Nem salário de R$ 23 mil atrai médico em Jacinto, no Vale do Jequitinhonha
LUIZ COSTA Na Região Hospitalar de BH, ambulâncias de várias partes do estado trazem pacientes A falta de médicos no interior de Minas está obrigando os prefeitos a oferecer salários nos mesmos patamares dos que são pagos a executivos de grandes empresas. Em Jacinto, a 781 quilômetros de Belo Horizonte, no Vale do Jequitinhonha, […]
LUIZ COSTA
Na Região Hospitalar de BH, ambulâncias de várias partes do estado trazem pacientes
A falta de médicos no interior de Minas está obrigando os prefeitos a oferecer salários nos mesmos patamares dos que são pagos a executivos de grandes empresas. Em Jacinto, a 781 quilômetros de Belo Horizonte, no Vale do Jequitinhonha, a prefeitura paga R$ 23.800 mensais para um anestesista trabalhar no Hospital Bom Pastor, o único da cidade, que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Conforme o HOJE EM DIA revelou com exclusividade no sábado (12), na Região do Vale do Jequitinhonha, uma das mais pobres de Minas, há um médico para 2.447 moradores, índice 11 vezes menor do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – que é de um profissional para cada grupo de 215 pessoas.
O salário de anestesista oferecido em Jacinto é quase três vezes maior do que o pago ao prefeito Carlos Dantez Ferraz (PMDB). Mesmo assim, a vaga está em aberto há dois meses. “Os médicos preferem ganhar cerca de R$ 3 mil nas grandes cidades em vez de virem para Jacinto, onde o menor salário da categoria é de R$ 12 mil. As pessoas não querem trabalhar em locais pobres, longe das grandes cidades”, reclama Ferraz.
O salário de anestesista em Jacinto é o maior pago a um profissional em Minas, conforme consta no site Catho, um dos maiores do Brasil em recrutamento. Na mesma cidade, há uma vaga de ortopedista, aberta há dois meses, com salário de R$ 19 mil. A dificuldade para encontrar alguém é a mesma.
Com a falta de médico, a prefeitura é obrigada a comprar ônibus, vans e ambulâncias para levar os pacientes a outras cidades onde há infraestrutura. Segundo o prefeito, são seis veículos e um ônibus que sempre estão levando pacientes para Teófilo Otoni e Belo Horizonte. Mesmo com uma frota grande, Ferraz lembra que muita gente fica na fila.
“Só conseguimos pagar salários altos porque seis prefeituras criaram um consórcio intermunicipal. Cada município contribui com uma parte, além de um complemento que é pago pelo Hospital Bom Pastor”, explica o prefeito de Jacinto.
Em Chapada do Norte, a 550 quilômetros de Belo Horizonte, também no Vale do Jequitinhonha, são três vagas para médico em aberto no Programa Saúde da Família (PSF), com salários de R$ 11.800. Com o menor Índice de Desenvolvimento Humanos (IDH) do Estado, as vagas no município não são preenchidas desde fevereiro.
Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), a tendência é que o IDH seja mais baixo nos países onde há mais habitantes por médico. Ainda segundo o conselho, não há escassez de médicos no Brasil, e sim uma má distribuição dos profissionais pelo território nacional. Entre 2000 e 2009, a quantidade de médicos aumentou 27%, de 260.216 para 330.825.
No mesmo intervalo de tempo, a população brasileira cresceu aproximadamente 12%, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2000, havia no país um médico para cada grupo de 658 habitantes. Em 2009, a situação passou a ser de um médico para 578 habitantes.
Em Minas, são 34.324 médicos, uma média de um para 587 pessoas. Em Belo Horizonte, essa proporção é de um profissional para 172 habitantes. Segundo o CFM, na capital são 14.195 médicos, 41% do total no estado. Nos Estados Unidos, para cada médico são 411 pessoas e, em Cuba, referência na medicina, para cada profissional são 166 pacientes.