“Espero que o governo Marco Antônio saia da campanha política e comece a trabalhar”
A DeFato, Neidson Freitas avalia os primeiros 100 dias de gestão do atual prefeito de Itabira. O parlamentar cobra do chefe do Executivo o diálogo e a atuação conjunta com os outros poderes para a saída da crise

Estreante na política, Marco Antônio Lage, do PSB, completou na última semana 100 dias no comando da Prefeitura de Itabira. O balanço de gestão foi apresentado por ele em live na noite de quinta-feira (15) – apresentação considerada tímida pelos mais críticos. O discurso de Marco Antônio, acompanhado de medidas genéricas, foi marcado pela reiterada crítica ao governo anterior, do ex-prefeito Ronaldo Magalhães (PTB). Embora possa ser pouco tempo para demonstrar resultados práticos, lideranças políticas aguardavam, pelo menos, sinalizações de grandes feitos.
Para o vereador Neidson Freitas (MDB), que revela protagonismo na frente de oposição no Legislativo Municipal, é esperada do prefeito de Itabira uma melhor performance no diálogo com as instituições, além da inovação na gestão pública e a atuação equilibrada para superar as dificuldades impostas pela Covid-19.
Em entrevista, Neidson observa o principal desafio da atual gestão: a governança pública, que difere da privada, e é fundamental para a superação dos obstáculos existentes em Itabira, cidade onde é urgente o desenvolvimento além das fronteiras da Vale.
Neidson tem 39 anos e está em seu quarto mandato na Câmara de Itabira. Foi eleito pela primeira vez para a legislatura 2005/2008. Nos três mandatos anteriores, o parlamentar ocupou cadeira na Mesa Diretora, sendo eleito presidente da Casa em dois momentos.
DEFATO – O atual prefeito tem correspondido suas expectativas na condução do Poder Executivo?
NEIDSON FREITAS – Ganhar uma eleição é muito difícil – só não é mais difícil do que governar. Infelizmente, percebo que essas dificuldades o atual prefeito enfrenta, na prática. Na campanha política, [Marco Antônio] desenhou uma expectativa para o itabirano de muitas facilidades, transformações e ações propostas por quem, naquele momento, não conhecia a máquina pública. Até aqui temos 100 dias de governo, infelizmente sem nada! Uma das poucas promessas que o governo tem cumprido é a de tirar os secretários que não tiveram desenvoltura no decorrer dos 100 primeiros dias. A secretária [municipal] de Saúde foi exonerada [Eliana Horta], diante do fracasso na condução da pasta em meio à atual crise que atravessamos [enfrentamento à Covid-19]. Não houve gestão de crise, faltou conhecimento de causa para gerir uma secretaria tão complexa. Aliás, não somente na Saúde, como em outras áreas, o que observamos é o desmantelamento de uma estrutura que funcionava. Isso é muito preocupante! Há muita coisa que deixou de funcionar simplesmente para que fosse substituída – equipe, questões políticas e eleitorais, encerramento de contratos que estavam funcionando – e isso reflete na continuidade da prestação de serviços para a população.
DEFATO – O que espera à frente?
NEIDSON – Eu espero que o governo consiga se organizar, possa colocar as coisas para funcionar e que consiga pelo menos fazer quatro anos em… quatro anos! Isso porque foi prometido fazer quarenta anos em quatro. Quem tinha uma meta tão audaciosa como essa está bem atrasado! A expectativa que eu tenho à frente é que o governo saia da campanha política, deixe o palanque eleitoral e as intrigas político-partidárias e comece a trabalhar, comece a entregar resultados, em vez de ficar sonhando e fazendo a manutenção de um discurso repetido de críticas à gestão passada. A gestão é a do presente, é a de hoje! Temos problemas para lidar e resolver! Eu espero que o Marco Antônio Lage, aquele tão aclamado por seu sucesso empresarial, volte. Porque o que está aí não é esse, é mais do mesmo: o discurso político repetitivo, o apadrinhamento político, o varejo de sempre.
DEFATO – Que pontos positivos elenca da nova gestão nesta primeira fase?
