Minas Gerais ganha Museu das Culturas na margem do Rio São Francisco

Uma das mais tradicionais e imponentes construções do sertão mineiro, com mais de um século de história, tornou-se oficialmente Museu das Culturas do Rio São Francisco. No local funciona também o Centro Educacional de Buritizeiro, da Fundação Caio Martins (Fucam), instituição que completou 70 anos de existência em 2018. A oficialização do museu é uma […]

Minas Gerais ganha Museu das Culturas na margem do Rio São Francisco
Foto: Michelle Parron/Fucam

Uma das mais tradicionais e imponentes construções do sertão mineiro, com mais de um século de história, tornou-se oficialmente Museu das Culturas do Rio São Francisco. No local funciona também o Centro Educacional de Buritizeiro, da Fundação Caio Martins (Fucam), instituição que completou 70 anos de existência em 2018. A oficialização do museu é uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Portaria 010/2018 da Fucam, publicada em 21 de novembro de 2018.

Em 1° de setembro o casarão já havia sido tombado como Patrimônio Histórico Estadual de Minas Gerais, conforme deliberação do Conselho Estadual de Patrimônio Cultural. Situado na margem esquerda do “Velho Chico”, em Buritizeiro (território Norte), o prédio, que chama a atenção pela grandeza, está distante 365 km da capital Belo Horizonte.

A estrutura de 105 anos foi projetada pelo arquiteto italiano Miguel Micussi e erguida pela Marinha do Brasil para abrigar a Escola de Aprendizes Marinheiros de Minas Gerais, curso oferecido durante dez anos.

Em seguida foi Escola de Agricultura, Hospital Regional Carlos Chagas, referência no combate às epidemias presentes no sertão daquela época e, posteriormente, unidade da Fucam, que ainda trabalha com cursos complementares para jovens em seis municípios mineiros.

Segundo o presidente da Fucam, Gildázio Alves dos Santos, existe um movimento da comunidade, formado por servidores da Fucam, ex-servidores e ex-alunos do entorno, que se mobilizou pelo museu. “Isso nos inspirou a criar um espaço de fruição conhecimento, troca de saberes, resgate de valores e de costumes. Um lugar para sistematizar o que é produzido ali na barranca do São Francisco”, explica.

Gildázio Santos ressalta que existe uma riqueza cultural da região que precisa ser sistematizada no espaço definido, valorizando o que se faz ali, referindo-se às artes, produção de alimentos, culinária, literatura e outras formas de expressão do povo barranqueiro.

Servidora da Fucam há 15 anos, com formação em magistério superior e serviço social, Maria Alice Correa, que coordena o Comitê de Implantação do Museu das Culturas, fala do espaço com entusiasmo. “A nossa ideia e o nosso propósito aqui é de trabalhar a cultura regional, a dimensão histórica e patrimonial”.

Maria Alice conhece bem o lugar e sabe dos desafios que existem relacionados à estrutura física de um prédio centenário que sofre das ações implacáveis do tempo. Mesmo assim ela se diz otimista quando se refere à restauração, começando pelo telhado. “É um sonho não apenas da Fucam, mas de Buritizeiro e região, pois é um prédio histórico muito bonito, que precisa ser restaurado para continuar produzindo riqueza cultural”, afirma.

A coordenadora do Comitê de Implantação do Museu detalha que atualmente o espaço está recebendo exposições da arte que é produzida na região. Ao mesmo tempo, os servidores da Fucam estão recebendo capacitação do Sistema Mineiro de Museus, ligado à Secretaria de Estado de Cultura, para que a implantação ocorra dentro das normas estabelecidas para esse tipo de equipamento cultural.

O acervo do Museu das Culturas visa contemplar Buritizeiro, Pirapora e todos os municípios da extensão do Rio São Francisco, inclusive de outros estados. “Nossa equipe vai receber o acervo que pode ser composto por vestimentas, peças artísticas, instrumentos musicais, ferramentas rudimentares que fazem parte da história do povo barranqueiro, bem como arquivos físicos e digitais”, conclui.

Como representante da comunidade de Buritizeiro, o ex-aluno da Fucam, hoje aposentado, Olímpio Rodrigues da Silva diz que o prédio tem um significado especial, pois a cidade nasceu em torno dele.

 “É uma história de muita relevância que foi escrita a partir da iniciativa de um coronel para acolher crianças carentes. Eu fui uma dessas crianças e graças ao tempo em que lá estive, pude estudar, trabalhar e ser um homem de bem. A relação com aquele lugar é semelhante a de um filho com a mãe”, revela animado com a ideia de um museu concebido com a sua participação.

Restauração do prédio

Com a parceria do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), a Fucam já tem pré-projeto das necessidades de restauração do prédio de Buritizeiro, destacando as mais imediatas como o telhado, as instalações elétricas e hidráulicas. Houve mobilização da comunidade da região e conseguiu-se a inserção de uma emenda popular de R$2 milhões no orçamento de 2019, destinados ao começo da restauração do Museu das Culturas.

“O telhado é o mais urgente. No segundo andar o piso é de madeira e não podemos colocar pessoas para nenhuma atividade, pois todas correriam risco. Assim estamos obedecendo às recomendações do Corpo de Bombeiros para que consigamos esperar os recursos”, disse Gildázio.