Em live sobre a água de Itabira, Marco Lage “esquece” e não fala sobre a contaminação da Pureza
Prefeito de Itabira, em transmissão ao vivo pelas redes sociais, abordou o problema da água na cidade de maneira superficial
Desde o início do seu governo, o prefeito de Itabira, Marco Antônio Lage (PSB), recorre às lives para abordar os mais diversos assuntos com a população. Na tarde de ontem (19), em especial, o anúncio de mais uma transmissão ao vivo gerou certa expectativa. Isso porque o tema a ser abordado era o abastecimento de água da cidade. Embora fosse um assunto de extrema relevância, o que se viu foi uma abordagem rasa para um tópico que merecia um mergulho com mais profundidade.
A data escolhida para essa live, no último domingo, simbolizava a marca de uma semana desde o ápice do caos gerado pela contaminação do manancial da Pureza — que chegou a levar o itabirano a uma corrida aos supermercados e distribuidoras de bebidas para comprar alguma água que pudesse consumir. Embora o episódio tenha evidenciado uma série de falhas por parte do Executivo — principalmente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) — e tenha levantado uma série de questionamentos ainda sem as devidas respostas, Marco Antônio Lage, que estava acompanhando por Karina Lobo, diretora-presidente do próprio Saae, optou por manter silêncio absoluto sobre a poluição do principal reservatórios da cidade, responsável por atender 60% dos bairros itabiranos.
É necessário que a Prefeitura de Itabira venha a público — o quanto antes — esclarecer os questionamentos que ficaram em aberto. Afinal, como uma empresa consegue operar por quase dois anos sem alvará ou o devido licenciamento ambiental? Ainda mais em um terreno que fica justamente “em cima” do principal manancial da cidade? Não há fiscalização tanto dos órgãos ambientais quanto de outras instituições municipais? O que justifica uma multa considerada baixa por contaminar a água para 60% da cidade? Haverá outras sanções, multas e penalizações aos responsáveis por isso?
E os questionamentos não param por aí: o tratamento de água no município realmente acontece a contento? O que explica essa água contaminada passar pela estação de tratamento e ser distribuída para a população? Por que o Saae demorou tanto tempo para emitir algum comunicado à população sobre a contaminação do manancial? Aonde estava a diretoria e o departamento de comunicação da autarquia municipal para passar instruções claras à população diante da contaminação dessa água? E por que o Saae não ofereceu soluções paliativas, como a distribuição de água mineral ou disponibilização de caminhões-pipa com água potável, para as pessoas que estavam impossibilitadas de contar o fornecimento do município? O que levou o Saae a não oferecer nenhuma assistência à população em meio a essa crise? Como será feito o ressarcimento ao consumidor lesado?
Para além dos acontecimentos envolvendo o manancial da Pureza, o problema da água em Itabira é antigo, crônico e recorrente. Não é difícil encontrar na imprensa publicações que registram as constantes reclamações sobre o desabastecimento ou o fornecimento de água com coloração escura — que mais se assemelha a um refrigerante de cola. Esses casos corriqueiros e que se acumulam sem a devida atenção do poder público também precisam ser abordados e justificados à população — já que é difícil encontrar alguma justificativa junto ao Saae, que ignora de maneira solene o tema. Porém, Marco Antônio Lage também optou por não fazê-lo, assim como não trouxe nenhum planejamento a médio prazo que possa minimizar a situação enquanto a captação de água no Rio Tanque — tida como solução — entre em operação.
Ao invés de aproveitar o momento para trazer um pouco de clareza em meio à turbidez dessa discussão, o prefeito de Itabira optou por tratar o problema da água como se fosse um mero caso atípico, causado pelo aumento de consumo diante a intensa onda de calor que atinge o País — o que, certamente, tem agravado a crise hídrica da cidade, mas está longe de ser a razão dos recorrentes desabastecimentos. Falta clareza: tanto para a água quanto para a comunicação.