NEIDSON – O ponto positivo do governo foi dar continuidade às obras que já estavam licitadas. Parabenizo o prefeito por ter tido essa consciência. Infelizmente, em outros setores há retrocesso, mas a secretaria de Obras [Transportes e Trânsito] tem desenvolvido bom papel e entregado obras que eram esperadas pela população. A continuidade na execução de projetos já elaborados tem dado certo.
DEFATO – E os pontos fracos ou negativos?
NEIDSON – O principal ponto negativo é não sair do ambiente eleitoral. É grave e até agora esse comportamento tem se demonstrado na condução da prefeitura, com ações pequenas. A gente espera a grandiosidade do governo em suas ações. O itabirano escolheu o atual prefeito – decisão que nós respeitamos – como uma pessoa grande, mas [ele] tem tido ações de pessoas pequenas.
DEFATO – A condução do município no combate à pandemia é, a seu ver, a mais apropriada?
NEIDSON – Faltou diálogo na condução do município para o combate à pandemia. O governo passado conduziu um período longo [de restrições], mas com diálogo, flexibilidade na discussão, no trato com as instituições, com os empresários e com a população. Havia, no passado, um diálogo mais leve e com mais abertura. Faltou diálogo sobretudo por parte de quem estava à frente da Secretaria Municipal de Saúde, o que está comprovado na exoneração da secretária [Eliana Horta]. Isso acontece nas pastas que não estão dando certo e as pessoas são substituídas; demonstra o erro do prefeito na escolha da equipe. A condução dessa área foi ruim e os resultados estão aí, com os números negativos da pandemia. Desejo sucesso à nova secretária [Luciana Sampaio]. Que traga conhecimento e bons resultados.
DEFATO – Como avalia, neste momento, o relacionamento entre o Poder Executivo e o Legislativo Municipal? O diálogo está alinhado?
NEIDSON – No que tange à Câmara, falo por mim: não tenho relacionamento político com o atual prefeito; não tive a oportunidade de conversar com ele. Ele [Marco Antônio Lage] segue o projeto político dele e nós vamos seguir fazendo o nosso trabalho fiscalizando, acompanhando e cobrando, ajudando Itabira usando a nossa voz e o nosso conhecimento no que diverge da legalidade, no que diverge do que é importante para o itabirano.
Não posso falar pelos outros vereadores, mas não existe diálogo do governo comigo. Com os demais vereadores, observo uma chuva de críticas na Câmara. Vários vereadores já se manifestaram contra a falta de diálogo. O governo não tem atendido as demandas da população que são levadas ao Executivo pelos vereadores. Substituições ocorrem quando há coisas que dão errado. Houve erro do prefeito em colocar uma pessoa inexperiente e imatura à frente de uma pasta muito forte no quesito de articulação política, de entendimento político com a Câmara. O Gabriel [Quintão] foi substituído, uma vez que não estava apto para a função – precisou trazer apoio, no caso de Torrinha [ex-vereador Geraldo Magela Pena Torres, realocado no governo para auxiliar a interlocução com a Câmara], o que melhorou o relacionamento com os vereadores, mas, ficou comprovada a ineficácia do secretário [Gabriel Quintão], uma vez que ele caiu. Entra um novo secretário [Márcio Passos], a quem desejo sucesso. Ele [Márcio] tem uma folha corrida de serviços prestados na articulação política, na administração pública. Acredito que o diálogo venha a melhorar com a experiência do atual secretário.
DEFATO – O que falta nesse relacionamento com os parlamentares?
NEIDSON – Falta o prefeito entender que ele não governa sozinho e precisa discutir as ações que ele pretende tomar em Itabira com a Câmara, eleita pelo povo. Quando ele entender que a Câmara tem papel fundamental às decisões da cidade, as coisas vão fluir melhor. Aí, os vereadores vão conseguir levar para o prefeito o anseio do povo e vão conseguir auxiliá-lo na condução da cidade. Do contrário, fica divergente uma Casa legislativa sem a devida participação na condução do município. Isso não representa a vontade popular. O prefeito não pode achar que os vereadores são meros carimbadores de projetos enviados pela Prefeitura. Nosso trabalho vai muito além disso.