Conselheiro da Vale, itabirano Luciano Penido se demite do cargo com graves denúncias contra o governo federal
Em nota, a Vale agradeceu os serviços prestados por Penido e informou que “seguirá o curso regular de seus trabalhos”

Conselheiro independente da Vale, José Luciano Duarte Penido renunciou à cadeira no colegiado da mineradora na segunda-feira (11). Penido foi um dos dois membros membros do conselho de administração da mineradora que votou contrário à extensão do mandato de Eduardo Bartolomeo, que se encerrava em maio e foi estendido até 31 de dezembro.
Além de Penido, o também conselheiro independente Paulo Hartung defendia a recondução de Eduardo Bartolomeo para um mandato maior, a fim de evitar interferências do governo federal na companhia.
A decisão de prolongar até o final do ano o mandato de Bartolomeo foi vista como uma vitória do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que, apesar do fracasso na tentativa de colocar o ex-ministro Guido Mantega no comando da mineradora, viu na decisão de extensão do mandato de Bartolomeo uma oportunidade de o Planalto articular apoio a uma indicação mais próxima ao governo federal.
Luciano Penido estava no Conselho da Vale desde 2019 e a sua saída abre uma vaga de conselheiro independente que será preenchida por acionistas minoritários. O estatuto da mineradora prevê que o conselho pode ter 11 a 13 membros e, com a saída de Penido, o colegiado pode ficar com 12 integrantes até a próxima eleição de conselheiros prevista para abril de 2025.
Ao renunciar, Penido afirmou que, “no conselho se formou uma maioria cimentada por interesses específicos de alguns acionistas lá representados, por alguns com agendas bastante pessoais e por outros com evidentes conflitos de interesse”. Ele afirmou ainda não acreditar mais “na honestidade de propósitos de acionistas relevantes da empresa no objetivo de elevar a governança corporativa da Vale ao padrão internacional de uma corporation (companhia sem controle definido)”.
Confira na íntegra a carta de renúncia de Luciano Penido:
Mudanças no comando da Vale
Para seguir com 12 membros até a próxima eleição, a decisão deverá ser referendada na assembleia geral que vai ocorrer em abril deste ano. A segunda opção é convocar uma eleição para preenchimento da vaga de Penido, que poderia ocorrer na data da assembleia.
Para o cargo de CEO da Vale, alguns nomes vão surgindo como possibilidades, a exemplo de Walter Schalka, executivo que está de saída da Suzano, onde é também é CEO. Schalka tem a simpatia dos investidores privados e dos conselheiros independentes. Pelo lado do governo Lula, o nome melhor avaliado é o de Paulo Cafarelli, ex Banco do Brasil.
Com alguma chance aparece o nome de Luís Henrique Guimarães, ex-presidente da Cosan e atualmente conselheiro da Vale.
O que diz a Vale?
A Vale afirmou na noite desta terça-feira, em comunicado, que a atuação de seu conselho no processo de definição do presidente da companhia “está rigorosamente em conformidade com o estatuto social” e com o “regimento interno e políticas corporativas”.
A empresa diz ainda que seu conselho de administração seguirá “desempenhando as ações previstas nos processos de governança” e “executando sua missão de forma diligente”. A mineradora também agradeceu aos serviços prestados por Luciano Penido.
Governo federal e a mineradora
O presidente Lula tem demonstrado insatisfação com a atual gestão da empresa e tem manifestado em várias oportunidades que a mineradora precisa atender os anseios do governo federal e ampliar os investimentos no Brasil para induzir o crescimento da economia e abertura de empregos.
Em seus dois primeiros mandatos, Lula tinha mais meios de intervir na mineradora em função de outras estatais terem participação na composição acionária da empresa, como o BNDES e outros fundos de pensão federais.
Durante o governo Jair Bolsonaro (PL), o então ministro da Economia, Paulo Guedes, reduziu de 26,5% para 8,6% a participação do governo federal nas ações da mineradora, tornando-a uma corporation, ou seja, uma empresa com maior controle privado e capital diluído no mercado.
No entanto, o atual governo federal tem ainda um alto poder de barganha, já que vários projetos da Vale e suas empresas acionistas passam pelo aval federal, como é o caso do bilionário acordo de reparação referente ao desastre de Mariana, ainda sem desfecho. A operação é da Samarco, onde a Vale detém 50% das ações.
Há também a questão das concessões ferroviárias, em que o governo Lula tem cobrado uma antecipação de R$ 25,7 bilhões da mineradora para renovação de contratos.