Ex-detento cria a ‘Loja do Preso’ e faz sucesso vendendo itens permitidos nas cadeias
A loja foi criada em 2018 e tem entre suas mercadorias, alimentos, itens de higiene pessoal e peças de vestuários
Empresário de 44 anos, o ex-detento, Perícles Ribeiro, criou uma loja voltada, mais especificamente, às famílias de presidiários/as, que podem encontrar em seu estabelecimento tudo o que é permitido entrar nos presídios, além de outros itens para todo tipo de clientela.
A loja foi criada em 2018 e tem entre suas mercadorias, alimentos, itens de higiene pessoal, peças de vestuário e até eletrônicos, com a mesma estrutura de uma mercearia de bairro, mas sem a placa indicativa na fachada da especificidade dos seus produtos, para manter a discrição dos fregueses e não constrangê-los, mantendo um catálogo restrito do que pode ou não entrar em cada penitenciária de Minas Gerais.
Péricles ficou preso por 83 dias em 2016 e falou do preconceito e da dificuldade em conseguir emprego após sua liberação do presídio, mas driblou a adversidade com a solução para um problema que ele enfrentou na cela, como a dificuldade dos familiares seguirem à risca as determinações das autoridades penitenciárias quanto aos produtos levados aos presos, quando muitos produtos são deixados para trás, impedidos de ingressarem na unidade prisional.
“Quando minha esposa foi me visitar, muitas coisas que ela levou não entraram. Depois, meu sobrinho foi preso e eu senti a mesma dificuldade. As exigências mudam de uma unidade para outra, não é fácil”.
Estrategicamente, Péricles montou sua loja próxima do Fórum Lafayete, na Avenida Augusto de Lima, e próximo também da Defensoria Pública, em Belo Horizonte.
Os produtos mais procurados são os kits montados e despachados a pedido das famílias que, por não possuírem um número mínimo de itens, variam no preço.
Ele vende em média 450 a 500 unidades de cestas por mês, e admite que o sucesso do seu empreendimento o faz pensar em franquear o modelo do negócio.
“Temos pessoas de São Paulo, Rio e Santa Catarina interessadas e acredito que em breve teremos novas unidades pelo Brasil”.
Outra rotina do seu empreendimento é a tradução dos pedidos dos presos aos seus familiares, geralmente feitos em denominações inusitadas e curiosas dos produtos.
O rádio relógio é papagaio, o cortador de unha é quebra-gelo, lâmina de barbear é trator e cueca é coruja.
“Aprendi a decifrar as cartas com o que aprendi enquanto estava preso”.
Péricles não se limita a produtos prontos. Ele confecciona e comercializa uniformes prisionais para unidades que permitem a entrada das peças. A venda de cigarros tinha um papel de destaque no seu comércio, mas com a proibição, a venda caiu. A comercialização de alimentos é hoje seu principal produto.
O empresário aposta em vídeos bem humorados postados nas redes sociais como forma de evidenciar a sua loja, e um desses vídeos tem mais de 700 mil visualizações.
Ao menos 70% de seu comércio são feitos pelo Whatsapp e os pedidos são despachados pelo correio.