Dívidas entre associações e Prefeitura voltam a ser debatidos na Câmara

Membros da APMII e da Associação Nosso Lar levantaram a voz nesta segunda-feira

Dívidas entre associações e Prefeitura voltam a ser debatidos na Câmara
Foto: Prefeitura de Itabira

Na reunião de comissões da Câmara Municipal de Itabira desta segunda-feira (28), uma situação idêntica a outra ocorrida há duas semanas gerou um novo debate entre os vereadores. Foi apresentado na Casa o projeto de lei nº 11/2022, de autoria do vereador Júlio do Combem (PP) , que perdoa uma dívida estimada em R$ 18.412,30 cobrada pela Prefeitura junto à Associação de Proteção à Infância Nosso Lar.

No dia 14 de março, a Câmara apreciou outro projeto de Júlio do Combem nos mesmos termos, mudando apenas a entidade envolvida. No caso, tratava-se de uma dívida da Associação de Proteção à Maternidade e à Infância de Itabira (APMII), também com o município, avaliada em R$ 265.867,35.

A sede da APMII, no Centro de Itabira. Foto: Google Maps/Reprodução

O imbróglio envolvendo a Associação Nosso Lar e a Prefeitura surgiu após o fim dos convênios 075/2005 e 053/2010. No acordo, a entidade funcionava como uma espécie de “RH” para a contratação de profissionais subordinados à Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Em 2010, um TAC determinou o encerramento dos convênios e acarretou no desligamento de diversos funcionários.

Um deles, uma profissional da farmácia popular que atuou de maneira autônoma, exigiu o pagamento dos vínculos trabalhistas relativos a este período. Ela ganhou a causa e, em 2019, o município pagou R$ 15.176,43 à ex-funcionária. No entanto, passou a cobrar da associação, dois anos depois, uma espécie de reembolso pelos custos do processo, estimado em R$ 18.412,30. É a remissão desta dívida que está prevista no projeto de lei.

Indignação dupla

Quinze dias após a apreciação do projeto de lei que perdoa as dívidas da APMII, o presidente da entidade, Airton Rodrigues, expôs seu incômodo com o tema. Segundo ele, a associação não deve sequer um centavo ao município.

“Nós estamos dependendo de uma votação (na Câmara) para perdoar uma dívida que não fizemos. Isso é ridículo. Não para quem vai votar, mas para a minha instituição, que trabalha limpo, de maneira transparente, e dependendo da votação para ver se perdoa dívida ou não. Que dívida é essa? A APMII não deve um centavo ao município”, esbravejou.

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O presidente da APMII, Airton Rodrigues. Foto: Victor Eduardo/DeFato Online

Advogada da Associação Nosso Lar, Maria Helena da Silva disse que, embora sejam classificados como sinônimos no próprio dicionário Aurélio, os termos “perdão” e “remissão” não devem ser confundidos. Para a representante do setor jurídico da organização, perde perdão aquele que erra, o que não é o caso da “Nosso Lar”.

“São questões muito básicas a que o trabalhador tem direito e não foram cumpridas pela Prefeitura, e isso constava no nosso convênio. Aqui a gente não está pedindo um perdão de dívidas, mas uma remissão. Porque perdão é quando erramos e pedimos para ser perdoados. No nosso caso, não erramos. Fizemos o que estava no convênio, cumprimos com o serviço para o qual fomos contratados”, argumentou.

Maria Helena frisou, também, que a associação não possui dinheiro em caixa para arcar com os valores cobrados pela Prefeitura de Itabira desde 2021.

“Trabalhamos com caixa enxuto, com doação. A gente não tem fins lucrativos, então entra e paga, entra e paga, entra e paga. Se a Prefeitura tem um convênio e ela não paga aquela folha de pagamento, a folha fica em aberto. Não temos caixa pra isso (pagamento da dívida)”, pontuou.

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Foto: Victor Eduardo/DeFato Online

Desgaste desnecessário

Assim como na discussão acerca do projeto de lei envolvendo a APMII, o vereador Júlio Contador (PTB) voltou a dizer que esta situação é uma responsabilidade do município. Para o petebista, quem deveria formular o projeto de lei é a Prefeitura.

“Esse projeto, falando bem objetivamente, é de cunho do Executivo. Ele tem que provocar essa ação. Foi falado que não prejudicou nenhuma atividade, então o projeto de lei está saindo da origem errada, tem que ser do Executivo”, observou.

Júlio Contador ainda enfatizou que a aprovação da proposta poderia abrir brecha para que outras entidades itabiranas utilizem o mesmo artifício para sanar suas dívidas.

“Pessoalmente, como legislador, não vejo necessidade desse projeto estar aqui na Câmara, porque não cabe a nós remir ou cobrar. Outra coisa: se o Legislativo decide remir ou perdoar qualquer situação, tem vários outros convênios nessa situação também, e aí?”

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O vereador Júlio Contador. Foto: Victor Eduardo/DeFato Online

Rose Félix (MDB) também seguiu lógica parecida. Para ela, a Câmara pode, inclusive, ser responsabilizada durante o processo. “É como se a gente atraísse para a Câmara dos Vereadores um problema que deve ser resolvido no executivo, que são os convênios, prestações de contas, repasse de recursos. Porque nós também podemos ser responsabilizados por isso.”

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Rose Félix, do MDB, seguiu linha de raciocínio parecida à de Júlio Contador. Foto: Victor Eduardo/DeFato Online

Devido ao impasse, os projetos de lei nº 11 e 12/2021 não deverão ser votados na Câmara nas próximas semanas, seguindo sob análise da comissão designada.