Dia do compositor: itabiranos investem no autoral e se destacam no mercado
Conheça alguns dos talentos da cidade que exploraram a arte musical da melhor forma possível, sem impor limites e percorrendo diferentes estilos musicais
A música é uma expressão artística que tem o poder de prender a atenção das pessoas. Verdadeiro espetáculo, ela também é capaz de despertar inúmeros sentidos e, ao mesmo tempo, seduzir seus espectadores. A boa música, sem desmerecer os gostos variados, reflete também um bom compositor. E a maneira como ela é operada, espelha as intenções de quem a compõe.
No dia 15 de janeiro é comemorado o Dia Mundial do Compositor. A data, que teve sua origem no México em 1945, passou a ser celebrada mundialmente em 1983. A ideia é valorizar o esforço e o trabalho dos artistas que criam peças musicais.
Poesia cantada
Berço de uma cultura reconhecida nacionalmente, Itabira é uma cidade repleta de bons compositores. Percorrendo estilos variáveis, os talentos da cidade buscam explorar a arte musical da melhor forma possível e sem impor limites, como é o caso de Yago Rios. O artista, responsável pela composição e interpretação da música “Contrate”, lançada em dezembro do ano passado, iniciou sua carreira no rap, mas logo buscou ampliar o seu repertório.
“Inicialmente, eu acreditei que só conseguia criar em rap, e as minhas primeiras composições nasceram em cima de batidas do Youtube. Mas, hoje em dia, eu tento compor em cima de todos os tipos de ritmos. Eu gosto é da mistura mesmo”, diz Yago.
Presente no meio musical desde criança, o artista começou a rabiscar suas canções ainda na adolescência. Mas, foi em 2017 que suas poesias cantadas ganharam vida. “Comecei a estudar canto aos 9 anos, então sempre tinham aquelas composições de moleque, brincando. Porém, foi quando mais velho que comecei a alimentar melhor essa ideia”, contou.
Acumulando experiência
Somando cinco anos de carreira, Vinicius Barcelos, que atualmente divide alguns projetos com Yago Rios, já passou pelo grupo Nosso Fulcro e assina canções como “Bolo de Limão” e “Universo a Caminhar”. A segunda composição citada, inclusive, foi o impulso que ele precisava para continuar compondo. “A música nasceu em mim, quando eu tinha entre 13 e 14 anos. Eu falava justamente desse desejo de viajar e conhecer o mundo. E a recepção positiva dos amigos foi o que me fez seguir em frente”, contou Vinicius.
Apesar dos mais de 10 anos compondo, Vinicius desabafa que até hoje não entende como esse processo funciona.
“Eu não gosto de rótulos. Às vezes ela vem, às vezes não vem, às vezes vai se montando. Não sei explicar. Nunca entendi e acho que nunca vou entender”, segredou.
Influências araigadas
O itabirano Matheus Macávima atua no meio musical desde muito novo. Influenciado pelo pai, que “também toca violão e canta muito timidamente”, Macávima conta que interpreta as canções que sempre ouvia. Sua primeira apresentação profissional aconteceu em 2012, na cidade de Mariana.
As primeiras composições presentes em seu portfólio são tidas por ele como infantis, pois vieram antes mesmo dele aprender a tocar qualquer instrumento ou ter a pretensão de ser compositor. Mas, as influências da adolescência foram cruciais para que ele desenvolvesse seu lado artístico.
“Eu tive uma fase de escutar muito rock, na verdade, praticamente só rock e metal. Nessa fase, eu compus músicas para uma banda chamada Madkins, que era uma espécie de pop rock misturado a outras influências como hardcore, punk e metal. Eu, provavelmente, tinha meus 18 anos quando a primeira composição mais pro pop rock saiu, chamada “Agora é com você”. Nesse momento, eu já estava me abrindo e experimentando outros estilos de música”, contou.
Macávima tem como referência nomes como Milton Nascimento e o Clube da Esquina, Gilberto Gil, os demais tropicalistas. Ao falar sobre o seu processo de criação, destaca que não era muito padronizado. Ele pegava o instrumento, aguçava os sentimentos e começava a procurar os sons na memória. Isso mudou com tempo. “Hoje em dia eu procuro entrar em um estado mais meditativo e deixar vir as melodias, pra depois pegar no instrumento. Mas, às vezes vem ideias do nada”, pontuou.
Música como identidade
Nem todos os compositores são cantores e nem todos os cantores são compositores. Mas quando tocamos no assunto é quase impossível não associar uma coisa à outra. Muito menos enquanto fãs. Quando admiramos um artista queremos não apenas ouvi-lo, mas também, compreendê-lo. Saber como ele se expressa, como ele pensa e se identifica.
A música acompanha seus públicos e regiões, assim como o rock marcou os anos 80; o pagode no fim dos anos 90; e o pop e o hip-hop os anos 2000, por exemplo. Um movimento que tem ganhado força e expressão, no momento, é o trap. Marcado por artistas que fazem questão de compor suas canções, o movimento se destaca pelos beats e por letras que expressam a identidade de uma nova geração.
O trapper Mxlkx, que iniciou suas composições em 2016, busca expressar um “life style” característico do gênero.
“O trap é um estilo que visa a estética em todos os sentidos, pois é uma cultura que, além das músicas, envolve também o jeito de vestir, expressar e outros fatores que contribuem com a individualidade da categoria”, ponderou o músico.
Preparada!
A arte de cantar, assim como quase tudo na vida, exige estudo e preparo. Música exige interpretação e sentimento, independente do ritmo ao qual os artistas se propõem a se dedicar. Não é só sobre entoar rock ou sertanejo, mas sobre compreender o estilo musical. Uma ideia que a cantora e compositora Clau Vianna entende muito bem.
Apesar de ter inúmeras composições, foi somente depois de 22 anos de carreira que Clau resolveu colocar no mundo um de seus filhos. A canção Lua dos Apaixonados, uma balada sertaneja, nasceu em dezembro de 2020.
“Quando eu comecei no sertanejo, em 2015, eu ainda não tinha uma preparação para o gênero. Eu já havia passado pelo axé, pela mpb, mas aquele estilo era muito novo. Então, comecei a estudar o gênero e a me inserir naquele novo meio. Eu quis entender como ele funcionava, em respeito às cantoras que já estavam à frente dele, para que eu não fizesse por fazer”, destacou Clau.
As adaptações que o ano de 2020 exigiu das pessoas, bem como o sucesso dos shows virtuais, foram alguns dos fatores que encorajaram Clau Vianna a lançar o seu primeiro trabalho autoral. “A pandemia, as adaptações e as lives, ou seja, esse mundo fora dos palcos e barzinhos, me fez perceber que eu estava, sim, preparada para lançar a minha própria música. E foi uma experiência incrível, pois receber o retorno do público e vê-los cantando e curtindo a minha música foi a melhor sensação da minha vida”, contou a cantora.
Uma sensação tão boa que, agora, a cantora já se prepara para lançar novas obras autorais:
“Eu tenho composições totalmente minhas, mas também tenho parcerias e revisões. Inclusive, a minha próxima música é uma colaboração, então, provavelmente, em março teremos novidades de Clau Vianna”, concluiu.