Dificuldades da zona rural viram pauta na Câmara de Itabira

Houve desabafos de moradores e vereadores, direcionados principalmente à Prefeitura

Dificuldades da zona rural viram pauta na Câmara de Itabira
Carro de Deivison Gomes, do Morro do Chapéu, caiu em um dos vários buracos do local.
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Região mais castigada durante o período chuvoso, a zona rural de Itabira foi tema de fortes pronunciamentos durante a semana na Câmara de Itabira. Na segunda-feira (5), durante a reunião de comissões, Junia Gomes, moradora da comunidade do Pau de Angu, no Morro do Chapéu, fez um apelo ao poder público. Segundo ela, a região em que mora está abandonada, e os típicos problemas do período chuvoso voltaram a acontecer.

Um dia depois, foi a vez do vereador Luciano Sobrinho (MDB) subir o tom contra a Prefeitura. O parlamentar criticou uma suposta omissão do município em relação ao tema. Recorrentemente, comunidades rurais de Itabira sofrem com buracos na estrada, deslizamentos, falta de acessibilidade às regiões, entre outros.

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Sensação de abandono 

No domingo (4), o veículo de Deivison Gomes, marido de Junia, caiu em um buraco de uma rua totalmente enlamaçada. A moradora do Pau de Angu relatou a situação aos vereadores, mas foi além. Segundo ela, quando as chuvas se tornam recorrentes, o acesso à comunidade fica praticamente impossível, colocando em risco, inclusive, a saúde dos moradores.

“Ontem (domingo) tivemos lá um incidente, inclusive marquei a maioria de vocês (vereadores) nas redes sociais, o nosso carro caiu literalmente no buraco. Nós estamos abandonados pela Prefeitura, pela Secretaria de Obras, pelo senhor prefeito. Lá tem residências que na última chuva que teve, a estrada caiu e a pessoa não tinha como sair de casa pra trabalhar. Onde a gente reside, no final do morro tem uma família que tem deficiente físico, o pai deles está praticamente sem andar, e o morro lá não tem condições de subir. A Prefeitura e a Secretaria de Obras esteve [sic] lá, mais de uma vez, fazendo um paliativo que conseguiu piorar nossa situação. Lá tem buraco que cabe um carro dentro”, desabafa.

“A gente precisa de socorro. Se a família passar mal, se acontecer alguma coisa, a pessoa vai morrer, porque não tem jeito de descer. ‘Ah, uma quatro por quatro desce’, olha o vídeo aí, é um veículo quatro por quatro que está no buraco. ‘Ah, é culpa do motorista que é ruim’, não é não! Meu marido é um dos melhores motoristas desta cidade”.

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Junia Gomes fez um fortre desabafo aos vereadores. Foto: Victor Eduardo/DeFato Online

Junia também cobrou os vereadores, tanto os de situação quanto os da oposição. Ela ainda revelou que, diante da falta de respostas do poder público, os próprios moradores iniciaram o calçamento de alguns locais.

“Peço o apoio desta Casa, apoio de vocês vereadores. Situação, oposição, somos da mesma cidade. A gente precisa de socorro! E o socorro que precisamos é definitivo. Porque o que acontece: vai lá, passa a máquina, mas no outro dia o buraco do tamanho de um carro cair lá. Inclusive, nós mesmos da comunidade estamos fazendo uma ação entre amigos para ver se conseguimos calçar pelo menos os pontos mais críticos do morro. Para conseguirmos chegar em casa, para conseguirmos sair pra trabalhar!”, seguiu em seu discurso.

Em nota enviada à reportagem, a Seccretaria de Obras afirmou que as vias de acesso à comunidade rural estão em boas condições. Leia o trecho logo abaixo.

…no que diz respeito às vias de acesso a essa localidade, a Prefeitura informa que estão em boas condições de tráfego, devidamente cascalhadas e patroladas.

No entanto, a equipe da SMOTT apurou que alguns fazendeiros estão fechando as saídas d’água ou desaguadouros (popularmente chamadas de “bigodes), que servem para reduzir a força da água e evitar erosões. Com isso, a água desce o morro ganhando força, o que causa erosão nas estradas.

A equipe verificou ainda que as novas vias laterais do Morro do Chapéu são originadas de parcelamento irregular do solo. Nesse caso, motivadas por loteadores ou empreendedores que fizeram intervenções, principalmente em áreas de morros, sem executar projetos de drenagem e de rede pluvial. Essa água desviada para as vias principais causam problemas para toda a comunidade.

Ademais, a SMOTT ressalta que o morro citado em reunião na Câmara Municipal não é uma via principal de acesso, mas um atalho. Inclusive, não é rota do transporte escolar. Por isso mesmo, não atende aos critérios de prioridades estabelecidos pela Secretaria Municipal de Obras para asfaltamento de morros.

Vale ressaltar que, desde o início da atual gestão, para melhorar as condições das estradas, a SMOTT reforçou as equipes de manutenção das estradas e ampliou a capacidade de manutenção, com intensificação das ações de cascalhamento, compactação com rolo e guias de enxurradas. Além disso, desde janeiro do ano passado, já foram asfaltados mais de 13 mil metros de morros em comunidades rurais e instalados 50 mata-burros e 16 pontes, sempre levando em consideração o critério populacional adotado pela pasta de Obras.

Por fim, a SMOTT reafirma seu planejamento para calçamento dos morros e estradas rurais mais críticas, sempre obedecendo aos critérios prioritários, entre eles, a quantidade de população impactada. Nesse sentido, já estão na pauta localidades como Morro Redondo, Maná, Alto dos Carneirinhos, Cabeceira do Tanque, comunidades onde existe quantidade maior de moradores e alunos, em maior vulnerabilidade”.

Desabafo parlamentar

Na reunião ordinária da última terça-feira (6), foi a vez de Luciano Sobrinho utilizar o momento de palavra aberta para também fazer seu protesto.

“Presidente (Vetão, presidente da Câmara), já não é de hoje, e acho que todo mundo aqui é prova disso, que sou um dos vereadores que mais cobra a pauta da zona rural. E venho falando isso aqui desde o princípio do ano. Se não for feito um serviço de excelência, infelizmente na época da chuva a população rural vai sofrer. E como vem sofrendo, seu presidente, é de cortar o coração”.

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O vereador Luciano Sobrinho. Foto: Gustavo Linhares/DeFato

O emedebista ainda ressaltou o poderio financeiro do município, o que, para ele, agrava ainda mais a situação. “Eu tirei aqui, semana passada, através do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG), os cofres da Prefeitura com R$ 626 milhões, sendo que não vinculados de impostos são R$ 311 milhões. Isso é uma covardia que está sendo feita com a comunidade do campo da nossa cidade”, completou Luciano.

“Alunos perdendo aula, pessoas precisando de uma urgência para ir ao médico. Como vai fazer? Não tem estrada gente. Já tem quase um ano que falo isso aqui, desde as chuvas passadas que castigaram nossa cidade”.

Líder de Governo na Câmara, Juber Madeira (PSDB) garantiu, na segunda-feira, que quatro morros do Morro do Chapéu serão asfaltados em 2023. A operação ainda depende, no entanto, de trâmites burocráticos.

“Estive acompanhando na semana passada uma licença licitatória em torno de obras de pavimentação de morros. E a comunidade em que a senhora (Junia Gomes) mora, que há tanto tempo passa por esse problema, terá pelo menos quatro morros asfaltados. A empresa vencedora foi anunciada semana passada, e agora é superar os trâmites burocráticos para que as obras comecem o mais rápido possível. Claro, com a previsão dentro do cronograma, a partir de 2023. Então esperamos que no próximo período chuvoso a comunidade do Morro do Chápeu tenha dignidade e acesso tranquilo à comunidade, para evitar que a senhora precise voltar à Câmara novamente para fazer essas cobranças”.