Em editorial, Folha de São Paulo critica socorro brasileiro à Argentina
Artigo publicado pelo jornal paulista condena Lula por utilizar a “afinidade ideológica” para determinar a política de relação internacional
O jornal Folha de São Paulo, no editorial de domingo (7), criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por utilizar afinidades ideológicas para definir suas relações internacionais. No artigo, intitulado “Calote companheiro”, o periódico lembrou que os governos anteriores de Lula firmaram acordos com Cuba e Venezuela, o que acabou resultando em calote.
A Folha pondera que com a inflação em torno de 100%, o próprio governo Argentino, que tem Alberto Fernández à frente, e Lula recusam-se a admitir que a crise advém de decisões ruins, preferindo culpar o Fundo Monetário Internacional (FMI). “É antiga a fixação da esquerda latino-americana em culpar o Fundo pela instabilidade econômica da região. Se no passado, quando os fluxos internacionais de capital privado eram restritos, a queixa poderia ter algum fundamento, no mundo atual é delirante manter o mesma cantilena”, diz trecho do editorial.
“A responsabilidade pelo caos argentino é de sucessivos governos — à direita ou à esquerda, mas todos reféns do peronismo — que geriram a economia de modo irresponsável. Fernández e suas políticas populistas tornaram a situação mais dramática nos últimos anos”, completa o editorial.
Lula disse, recentemente, que o FMI deveria “tirar a faca do pescoço da Argentina”, ignorando todas as negociações anteriores em que a Casa Rosada descumpriu compromissos assumidos perante o banco.
O editorial também pondera que “não é por acaso que a inflação supera 100% ao ano e que o peso derrete continuamente. O caminho, infelizmente improvável, seria um ajuste de contas interno de grande magnitude, que permitisse a recuperação da credibilidade da moeda e das finanças públicas”.
“O Brasil, naturalmente, perde com a deterioração da economia argentina. É notável que um país fronteiriço e com amplo potencial tenha absorvido em 2022 apenas 4,6% das exportações brasileiras, equivalentes a US$ 15,3 bilhões. É uma fração da posição de 20 anos atrás e menos, por exemplo, do que as vendas para Oriente Médio”, continua o editorial.
Outro trecho do artigo acrescenta que “felizmente, Lula ainda não entregou dinheiro brasileiro ao vizinho, limitando-se a uma tentativa até aqui infrutífera de ampliar o comércio por meio de promessas de crédito a exportadores brasileiros e compradores argentinos”.
O editorial finaliza: “é natural que o Brasil, por seu peso na América Latina, exerça influência na região. O pior modo de fazê-lo é justamente dando suporte a políticas fracassadas que sabotam o desenvolvimento de todos”.