DeFato 30 Anos: Depois de passar pela CVRD, jornalismo, política e comércio, José Sana decidiu abrir uma revista

Em abril, o portal DeFato completa 30 anos. Nas próximas semanas, será publicada uma série de matérias contando a história de um dos principais meios de comunicação de Itabira e região. Confira a primeira parte!

DeFato 30 Anos: Depois de passar pela CVRD, jornalismo, política e comércio, José Sana decidiu abrir uma revista
O fundador da DeFato, José Sana, em entrevista ao jornalista Fernando Silva – Foto: Victor Eduardo/DeFato
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O jornalista, político e empresário José Almeida Sana foi o idealizador da DeFato. Essa história tem fascinante trajetória. E tudo se principiou com muita aversão e bastante amor a Itabira. Um fenômeno sentimental literalmente bipolar. Esse caso (de amor e desamor) começou em São Sebastião do Rio Preto, a terra natal do jornalista. Em seu tempo de criança, Sana apresentava um costume muito curioso. Quase todos os dias, subia ao cume da mais alta montanha de São Sebastião. Esse alpinismo tinha objetivo único: assistir às detonações nas minas da Vale, em Itabira, ao longe. O menino não ouvia o estrondo dos explosivos, mas percebia, bem na linha do horizonte, uma misteriosa mistura de fumaça e poeira.

O personagem desse enredo, porém, não tolerava Itabira. Ele costumeiramente vinha à cidade em companhia de seus familiares, porém, não conseguia esconder a sua sincera aversão à terra do poeta Carlos Drummond de Andrade. Em comparação com Ouro Preto, que frequentou também assiduamente, via o patrimônio desleixado. “Eu achava que Itabira não prestava para nada. Eu tinha pavor desse lugar. Era tudo muito feio, à exceção do som de pianos que costumava enfeitar o ar, era uma cidade sem amor e sons de óperas, das quais não entendia”, avaliava na época.

Depois de concluir o ensino fundamental, o já adolescente, foi para Belo Horizonte. O passo seguinte seria cursar o Científico (equivalente ao atual ensino médio). Mas a coisa não foi tão fácil. Na capital mineira, teve que trabalhar e estudar. O Brasil, na ocasião, atravessava mais uma de suas “infinitas” crises financeiras. O estudante, então, com apenas 16 anos, encontrou muitas dificuldades para entrar no mercado de trabalho. E foi aí que o jornalismo apareceu no meio do caminho.

Em 1963, o ginasiano conseguiu uma vaga de aprendiz no periódico Diário de Minas, sem receber, porém, remuneração alguma nessa atividade educativa. Mas, ao mesmo tempo, arrumou um “bico” para revisar textos no tradicional jornal Estado de Minas. Era uma tarefa complexa. A jornada sempre começava às 22 horas e se estendia até por volta das 2h da madrugada. Essa ocupação apresentava uma faceta bastante irônica, muito curiosa.

José Sana gosta muito de relembrar essa passagem da sua vida. “Havia, na redação do Estado de Minas, uma turma de veteranos, que fazia a revisão das matérias. E eles ganhavam muito para isso. Então, esses sujeitos encontraram uma forma muito original para enganar suas esposas e cair na gandaia, a noite inteira. Eles pagavam estagiários para fazer a tarefa deles (revisão). Aí, ficavam soltos na noitada. As mulheres imaginavam que eles estivessem trabalhando, mas, na verdade, estavam mesmo era na bebedeira”, recorda com ironia.

Mesmo com forte resistência a Itabira e tendo sido aprovado em concurso de Fiscal de Rendas, no Estado, cargo que não assumiu por falta de ajuda política, o são-sebastianense teve aprovação também em concurso da velha Cia Vale do Rio Doce (CVRD). José Damião de Almeida, um itabirano amigo dele e de seus pais, foi o grande responsável por essa ousadia.

O irrequieto moço tinha uma explicação por ter se submetido a esse “sacrifício extremo”. “Eu só aceitei trabalhar na Vale porque estava devendo a Deus e ao povo. Esse emprego foi um meio de acabar com as minhas dívidas”, garante José Sana, que foi admitido na mineradora em 28 de maio de 1966. Na ocasião, exerceu sua função nas Minas do Cauê e Conceição. Também passou pelo escritório do Areão e Setor de Custo, no bairro Campestre.

Em 1975, foi transferido para a área de Comunicação da empresa, em Belo Horizonte, ao ser aprovado no vestibular de jornalismo na Fafi-BH. Permaneceu em BH até janeiro de 1977, quando retornou a Itabira. Continuou na Comunicação da CVRD até 2 de janeiro de 1979, ano em que foi demitido. Os motivos da demissão foram dois que ele cita: a discordância da CVRD na condução do I Encontro de Cidades Mineradoras, evento realizado em junho/julho de 1978 (estávamos nos anos de chumbo da ditadura militar) e o fato de ter pedido licença, de que a mineradora discordou.

Com o tempo, a antipatia por Itabira diminuiu consideravelmente. Em 1970, quatro anos depois do ingresso na multinacional brasileira, José Sana casou-se com Marlete de Moura Morais Sana. Ele contava 25 anos de idade. Na época, adquiriu uma casa e foi morar na rua Caulim, no Caminho Novo. O bairro ainda era muito precário e repleto de problemas estruturais. O recém-casado começou a participar das atividades da Associação de Moradores da localidade. Essa circunstância foi um atalho para a política partidária. A consequência foi imediata: candidatou-se a vereador e foi eleito com 693 votos. Aos 27 anos de idade, tornou-se um dos mais jovens parlamentares da história da cidade.

A partir daí, desenvolveu meteórica carreira política. Foi eleito presidente do Legislativo itabirano em duas oportunidades: 1978 e 1982. Na sequência, concorreu a uma vaga para a Assembleia Legislativa, em 1982. Saiu das urnas com 15.351 votos e ficou na segunda suplência. No pleito de 1988, candidatou-se a deputado federal. Recebeu expressivos 12.988 e, mais uma vez, ficou como segundo suplente. Quase trocou Itabira por Brasília.

Logo que saiu da CVRD, José Sana aventurou-se no segmento comercial. Abriu três lanchonetes “Cantinho do Pão de Queijo”, em Itabira, uma fábrica de doces na capital mineira e mais uma lanchonete em Betim. Enquanto vendia pães e doces, continuava praticando o jornalismo como colaborador dos periódicos “O Passarela”, “Folha de Itabira”, “Hora H” e “A Notícia”, de João Monlevade, alternadamente.

Com o tempo, a experiência empresarial entrou em declínio. Não teve outro jeito. O comerciante ocasional teve que encontrar um novo rumo para a sua vida. E, mais uma vez, deu de cara com a imprensa. Pintou na cabeça a ideia de se criar uma revista. Essa inesperada decisão causou espanto e incredulidade. Na época, Itabira tinha quase uma dezena de jornais e três emissoras de rádio. E a revista nasceu. O parto aconteceu praticamente na marra.

* Ao longo do mês de abril está sendo publicada uma série de matérias sobre a história do portal DeFato, que completa 30 anos em 2023;

** Leia a segunda parte da história do portal DeFato na próxima sexta-feira (14);

*** Enquanto isso assista a entrevista do jornalista e fundador da DeFato, José Sana, ao atual editor de Política do portal, Fernando Silva: