Chegada de Ancelotti à seleção desperta mais dúvidas do que respostas
O anúncio do treinador italiano soa como uma tentativa desesperada de Ednaldo Rodrigues em se manter no comando da CBF

Após muitas reviravoltas, Carlo Ancelotti foi anunciado como novo treinador da seleção brasileira. Uma história que parecia esquecida, voltou a esquentar e agora finalmente chega a um desfecho.
Nas redes sociais, a reação é, majoritariamente, positiva. E seria difícil imaginar algo diferente. Estamos falando do pentacampeão da Champions League e vencedor das principais competições nacionais da Europa (Inglaterra, Espanha, França, Alemanha e Itália). Poucos na história venceram tanto quanto Carleto.
Porém, mesmo alguém tão conceituado merece uma análise mais profunda. Embora vitorioso, o Real Madrid das últimas temporadas se mostrou, em diversos momentos, um time frágil coletivamente. E isso precisa ser destacado.
As épicas vitórias na principal competição europeia empolgavam fãs de futebol de todo o planeta, mas sinalizavam sérios problemas táticos. Com o material humano que tinha em mãos, era possível vencer com muito mais autoridade algumas dessas batalhas.
O principal defeito encontrava-se na defesa, problema ainda recorrente. No último domingo (11), por exemplo, foram quatro gols sofridos para o Barcelona. Se incluirmos os demais confrontos entre os dois rivais nesta temporada, são 16 gols concedidos em apenas quatro jogos (vencidos todos pelo Barcelona).
Mas o ataque também apresentou falhas. Quando precisava reverter um 3 a 0 do Arsenal nas quartas de final da atual Champions, o Real Madrid fez apenas um gol, dado de graça pelo zagueiro Saliba, após enorme bobagem.
Claro, há de se levar em conta, neste contexto, a gestão midiática e monocrática que rege os galáticos. Na seleção brasileira, Ancelotti tende a ter uma autonomia muito maior se comparado ao Real Madrid, cujas negociações, diversas vezes pouco criteriosas, passam por apenas um homem: Florentino Pérez. A busca prioritária por estrelas culminava, constantemente, em elencos desequilibrados.
Mas, ainda assim, era possível fazer mais. Hoje, o anúncio do italiano soa como uma tentativa desesperada de Ednaldo Rodrigues em se manter no comando da CBF. Alvo de forte pressão política por grupos opositores, o dirigente trata o ato como uma demonstração de força. Nada melhor para atrair a opinião pública do que uma contratação deste nível.
Porém, desses bastidores surgem novas dúvidas que extrapolam o campo. De que forma o projeto Carlo Ancelotti seria impactado no caso de uma saída de Ednaldo? Como o trabalho do dia a dia, inserido em uma preparação já curta e atribulada para a Copa do Mundo 2026, se desenvolveria neste cenário?
Por fim, faço um sincero pedido ao atento leitor: não encare esse texto como um veredito da tragédia. Estamos falando da seleção mais vencedora do planeta e de um treinador da elite europeia. Mas, pelo menos por ora, Ancelotti e Ednaldo precisarão de mais para conseguir nossa confiança absoluta.
Sobre o colunista
Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.