“Estreia” de Jardim dá bons sinais, mas Cruzeiro tem muitos problemas a resolver
Treinador comandou a Raposa pela primeira vez no Mineirão no último domingo
Sim, “estreia” entre aspas mesmo. Impossível levar em consideração o jogo contra o Democrata-GV, o último da primeira fase, em Sete Lagoas. Um Cruzeiro com time reserva e pouquíssimo tempo de preparação.
Ao contrário da primeira das duas partidas contra o América-MG pelas semifinais, desta vez com o considerado time titular. Em comparação com o time do Diniz, apenas uma mudança mais radical: Eduardo no lugar de Marquinhos. A intenção, imagino, era preencher melhor o meio campo, mas sem perder volume no chamado último terço, onde as coisas se resolvem.
No primeiro tempo, não deu certo. Especialmente pelos lados, o Cruzeiro ofereceu muitos espaços não aproveitados pelo rival. A vitória parcial nos primeiros 45 minutos, construída após pênalti bobo feito por Adyson e convertido por Gabigol, escondeu uma atuação muito fraca. Mais uma, aliás.
No segundo tempo, as coisas melhoraram. A verticalidade e a intensidade na marcação exigidas por Leonardo Jardim apareceram. Durante 30 minutos, o Cruzeiro se protegeu melhor e ainda criou chances para ampliar, com direito a bola na trave do ótimo Matheus Henrique.
Mas uma falha na marcação, aos 31 minutos, deu o empate ao América. Livre pelo meio, Barros chutou forte, a bola desviou em Jonathan Jesus e enganou Cássio. Ao fim da partida, um misto de vaias dos insatisfeitos e aplausos de quem viu alguma melhora na tarde deste domingo.
Não há dúvidas de que Leonardo Jardim fará esse time evoluir. A atuação do segundo tempo é um exemplo disso. Mas o Cruzeiro possui muitos problemas que vão além dele.
O elenco é limitado e desequilibrado, com problemas principalmente no ataque. O Cruzeiro não possui pontas confiáveis. Sua melhor peça, Dudu, é um veterano que precisará se reinventar para seguir em alto nível. Esqueça aquele jogador rápido e incisivo no mano a mano, ele já não existe mais.
Bolasie, Lautaro e Marquinhos, vez ou outra, podem entregar algo, mas não são 100% confiáveis. Dos reforços mais recentes, apenas Matheus Henrique e Jonathan Jesus justificam, até então, o investimento. Fabrício Bruno ainda pode entregar mais, mas precisa de um time mais organizado defensivamente para tal.
Cássio tem sido um desastre. As inúmeras falhas são exemplos concretos da falta de segurança debaixo das traves, o que já vinha ocorrendo em seus últimos anos no Corinthians.
E para além disso tudo, ainda há a má fase de atletas que eram, há pouco tempo, referências técnicas do time. William e Matheus Pereira (este um pouco menos) não entregam boas atuações seguidas há meses, e vivem atualmente uma relação de amor e ódio com o torcedor. Trata-se apenas de um momento técnico ruim ou há outros fatores por trás? Cabe ao clube diagnosticar e resolver.
Diante de tudo isso, fica claro que será preciso muito tempo e trabalho para as coisas se ajustarem no Cruzeiro. Hoje existe uma grande desconexão entre time e torcida, cujo temor é por mais um título estadual do Atlético.
A chegada de Leonardo Jardim é um privilégio e chance enorme para começar a mudar este cenário. Mas não basta. Do campo ao vestiário, passando pelas arquibancadas, a Raposa precisa se reconectar.
P.S.: Na semana passada, o tema da coluna seria, obviamente, o primeiro clássico do ano. Mas poucas horas antes do jogo perdi meu tio e padrinho. Um baque enorme, que me impediu de escrever qualquer coisa.
Victor Eduardo é jornalista e escreve sobre esportes em DeFato Online.
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