Crise hídrica: escassez de água em Itabira gera debates na Câmara; assista
O entrevero aconteceu na mesma data em que o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) anunciou a captação emergencial de água no córrego Rio de Peixe
Culpa da Prefeitura de Itabira, do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), da mineradora Vale ou da falta de chuvas? A quem pode ser atribuída a responsabilidade (ou parte dela) pela crise hídrica em Itabira? Este foi o grande assunto da última reunião ordinária da Câmara de Itabira, realizada nesta terça-feira (13).
O entrevero – ocorrido na mesma data em que o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) anunciou a captação emergencial de água no córrego Rio de Peixe – foi iniciado após o vereador Luciano Gonçalves dos Reis “Sobrinho” (MDB) apresentar um vídeo gravado junto a ao síndico do Residencial Jardim das Oliveiras. Nas imagens, o morador relatava que o condomínio de 160 apartamentos ficou sem abastecimento de água entre sexta-feira (9) até a manhã de terça-feira (12). A reclamação da falta de água também havia sido enviada à redação da DeFato por outros moradores do bairro e de outros pontos da cidade, como os bairros Gabiroba, Água Fresca, Praia, Santa Ruth e Fênix.
Ao tecer críticas sobre o problema, Luciano Sobrinho eximiu a culpa sobre Carlos Carmelo, o “Cac”, atual diretor-presidente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae). Segundo o parlamentar, o funcionário está no cargo há pouco tempo, tendo assumido o posto somente em fevereiro deste ano, sendo a responsabilidade principal por parte da gestão municipal, “que tem que cobrar e tem que ter a água”. Assista:
Quem se manifestou sobre o tema, minutos após, foi o vereador Bernardo Rosa (PSB), destacando a responsabilidade da mineradora Vale sobre parte do problema, principalmente na captação de água do Rio Tanque: projeto visto como a solução para a questão da água em Itabira. O parlamentar relembrou do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado em agosto de 2020 entre a Prefeitura Municipal de Itabira, o Saae e a mineradora – que será a responsável por custear e executar todo o projeto – que à época, tinha valor estimado de US$ 30 milhões de dólares (equivalente a R$ 165,8 milhões), mas está sem licenciamento ambiental e início das obras sem data definida
Bernardo também lembrou que a Vale havia se comprometido a “aferir a contaminação dos recursos hídricos de Itabira por metais, em especial por manganês e outros contaminantes em decorrência das atividades de mineração na região”. “A gente [os vereadores] fala aqui só fala de Prefeitura, Prefeitura, Saae, Prefeitura, Saae… Cadê a Vale nesse contexto?”, pontuou.
Logo na sequência, foi a vez de Júlio Rodrigues “do Combem” (PMN) rebater as declarações, elencando o “terceiro ator” responsável pelo problema: o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae). Porém, antes de elencar a parte que cabe à autarquia, o parlamentar frisou que para a população desabastecida, pouco importa de quem é a culpa, “o que ela quer é a água dentro de casa”: “Eu não estou aqui para fazer defesa [à Vale ou a Prefeitura], mas a gente tem que ser claro de quem tem a responsabilidade: a responsabilidade do fornecimento de água dentro do município de Itabira é do Saae. A população quando reclama, ela vai reclamar exatamente do fornecedor, para quem ela paga a água. Ela não quer saber o que o Ministério Público fez, o que a Vale fez. Ela quer saber da água que falta na casa dela”, disse Júlio do Combem.
“Não vamos tentar acalmar a população de Itabira dizendo para que existe isso, que existe aquilo. Não existe nada, hoje não existe nada! O que existe é essa realidade de falta de água: um dia está no Campestre, um dia no Gabiroba, um dia no João XXIII, e aí vai circulando pela cidade. Esta é a situação que nós vivemos”, finalizou.
Já o líder do governo na Câmara, Carlos Henrique de Oliveira (PDT) iniciou sua fala relembrando o longo período de estiagem — que se iniciou em maio e segue até outubro. “Prefeito nenhum, seja lá quem for, faz chover”, disse o parlamentar. “Não tem como fazer dança de chuva, não tem como puxar e tirar água “não sei de onde”. Tem que buscar essa água do Rio Tanque, que é a solução que entende-se hoje, que resolve o problema de Itabira”, pontuou.
Relembre: Para tentar minimizar os impactos para a população, o Saae anunciou ontem (13) a captação emergencial no córrego Rio de Peixe. “Devido ao período de estiagem, as vazões de água bruta foram reduzidas a níveis que comprometem o abastecimento da população de Itabira. Para recuperar parte da vazão perdida, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) se prepara para realizar captação e bombeamento emergencial de água bruta no Córrego Rio de Peixe, com capacidade para suprir parcialmente a demanda. A água captada será enviada para a Estação de Tratamento de Água (ETA) Pureza. A previsão é que a nova captação inicie nos próximos dias e acrescente aproximadamente 50 litros por segundo (l/s) ao sistema de abastecimento da cidade”, informou o Saae.
Ainda conforme a autarquia, para fazer a captação no Rio de Peixe foi necessário “solicitar outorga emergencial junto ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam). Além disso, foi necessário realizar processos de aquisição de materiais e equipamentos, como gerador, já que o local de captação emergencial não possui energia elétrica”.
Em sua nota, o Saae também disse que vem mantendo diálogos com a Prefeitura Municipal de Itabira, Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Aecom do Brasil e a mineradora Vale para discutir formas alternativas para enfrentar o período de seca. “Desde meados de julho, a Vale passou a fornecer cerca de 30 l/s a mais, por dia, distribuídos nos sistemas Areão, Anel Hidráulico e ETA Rio de Peixe. No entanto, devido a severidade da seca, esse volume não tem sido suficiente para equilibrar o sistema de abastecimento da cidade, uma vez que o clima tem se mantido quente e seco”, afirmou a autarquia.