Dados mostram “explosão” em índices de monitoramento durante nuvem de poeira que pairou sobre Itabira
Há exatamente uma semana, a população de Itabira se impressionou com uma nuvem de poeira que tomou conta da cidade entre o fim da manhã e início da tarde. As partículas tiveram origem nas minas da Vale e se propagaram com velocidade a partir de rajadas de vento que chegaram a 23 km/h . Dados […]
Há exatamente uma semana, a população de Itabira se impressionou com uma nuvem de poeira que tomou conta da cidade entre o fim da manhã e início da tarde. As partículas tiveram origem nas minas da Vale e se propagaram com velocidade a partir de rajadas de vento que chegaram a 23 km/h . Dados das estações de tratamento mantidas pela mineradora, obtidos nesta sexta-feira (12) por DeFato Online, traduzem em números o quão forte foi o fenômeno.
O relatório mostra a medição de hora em hora em três das quatro estações gerenciadas pela Vale (Pará, Areão e Premen). Os dados coletados são encaminhados, instantaneamente, à Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) e à Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam). A estação do bairro Fênix não estava funcionando no dia 5 de julho, segundo explicou a empresa aos órgãos reguladores, por problemas técnicos relacionados ao fornecimento de energia.
O monitoramento da qualidade do ar em Itabira segue parâmetros da Deliberação Normativa 01/2007, do Conselho Municipal do Meio Ambiente. Essa legislação determina que a média diária de partículas totais de suspensão não pode ultrapassar 150 microgramas por metros cúbicos de ar (µg/m³), mesmo índice imposto para as partículas inaláveis (PM10). Por ano, esses dois fatores não podem ultrapassar a média de 60 e 50 µg/m³ de ar, respectivamente.
A leitura dos dados gerados pelas estações permite observar que o nível de poeira começou a subir por volta das 9h30, perdurando com índices mais altos até às 15h30. No instrumento da praça do Areão, por exemplo, às 11h30, o índice de partículas totais em suspensão alcançou 701 µg/m³. Já o de partículas inaláveis chegou a 291 µg/m³.
Na estação instalada no Premen, na região do bairro Panorama, o índice máximo foi registrado às 12h30. As partículas totais em suspensão chegaram a 432,8 µg/m³, enquanto as partículas inaláveis bateram 158 µg/m³. No ponto de monitoramento do bairro Pará, às 13h30, as partículas em suspensão alcançaram 231,1 µg/m³. Não houve alteração muito significante no nível de partículas inaláveis nessa estação.
Média suaviza resultados
A “explosão” dos índices no momento da nuvem de poeira fica bastante clara quando se observa a média de cada uma das estações após o período de 24 horas de monitoramento, que é o que determina a legislação de qualidade do ar. Nenhuma deles ultrapassou o limite diário de 150 µg/m³ de ar, tanto nas partículas totais em suspensão quanto nas partículas inaláveis.
A estação do bairro Areão foi a que chegou mais próxima de exceder o limite, fechando o dia em 138 µg/m³ na medição das partículas em suspensão e 73,3 µg/m³ nas partículas em suspensão, índices considerados regulares dentro da legislação adotada em Itabira. Veja as médias das demais estações e os parâmetros de qualidade adotados nas tabelas a seguir:
Durante visita de conselheiros do Codema e servidores da SMMA à estação do bairro Areão, na última terça-feira (9), uma servidora da Secretaria de Meio Ambiente criticou a legislação. Ela afirmou que é praticamente impossível que a Vale um dia ultrapasse o limite diário de emissão de partículas no ar. “Os horários mais tranquilos acabam jogando o resultado para baixo. Para fins de controle, pode estar tudo certo, mas e a saúde de quem ficou exposto à poeira naquele período?”, indagou.
Mesmo asism, a legislação em Itabira ainda é mais rígida que a praticada no país. Deliberação do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) fixa a média diária em 240 µg/m³ e a anual em 80 µg/m³ na medição das partículas totais em suspensão. No município ainda há a regra de que se a empresa exceder o limite duas vezes no ano terá de pagar multa.
Fatores externos
Também durante a visita à estação de monitoramento, o analista de Meio Ambiente da Vale, Joni Amorim, explicou que fatores externos podem interferir na medição dos índices. Ele citou, por exemplo, que na última semana a praça do Areão passou por capina, o que teria afetado a medição naquele ponto. Segundo o técnico, quando isso acontece a mineradora invalida os dados e informa a situação para a SMMA e a Feam.
Questionado por DeFato Online se na sexta-feira da semana passada houve alguma comunicação nesse sentido por parte da Vale, a Feam, por meio de sua Assessoria de Comunicação, respondeu que isso não ocorreu. “Por meio da análise dos dados, observou-se não se tratar de um evento que envolveu fatores externos que impactaram na medição, e sim um evento das condições do tempo com altas velocidades dos ventos, portanto, não houve comunicação por parte da Vale”, afirmou a Fundação Estadual de Meio Ambiente.
No dia da nuvem de poeira, a Vale afirmou, em nota, que as atividades nas minas da empresa no município foram paralisadas logo pela manhã e houve redução do trânsito de veículos em estradas e acessos das áreas operacionais. E ainda que ampliou as ações de aspersão de água nas frentes de lavras, pilhas de homogeneização e de produto, além de aspersão de água nas vias das minas com caminhões-pipa.