Idioma é uma barreira para haitianos que querem trazer filhos para Itabira
Reportagem especial da DeFato Online relata o drama da família separada após o trágico terremoto no Haiti em 2010
Sem dinheiro e sem conhecer ninguém no Brasil, o casal de haitianos Hernante Valcourt, de 33 anos, e o marido llnez Jean, de 45 anos, tem no idioma uma outra grande barreira a ser superada, além da falta de dinheiro e de documentação, para trazer os filhos do Haiti para Itabira, onde moram. Os meninos Ivanot Jean, de 13 anos, e Jowendy Sajoux, de 16, estão longe de Ilnez desde 2011 e da mãe desde 2014.
A DeFato Online começou a contar o drama do casal nessa sexta-feira (5). Os pais vieram para o Brasil após o terremoto que devastou o país em 2010, mas até hoje não conseguiram o dinheiro nem os documentos necessários para trazer os dois meninos.
Hernante conta que, ao pisar no Brasil, logo começou a buscar ajuda para poder trazer os filhos. Porém, as dificuldades impostas por não dominar o idioma local, as leis brasileiras e, ainda, não conseguir um emprego rapidamente deixaram cada vez mais distante o sonho de rever Ivanot Jean e Jowendy Sajoux. “Não conseguia me comunicar e tinha medo de ser vítimas de golpes, pois já tinha sofrido vários no Haiti”, conta a haitiana.
Ela morava com a família em Plateau Central, uma pequena cidade onde ela nasceu e que fica na fronteira com a República Dominicana. Lá a língua predominante é o crioulo haitiano, uma derivação do idioma francês. Hernante também domina, além do crioulo, o castelhano, língua parecida com o espanhol. Ela aprendeu o dialeto após viver cinco anos na República Dominicana. Já o português, idioma do Brasil, nunca tinha feito parte da comunicação da haitiana.
Hoje, Hernante busca aprender mais o português para se comunicar melhor e, assim, conseguir mais ajuda para trazer os filhos. Com apenas o 3° ano do ensino fundamental completo, ela voltou a estudar no programa de Educação para Jovens e Adultos (EJA), na Escola Municipal Cornélio Penna. As dificuldades com o português ainda são muitas, mas a cada dia ela consegue avançar mais para superar esse desafio.
Golpes e burocracia prejudicam aquisição de documentos
Antes de chegar ao Brasil, a haitiana Hernante lutou para conseguir pagar pelo passaporte e visto, documentos necessários para viagens internacionais. Das três tentativas para conseguir a documentação, duas ela contou ter sido vítima de golpes. “Eu consegui o dinheiro e entreguei a agenciadores internacionais, prática comum no Haiti. Mas não recebi o passaporte nem o visto”, lembra.
Ela ainda tentou buscar assessoria jurídica com um advogado, mas também foi vítima de outra cilada. O documento de identidade que precisava para embarcar estava com a assinatura falsa. “Eu poderia ter sido presa”, conta Hernante.
Depois de muito sufoco e de pagar 4.500 dólares para um terceiro agenciador, Hernante embarcou para o Brasil em 2014. A haitiana veio para Itabira com o objetivo de encontrar com o marido lnez Jean. Ele havia conseguido um emprego na cidade e já estava há três anos no país.
Hoje os dois lutam para juntar dinheiro para trazer os filhos e obter a documentação necessária para a viagem. Mas além da preocupação com os meninos, Hernante e Ildez também precisam se preocupar com a legalidade da permanência do casal no país. “Meu passaporte precisa ser renovado até setembro”, diz Hernante.
Leia amanhã o relato da haitiana Hernante sobre o primeiro Dia das Mães, no último mês de maio, em que ela não conseguiu falar ao telefone com os filhos