Maíra Baldaia: A voz itabirana que emite força, musicalidade e representação
Quando o assunto é singularidade e representação, o nome da itabirana Maíra Baldaia ecoa. Dona de uma das vozes que pulsa na contemporaneidade, a cantora carrega consigo as influências da terra do poeta Carlos Drummond de Andrade e da família, tradicionalmente ligada à cultura. Com letras que refletem sobre empoderamento e negritude, Maíra canta e […]
Quando o assunto é singularidade e representação, o nome da itabirana Maíra Baldaia ecoa. Dona de uma das vozes que pulsa na contemporaneidade, a cantora carrega consigo as influências da terra do poeta Carlos Drummond de Andrade e da família, tradicionalmente ligada à cultura. Com letras que refletem sobre empoderamento e negritude, Maíra canta e interpreta com originalidade canções com inferências à afro-mineiridade.
A cantora que desponta no cenário musical mineiro, com shows pelo Brasil e no exterior, falou com exclusividade a DeFato Online. Na entrevista a seguir, Maíra Baldaia conta um pouco sobre suas vivências, valores e objetivos. Confira o resultado dessa conversa:
Quando você se descobriu cantora?
Eu não sei ao certo quando me descobri cantora porque a arte sempre esteve muito presente na minha vida pelo fato dos meus pais serem produtores. Então, desde muito novinha eu já estava em contato com esse universo, e isso foi muito natural para mim. Já veio e aconteceu para mim. Na minha infância, eu brincava de compor gravando músicas em um radinho de fita e fazendo teatrinhos para a família. Aí eu fui estudar, fazer teatro e depois canto na Bituca [Universidade de Música Popular].
O fato de Itabira ser considerada uma cidade que pulsa arte influenciou na sua vivência musical?
Itabira tem grande influência na minha trajetória artística, foi aí o meu primeiro contato com isso tudo. Tem grandes artistas itabiranos que me inspiram, entre eles o saudoso Mestre Baiandeira [Newton Baiandeira]. Também sempre tive contato com a poesia de Carlos Drummond de Andrade. Foi em Itabira onde cantei pela primeira vez, fiz teatro pela primeira vez. É uma cidade muito artística e com certeza isso me ajudou a moldar quem eu sou.
Qual a importância das suas letras para as mulheres contemporâneas? Você se vê como uma voz de representação?
Eu tenho percebido que sim, que a minha música está em um lugar de representatividade para as mulheres e eu fico muito feliz com isso. Acho que quando estamos falando da gente com verdade conseguimos tocar as outras pessoas. Eu tento trazer na minha música o amor próprio da mulher, a força da mulher e isso mexe com muita gente. Eu recebo feedbacks interessantes de mulheres que estão me ouvindo, levando a minha música para a terapia, para a aula, processos artísticos, dança… enfim, a minha música vai ganhando potências e lugares que não imaginava.
Para você, cantar pode ser considerado um ato de resistência?
Para mim, a arte está sim em um lugar de resistência. Eu não consigo separar a vida artística da minha vida política, do ser que eu sou, da cidadã que eu sou. Então, as minhas letras trazem isso.
Quando você decidiu ser uma cantora que expressa nos seus trabalhos as influências da afro-mineiridade?
A afro- mineiridade sempre esteve presente na minha trajetória pelas minhas vivências desde criança, por estar ligada à religião de matriz africana. O contato que fui tendo com o Tizumba e os meninos (Meninos de Minas, grupo criado por Cléber Camargo, pai de Maíra) também me aproximou do congado mineiro. Então, isso foi um processo natural por ser algo que me toca muito. Na hora que vou compor, essa referência é forte no meu trabalho. Ela é inerente a que eu sou.
Como você se sente ao ser considerada uma das cantoras que prometem chacoalhar a musicalidade brasileira?
Eu fico honrada e feliz. Eu acho que tem muita qualidade no Brasil atualmente. As mulheres estão ocupando os seus espaços e mostrando para que vieram. Pretendo continuar trabalhando muito para que essa voz ecoe e chegue ainda mais em outras pessoas, em outras mulheres.
Os seus dois vídeo-clipes lançados – “Faixa Insubmissa” e “Só por um instante” – somam juntos mais de 90 mil visualizações. O sucesso já te assustou alguma vez?
Eu desejo que esse alcance seja cada vez maior e por isso não me assusta. Eu trabalho para isso. Alcançar cada vez mais pessoas porque eu acredito na arte como algo transformador. Desejo que ecoe muito, com mais visualizações para que possa se espalhar.
Qual foi o show que mais marcou a sua carreira? Por quê?
Eu tenho muitos shows que foram especiais, mas eu poderia levantar dois momentos. Um em 2017, no espaço Nora, em Portugal, no Festival Encontro de Culturas, foi muito emocionante. O outro é mais recente, o lançamento do DVD no Itaú Cultural com um público muito especial. São passos na carreira que alimentam e recarregam, por isso são marcantes.
Já existiu algum momento em que você pensou em desistir?
Todo mundo que é artista pensa em desistir . A gente lida com uma instabilidade financeira muito grande, principalmente quem é artista solo.É muito investimento até que a engrenagem comece a realmente girar. Na verdade, esse investimento vai só aumentando mas, ao mesmo tempo, é recompensador porque faço com muito amor. Ver a resposta das pessoas a isso faz a gente querer continuar.
Qual a sua maior dificuldade como mulher, negra e cantora no cenário atual?
Eu acho que estamos em um momento muito bom, pulsante, em que estamos tendo cada vez mais espaço. Muitas mulheres estão em ascensão. Por exemplo, a Luedji Luna começou a despontar, e a Hellen Oléria, ganhou o The Voice. Uma mulher leva a outra. Quando eu lanço um DVD essa reação fortalecer ainda mais outras mulheres. As dificuldades existem, preconceito no cenário musical também, mas existem muitas portas e muito trabalho. Com uma rede de mulheres que se ajudam pela representatividade. A ideia é sempre ser pautada na igualdade. Tem espaço para todo mundo.
Como está a expectativa para a gravação desse DVD? Como surgiu a oportunidade de lançá-lo no Itaú Cultural?
O DVD foi gravado, em maio, na cidade de Belo Horizonte.Foi um momento muito especial, com casa cheia. Fazer o lançamento no Itaú é muito importante por ser um espaço formador de opinião em São Paulo. Ficamos muito felizes em levar o nosso trabalho para esse lugar. Talvez venha um segundo disco, expansão esse dvd para fazer com que circule cada vez mais.