Empresas de auditoria das Lojas Americanas podem estar envolvidas em fraudes
Os indícios apontam para possível participação das empresas de auditoria PwC e KPMG
Leonardo Coelho Pereira, CEO das Lojas Americanas, apresentou e-mails e outras trocas de mensagens com supostas provas de que os balanços da companhia foram alterados com a intenção de “inflar” artificialmente os lucros. Os documentos foram entregues pelo executivo à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga irregularidades contábeis da empresa.
Segundo as informações apresentadas por Leonardo Pereira, os indícios apontam para possível participação das empresas de auditoria PwC e KPMG. “Essas informações não me permitem tratar [o caso] como inconsistências contábeis”, disse o executivo em sua fala inicial na CPI.
Para justificar o seu posicionamento, ele apresentou uma troca de e-mails entre a diretoria das Lojas Americanas com a KPMG, nos quais é possível ver que a carta final com as recomendações da auditoria foi discutida em busca de uma redação que pudesse suavizar os termos usados, eliminando, por exemplo, expressões como “deficiências significativas”.
Em outro trecho do diálogo, substitui-se o termo “recomendações que merecem atenção do conselho de administração” por “recomendações que merecem atenção da administração”.
A mudança nos termos diminui o grau de gravidade ao dar a entender que os fatos existentes não precisavam ser levados ao conhecimento do conselho de administração e que poderiam permanecer em poder somente da diretoria.
Em outros documentos, Pereira apontou uma carta que dá indícios de que a PwC, outra empresa de auditoria, indicava como redigir o texto em que o termo “risco sacado” (mecanismo utilizado para operacionalizar a fraude) ofuscasse a fraude em si.
Outro e-mail apresentado por Pereira à Comissão mostra uma auditoria sugerindo o formato final de um texto em que declara “não ter conhecimento de determinados problemas”.
Os documentos apresentados pelo executivo também mostram a diretoria celebrando internamente mudanças no texto supostamente alinhados com o Banco Itaú nas cartas de circulação. Neles, o Itaú propõe a suavização do termo “sacado” por “emitido” — além de sugerir a aprovação do texto, parabenizando a todos os envolvidos e os conclamando a assinar o contrato, fechar a parte sistêmica e voltar a operar.
O CEO das Americanas ainda ressaltou à CPI que são comentadas mudanças em textos que mencionam o Santander. Pereira também apresentou um e-mail enviado pelo ex-diretor Marcelo Nunes, responsável pelo financeiro das Americanas, para toda a diretora da companhia.
Nas mensagens, Nunes apresenta um balanço chamado “visão interna” em que mostra um prejuízo antes de juros, impostos, depreciação e amortização para 2021 de R$ 733 milhões. No mesmo e-mail, há outro documento chamado “visão interna” que traz um lucro de R$ 2,9 bilhões para a mesma rubrica — sendo que este último foi o número apresentado para o mercado.
“Entre a ‘visão interna’ e a ‘visão conselho’ criou-se R$ 3,5 bilhões de resultados. A fraude da Americanas é uma fraude de resultados”, declarou Pereira.
Outro lado
A reportagem do jornal Folha de São Paulo procurou os representantes das empresa mencionadas por Leonardo Pereira.
A KPMG no Brasil se manifestou dizendo “que por motivos de cláusulas de sigilo e regras de profissão está impedida de se
manifestar sobre casos envolvendo clientes ou ex-clientes da firma”. Já a PwC, em nota, diz que não comenta temas de clientes por questões de confidencialidade e regras de sigilo profissional”.
O Itaú afirmou por meio da sua assessoria que “a elaboração das demonstrações financeiras é responsabilidade exclusivamente da companhia e seus administradores e que é leviano atribuir a terceiros a responsabilidade pela fraude, confessada pela companhia no dia de hoje”. Enquanto o banco Santander não respondeu às perguntas do jornal paulista.