Carlin Filho diz que funcionários da Vale são treinados para enganar e chama gerente da mineradora de “frouxo”

Carlin Filho também disse que a Vale tem olhado para Itabira como “uma esposa velha” e visto o estado do Pará como a “esposa nova”

Carlin Filho diz que funcionários da Vale são treinados para enganar e chama gerente da mineradora de “frouxo”
Foto: Guilherme Guerra/DeFato

O presidente da Câmara Municipal de Itabira, Carlos Henrique Silva Filho “Carlin Filho” (Solidariedade), voltou a fazer duras críticas à mineradora Vale durante a última reunião ordinária do Legislativo, realizada na terça-feira (26). Carlin Filho vem cobrando da empresa maior comprometimento com o desenvolvimento da cidade, especialmente no que diz respeito ao futuro pós-mineração e à compensação pelos impactos causados por décadas de exploração mineral no município. 

Em poucos minutos de fala, o vereador subiu o tom das críticas, dizendo que a Vale tem olhado para Itabira como “uma esposa velha” e visto o estado do Pará (onde estão as cidades mineradoras de Parauapebas, Canaã dos Carajás e Marabá) como a “esposa nova”. Sem parar por aí, Carlin Filho disse que os representantes institucionais da Vale em Itabira “são todos funcionários treinados para enganar os outros” e até mesmo chamou um gerente da empresa de “frouxo” – sem citar nominalmente quem seria. 

As declarações surgiram após colegas comentarem sobre a ida ao Encontro Nacional de Gestores e Legislativos Municipais, onde alguns vereadores intermediaram a vinda de emendas parlamentares para Itabira. Ao iniciar sua fala, o presidente do Legislativo ressaltou a importância de buscar os recursos, mas destacou que além disso é necessário eleger deputados que “reconheçam a realidade” e que vivam o “dia a dia” de Itabira.

Não podemos mais ficar mendigando em emenda parlamentar porque não vai resolver o nosso problema. Nosso problema hoje é muito grande, temos uma barragem que é dez vezes maior que a barragem de Brumadinho”. Neste momento, o vereador disparou: “Eu falo isso com propriedade. Não adianta mandar representante aqui que não conhece nada, que só fica atrás do escritório, atrás de um ar-condicionado e que não sabe nada. Eu trabalhei lá por nove anos e sei o que eu estou falando”.

O peso da fala de Carlin Filho, já nos minutos finais da reunião ordinária, ficou ainda maior quando ele disse:

“Não adianta trazer representantes de relações institucionais, que são todos funcionários treinados para enganar os outros. Nós não seremos enganados mais. Se tiver que trazer o que é relevante, eu vou trazer. E essa pauta vai ser executada em toda reunião para que esse gerente frouxo saia de onde ele está e venha dar explicação para a gente”. 

Carlin Filho, Carlos Henrique Silva Filho
“A gente percebe que a contrapartida da empresa com o município é muito irrelevante em tudo aquilo que ela construiu nas costas do município. Itabira se tornou a esposa velha e a esposa nova agora é o Pará”. Foto: Guilherme Guerra/DeFato

A “palavra aberta” da reunião ordinária da Câmara de Itabira tem gerado debates sobre a chegada do fim da mineração da Vale no município e a ausência de projetos estruturantes para o período pós fechamento das minas de minério de ferro na cidade. Na semana passada o tema foi colocado em discussão pelo vereador Bernardo Rosa (PSB), que já havia tecido críticas à empresa e tem “protestado” da bancada Legislativa afixando um papel onde está impressa a frase: “Por que não em Itabira?” 

A crítica do parlamentar foi uma cobrança direta a ausência de grandes investimentos da Vale em Itabira, ao contrário do que vem ocorrendo em outras cidades mineradoras – sobretudo no estado do Pará. Junto a mensagem, Bernardo Rosa afixou uma notícia sobre o projeto “Novo Carajás”, destinado à expansão da mineração de ferro e cobre nas áreas de exploração da Vale (onde serão investidos R$70 bilhões até 2030) e também, uma matéria referindo a instalação da maior usina de produção de cimento sustentável no mundo, onde os resíduos do Complexo de Carajás serão utilizados como matéria-prima.

“Parece que a Vale tem um olhar diferente para Itabira, um olhar de descaso, de menosprezo, não valorizando aquilo que Itabira foi para a Vale. É que a Vale nada seria se não fosse Itabira”, afirmou Bernardo Rosa, lembrando também que o projeto mais recente da Vale na cidade, trata da ampliação das cavas das minas do Meio e de Conceição – onde a empresa pretende construir uma gigante pilha de estéril.