Guerra das tarifas: a não ser que o Brasil adote defesa comercial, o que está ruim pode piorar, diz CEO da Gerdau

Werneck acredita que os subsídios chineses criam uma falsa competição em que o setor siderúrgico brasileiro não consegue sobreviver

Guerra das tarifas: a não ser que o Brasil adote defesa comercial, o que está ruim pode piorar, diz CEO da Gerdau
Foto: Divulgação/Gerdau

Voz discordante das práticas comerciais chinesas, Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, gigante da metalurgia, faz um alerta e cobra ações urgentes que evitem a invasão dos produtos chineses subsidiados.

Werneck analisa que as tarifas aplicadas por Donald Trump ao mercado mundial possam ser uma janela de oportunidade para que o Brasil acelere o debate sobre defesa comercial, mas faz ressalvas: “Minha questão nunca é proteção. É defesa. Queremos apenas condição para competir de igual para igual. É impossível imaginar o aço chinês entrando no Brasil  com preço menor do que o que a China paga no minério. Isso é claramente dinheiro do governo chinês para manter emprego e renda lá, e evitar confusão social”, afirmou Werneck em entrevista à EXAME durante o South Summit Brazil 2025, evento que ocorre, na capital gaúcha.

Werneck acredita que os subsídios chineses criam uma falsa competição em que o setor siderúrgico brasileiro não consegue sobreviver quando o aço entra no país mais barato que o custo de produção nacional, o que representa uma ameaça direta à competitividade da indústria brasileira.

Na entrevista, minimizou os efeitos da tarifa do governo Trump sobre as operações da Gerdau nos Estados Unidos, já que a produção no país é totalmente voltada para o consumo interno.

Ao contrário, ele vê a medida com bons olhos. “Toda a nossa produção de aço é no mercado dos EUA. É como se fôssemos uma empresa americana. Qualquer incentivo para produção local, redução de custos de energia e investimentos em infraestrutura nos favorecem”.

Werneck vê com preocupação a guerra tarifária dos Estados Unidos com a China, com o possível redirecionamento do excedente do aço chinês para mercados mais frágeis, em especial os da América Latina, mais frágeis na sua economia, da dependência de acordos e falta de competitividade. 

O  que forçaria os chineses a buscarem mercados mais frágeis, como o Brasil, México, Colômbia, Chile, Argentina, onde as barreiras são menores, o que pode intensificar ainda mais a pressão à já enfraquecida indústria local.

“A não ser que o Brasil coloque mecanismos de defesa comercial para equilibrar o jogo, e no prazo mais curto possível, o que está ruim pode piorar. O momento exige urgência e posicionamento político. O Brasil está ao lado das empresas brasileiras, de uma indústria moderna, competitiva? Ou vai continuar deixando a porta aberta? Agora é hora de o governo dar clareza e senso de urgência”.

Segundo Werneck, o Brasil está com dificuldade em reagir ao avanço chinês por causa da desarticulação entre os próprios setores produtivos.

“Aqui a minha voz é única, e me surpreende isso. Os setores vão lá e combatem, mas ao mesmo tempo estão pedindo defesa comercial para eles mesmos. Nos Estados unidos, existe o entendimento de que a cadeia toda precisa ser protegida. Aqui, o cliente briga com o fornecedor na frente do governo. A crítica é direta: falta uma política industrial coesa que trate a indústria nacional como prioridade estratégica. Se a indústria não é importante para o Brasil, então que se diga isso claramente, e a gente toma a decisão de investir em outro lugar. O que complica é a falta de segurança e clareza”.

E prossegue: ” A expectativa do setor é por novas medidas até o fim de maio. Caso isso não ocorra, a Gerdau pode revisar planos de investimento no Brasil. Vamos ter que rever nossas decisões, não só de curto prazo, mas também de alocação de capital no longo prazo”.

O executivo lembra que o peso da indústria no PIB brasileiro caiu nas últimas décadas e tem impactos em inovação, arrecadação e geração de emprego.

“A indústria representa 23% do PIB, mas responde por 66% dos investimentos em inovação, 40% dos impostos federais e 25% da contribuição previdenciária. Como é que mantém um país sem isso?”

Werneck defende, em parte, as medidas tomadas por Trump, ainda que duras, pois tem ao menos um mérito: provocar reação. “Apertaram o botão da confusão, e agora os acordos vão ser melhor construídos”.

* Fonte: Exame.