Dizer da morte é dizer da vida: uma mensagem aos profissionais dos hospitais
De uma hora para outra, todos tivemos que nos defrontar com a possibilidade concreta de nossa finitude e a de nossos entes queridos
A morte nunca foi um assunto muito discutido. Não é algo que costumávamos conversar nos almoços de domingo, por exemplo. Contudo, com a chegada da Covid-19, as circunstâncias mudaram. De uma hora para outra, todos tivemos que nos defrontar com a possibilidade concreta de nossa finitude e a de nossos entes queridos. Como criar uma resposta tão rápida para algo tão avassalador?
Nos hospitais, a tensão se sente de maneira ainda mais forte. Além das doenças que já os sobrecarregam, agora as equipes de saúde devem lidar também com os casos de Covid-19, que exigem medidas específicas. Muitas mortes podem ocorrer, inclusive a dos próprios profissionais de saúde, e sem um tempo necessário para que eles elaborem tudo que ali possa suceder. Além das equipes de saúde, não podemos nos esquecer de outros profissionais que também estão nos hospitais: equipes de limpeza, cozinheiros, copeiros, porteiros, recepcionistas… tantos outros que também devem ser valorizados nesses tempos difíceis.
Se você está na linha de frente, sabe que seu trabalho é essencial. Mas é importante lembrar que inúmeros imprevistos acontecerão. Devemos evitá-los ao máximo, é claro, mas não com a mentalidade que poderemos combatê-los em sua totalidade. Pode ser que você esteja paralisado, tenso, sem saber o que fazer. E ficar assim é normal, pois estamos passando por uma situação única e bastante complicada.
E mesmo os casos “perdidos” não estão tão perdidos assim. Falamos muito da doença, da morte que pode advir dela… mas esquecemos que dizer da morte é dizer da vida. Se eventualmente não houver a perspectiva de cura de um paciente, sempre haverá o cuidado. Caso, infelizmente, o paciente já estiver em seus momentos finais, ainda há muito o que fazer para oferecer-lhe o máximo de conforto que seja viável.
É um momento para repensar a forma com que cuidamos de nós mesmos, de quem está próximo de nós e de nossa sociedade. Quando lidamos com a morte, não há fórmulas prontas. Cabe a cada um encontrar uma forma própria de passar por essa situação da maneira mais genuína possível.
Arthur Kelles Andrade é psicólogo, mestrando em Estudos Psicanalíticos
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