Covid-19: Estudantes itabiranos falam sobre a dificuldade do ensino remoto

Vídeos, apostilas on-line e outras tecnologias viraram rotina nas salas de aula virtuais

Covid-19: Estudantes itabiranos falam sobre a dificuldade do ensino remoto
Coube ao ensino remoto substituir as aulas presenciais na pandemia. Foto: Secretaria Estadual de Educação do Paraná
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*Reportagem veiculada na edição 79 do Jornal DeFato Cidades Mineradoras

O uso da tecnologia na educação já era uma realidade em várias instituições. Afim de facilitar o aprendizado dos estudantes e mantê-los atualizados com o que é tendência, alguns colégios vão além dos livros e do quadro-negro para estimular o ensino.

No entanto, estes métodos modernos deixaram de ser um “luxo” para se tornarem uma regra em tempos de pandemia. Com a suspensão das aulas presenciais, estudantes tiveram que se adaptar a um novo modelo de educação: o ensino remoto, que tem gerado muitas dificuldades.

Em Itabira, a realidade não é diferente. Estudantes de diferentes níveis de ensino e instituições compartilham, em comum, o desafio de enfrentar este novo estilo de aprendizagem.

 Ensino superior

Cursando o 7º período de Engenharia Ambiental na Unifei Itabira, Isabelle Westin diz que pouco conseguiu aprender com as aulas on-line. Um dos seus desafios é lidar com as diferentes maneiras encontradas por seus professores para aplicar seus conteúdos.

Alguns deles gravam videoaulas que podem ser assistidas a qualquer momento, enquanto outros só lecionam em horário específico. Também são várias as plataformas utilizadas pelos docentes, entre elas o YouTube e o Google Meet. Ela confessa que seu desempenho escolar tem piorado.

“Na maioria das matérias, atrapalhou o desempenho. Os professores demoram a responder e-mail, a conexão da internet muitas vezes falha e a forma de cobrar os alunos é muito ruim também. Ou é uma prova impossível, em que você fica nove horas seguidas fazendo, ou é algo ridículo que todo mundo acaba colando”, relata.

Isabelle também cita outros dois problemas: a cobrança desmedida de alguns professores e a falta de oportunidades para outros colegas.

“Acho que os professores, por acharem que estávamos em casa, acabavam cobrando muito, o que deixava todos esgotados. Ainda acho que o ensino à distância acaba fazendo com que os alunos percam muitas oportunidades que teriam com as aulas normais”, finaliza.

ensino remoto
A Unifei-Itabira foi uma das instituições a adotar o modelo de ensino. Foto: Arquivo DeFato

 Ensino médio

Estudante da rede pública, Letícia Assis, de 16 anos, está aprendendo de maneira remota desde maio. Suas aulas são aplicadas por meio de apostilas e videoaulas, ambos disponibilizados em um aplicativo chamado “Conexão Escola”.

A aluna do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Mestre Zeca Amâncio (EEMZA) enxerga 2020 como um “ano perdido”.

“Tem sido muito difícil para mim e não consegui me adaptar. As apostilas são confusas e superficiais, não aprendi dessa forma. Eu sinto que foi um ano perdido e sem nenhum conhecimento adquirido.”

Segundo ela, seus colegas têm críticas parecidas. “A maioria não está satisfeita com o ensino e nem com as apostilas. Muitos reclamam que os Planos de Estudos Tutorados (PET’S) são mal feitos e os assuntos mal resumidos. Também reclamam da falta de organização e do contato direto com os professores.”

Estudante do Auge, um colégio particular em Itabira, Isabela Lage tem aulas por meio de uma plataforma virtual. Os principais problemas encontrados por ela durante esse período foram técnicos, relativos ao mau funcionamento da internet, tanto dos professores, quanto dos alunos. Porém, ao contrário dos demais entrevistados, a aluna do 6º ano do Ensino Fundamental 2 diz que se adaptou ao ensino remoto.

“No início foi bem difícil por conta de uma nova forma de aprendizado, mas com o tempo fui me acostumando. (O ensino remoto) interferiu um pouco, pois temos menos tempo de aula e às vezes a internet cai e acabamos perdendo a aula, mas as notas ainda continuaram boas.”

Problemas à parte, Isabela mostra ciência de que outros estudantes não têm o mesmo privilégio. “A parte boa é que conseguimos ter uma forma de estudar mesmo com problemas, enquanto outras crianças não tiveram essa prioridade.”

 Dura realidade

Embora seja triste, a constatação de Isabela é verdadeira. Uma pesquisa divulgada pelo G1, em agosto, disse que 21% dos estudantes não contavam com nenhuma atividade pedagógica em casa.

Para isso, uma das soluções é o acompanhamento dos pais. Mãe da Cecília, de 9 anos, Carla Martins sempre foi presente durante as aulas, cobrando disciplina e participação nas atividades, e comentou sobre a experiência.

“Alguns pais não tiveram a mesma felicidade que tive, de ter professoras preocupadas em fazer o melhor. Os professores precisaram reinventar formas de ensinar conteúdos lecionados anos e anos de uma mesma maneira. As crianças precisaram de disciplina e rotina de estudo e os pais se viram ‘professores de reforço’, obrigados a participar ativamente da vida escolar de seu filho. Muitos redescobriram a alegria e o prazer de estar junto e de ser útil”.

Quem aprova a experiência é a pequena Cecília. A estudante do 4º ano diz que seu aprendizado evoluiu com a participação da mãe. “Ela me ajudou com as tarefas difíceis e com as perguntas. Meus pais discutiam a questão comigo e me ajudavam em pesquisas, isso me ajudou a aprender”, relata.