Sociedade Brasileira de Pediatria alerta para a intoxicação digital das crianças e adolescentes
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acaba de divulgar o Manual de Orientação “Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes”. O documento alerta para um dos grandes perigos da atualidade ao que o público infantil está exposto: a “intoxicação digital”. Brasil é um dos campeões mundiais em tempo de permanência na rede: está em […]
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acaba de divulgar o Manual de Orientação “Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes”. O documento alerta para um dos grandes perigos da atualidade ao que o público infantil está exposto: a “intoxicação digital”. Brasil é um dos campeões mundiais em tempo de permanência na rede: está em terceiro lugar, já que o internauta brasileiro fica, em média, nove horas e 14 minutos por dia conectado. O número, levantado pela Hootsuite e We Are Social, coloca o país atrás apenas de Tailândia (com nove horas e 38 minutos) e Filipinas (com nove horas e 24 minutos).
“Tanto crianças e adolescentes quanto seus responsáveis passam boa parte do tempo imersos no mundo digital, em exposição crescente a publicidade e conteúdos tóxicos, violentos ou inadequados, o que produz efeitos impressionantes na convivência e na saúde física e mental, além da perda de contato com o mundo real e com as relações presenciais, gerando maior propensão ao sedentarismo, à obesidade e suas consequências”, ressalta o manual.
O documento foi elaborado pelo Grupo de Trabalho em Saúde e Natureza. A publicação tem como objetivo fornecer orientações para pediatras, educadores e famílias sobre a importância do convívio junto ao meio ambiente para a saúde e bem-estar da população pediátrica. Segundo a SBP, a vida ao ar livre é um dos melhores antídotos contra a intoxicação digital que ameaça as crianças e adolescentes. “Busque o uso equilibrado de dispositivos digitais na sua vida pessoal e no dia a dia do seu filho, e incentive- -o a brincar ao ar livre o maior tempo possível, pois o hábito de brincar sem telas vai auxiliá-lo a encontrar o equilíbrio entre o uso saudável da tecnologia e a conexão com o mundo natural”, recomenda.
De acordo com a presidente da SBP, dra. Luciana Rodrigues Silva, apesar da literatura médica já reconhecer os benefícios obtidos através de brincadeiras, atividades de lazer e aprendizado ao ar livre, há cada vez menos oportunidades para a população pediátrica usufruir desse direito universal nas cidades brasileiras. Para a pediatra, é necessário refletir sobre o modo de vida que tem sido proporcionado às crianças.
“Existem diversos avanços relacionados à infância e adolescência no Brasil, como o aumento da escolaridade e o combate à exploração do trabalho infantil. No entanto, não podemos deixar de considerar que os efeitos da urbanização, entre eles, o distanciamento da natureza, a redução das áreas naturais, a poluição ambiental, bem como a falta de segurança e de qualidade nos espaços públicos ao ar livre, levam a população a passar a mais tempo em ambientes fechados e isolados”, alerta a especialista.
O Manual de Orientação da SBP aponta diferentes fatores determinantes para a ampliação desse contexto de confinamento, entre eles a atual dinâmica familiar; a falta de planejamento e mobilidade urbana; o excesso do uso de equipamentos eletrônicos; o consumismo; a violência e a sensação de insegurança; além da precária conservação da natureza.
Segundo o documento, um amplo conjunto de pesquisas relacionam a falta de oportunidades de brincar e aprender junto à natureza com o aumento da prevalência de problemas de saúde entre crianças e adolescentes, como obesidade, hiperatividade, baixa motricidade, falta de equilíbrio, pouca habilidade física, miopia, doenças cardiovasculares e síndrome metabólica.
Benefícios
Evidências científicas demonstram que o convívio com a natureza, desde a infância, melhora o controle de doenças crônicas – como diabetes, asma e obesidade –, diminui o risco de dependência ao álcool e a outras drogas, favorece o desenvolvimento neuropsicomotor e reduz os problemas de comportamento. Além disso, proporciona bem-estar mental, equilibra os níveis de vitamina D e diminui significativamente o número de visitas ao médico.
“O contato com a natureza ajuda também a fomentar a criatividade, a iniciativa, a autoconfiança, a capacidade de escolha, de tomar decisões e resolver problemas, o que por sua vez contribui para o desenvolvimento de múltiplas linguagens e a melhora da coordenação psicomotora”, enfatiza a publicação.
Recomendações
No documento, a SBP reuniu uma série de orientações para auxiliar pediatras, educadores e famílias na importante função de reconectar crianças e adolescentes com a natureza e transformar o atual cenário, sendo as principais:
- Aconselhar e recomendar o acesso diário a no mínimo uma hora de atividades em contato com a natureza, seja para brincar, aprender ou conviver em contato com o meio-ambiente.
- As escolas e instituições de cuidados devem organizar suas rotinas e práticas de forma a equilibrar o tempo destinado às atividades curriculares com o tempo livre (recreio), a fim de permitir que as crianças e os adolescentes tenham amplas oportunidades de estar ao ar livre.
- O poder público deve garantir que todas as crianças e adolescentes tenham acesso a áreas naturais, seguras e bem mantidas, a uma distância inferior a 2 km de suas residências.
- Os adultos devem compartilhar seu apreço pela natureza e pelas atividades de lazer ao ar livre pautadas pelas relações, pelos encontros, pelo movimento e também pela contemplação e momentos de relaxamento.
- As crianças e adolescentes devem ser orientados a buscarem o equilíbrio no qual tanto o uso da tecnologia como a conexão com o mundo natural prosperem de forma benéfica.