Itabira enfrentará nova crise hídrica em 2025, afirma presidente do Saae

“Muito provavelmente nós teremos mais dois períodos de estiagem, ainda com escassez hídrica na cidade”, completou o prefeito Marco Antônio Lage (PSB)

Itabira enfrentará nova crise hídrica em 2025, afirma presidente do Saae
Foto: Jackson Faustino/DeFato
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O diretor-presidente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Itabira, Valdeci Luiz Fernandes Júnior, afirmou que o município terá pela frente mais um ano com problemas de escassez hídrica. A declaração foi dada nesta quinta-feira (20), durante a cerimônia de início às obras de captação de água e construção da Estação De Tratamento de Água (ETA) do rio Tanque – projeto visto como a solução para os problemas de abastecimento de água em Itabira. 

“Vocês sabem o que nós estamos passando na questão da escassez hídrica. No ano passado nós enfrentamos [a maior] seca de 60 anos. A região Sudeste ficou muito prejudicada, principalmente Itabira. Chegou o caso da gente ter que socorrer caminhões-pipas em determinadas comunidades, e esse ano não vai ser muito diferente não. [A captação de água no Rio Tanque] vem a calhar. É claro que vai levar aí um tempo para a inauguração, até chegar 2027. Mas já estamos nos preparando para a escassez hídrica deste ano e vamos lutando até inaugurar esse projeto, que é um projeto importante”, afirmou o presidente da autarquia durante seu discurso na cerimônia. 

Questionado pela DeFato sobre quais ações o poder público já vem tomando neste momento, durante o período chuvoso, para tentar minimizar os impactos na época da futura seca, o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) respondeu que o Saae deverá manter e intensificar as práticas feitas em 2024. “Precisamos fazer racionamento e manobras para não deixar faltar água. Em alguns bairros não falta e outros faltam, nós precisamos distribuir essa água de forma igualitária para toda a população. Nós precisamos abrir poços artesianos, isso infelizmente é ruim para o meio ambiente, mas na crise é necessário perfurar poços artesianos com a ajuda da Vale para poder ajudar nesse abastecimento”, disse Marco Lage.

Ainda segundo o prefeito, se for preciso, o Saae também irá “trazer água em caminhão-pipa do rio Tanque”, como foi feito em 2024 para aumentar o nível dos reservatórios da cidade. 

“Nós sabemos que vai faltar água, já vem sendo assim. As obras do rio Tanque só ficarão prontas daqui, pelo menos, um ano e meio. Muito provavelmente nós teremos mais dois períodos de estiagem, ainda com escassez hídrica na cidade. Mas as medidas vão sendo tomadas”

Foto: Guilherme Guerra/DeFato

De acordo com números apresentados pelo representante do Saae aos vereadores da Câmara Municipal, somente em 2024, Itabira captou 10.0003.122 m³ de água, onde 6.949.345 m³ foram distribuídos à população. A diferença entre a quantidade produzida e a que foi distribuída nas casas é de 3.053.777 m³, o que equivale aproximadamente a 30,53% de perda em apenas um ano. 

O alto desperdício, segundo Valdeci Fernandes, é causado principalmente pela má qualidade das redes de distribuição da cidade, que em sua grande quantidade são antigas e feitas com amianto ou ferro fundido. De acordo com o diretor-presidente, a situação demanda um alto investimento para o problema ser resolvido: “O primeiro ponto é trocar todas essas redes da cidade. A malha é muito grande, e com o dinheiro de arrecadação do Saae, a gente não consegue substituir isso não. É correr atrás do “dinheiro perdido” com o Governo Federal, Ministério da Cidade, Governo Estadual, emendas parlamentares… conseguir recursos pra trocar essas malhas na cidade de ferro fundido e amianto”, disse.

Questionado sobre outras ações que serão feitas para solucionar – ou pelo menos diminuir o desperdício de água –, Valdeci anunciou que o Saae começou um trabalho para delimitar a zona de pressão da cidade, para evitar rompimentos de rede, bem como a otimização das limpeza das Estações de Tratamento de Água (ETA’s) e os seus decantadores. “São ações que nós vamos começar a tomar agora, dentro da engenharia, para diminuir essa perda. Porque 30% é muito grande, né? Eu concordo com vocês e nós temos que diminuir essa perda”, finalizou.

Captação de água do rio Tanque

A captação no rio Tanque aumentará a capacidade de fornecimento de água para 600 litros por segundo (l/s), volume considerado superior ao consumo atual de água da população de Itabira, estimado em 400 l/s. As obras do do projeto custarão aproximadamente R$1,17 bilhão e serão totalmente custeadas pela mineradora Vale, através de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC)  firmado em 2020, envolvendo Vale, Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o município e o Saae – com acompanhamento da AECOM, empresa de auditoria externa.

As obras terão duração estimada em cerca de três anos e incluem a implantação de uma adutora de 25 quilômetros, três estações elevatórias de bombeamento de água, um tanque de alimentação direcional e uma câmara de transição, além de uma ETA com capacidade para 600 l/s. “Será um sistema hídrico robusto e moderno, com tecnologia aplicada e automatização de processos para monitoramento em tempo real da vazão e qualidade da água, desempenho dos equipamentos, dentre outros indicadores da operação”, explica Leandro de Almeida, engenheiro de Projetos da Vale.

Mais de 30 fornecedores já foram contratados para a implantação do sistema hídrico do Rio Tanque, incluindo construtoras e empresas de monitoramento e controle ambiental, fabricação de equipamentos e fornecedores de materiais e insumos, sendo parte deles da região. No total, a construção poderá gerar cerca 1.200 empregos no pico das obras, com prioridade de contratação de mão de obra local. Todas as vagas serão disponibilizadas no Sistema Nacional de Emprego (Sine) de Itabira. 

Após a conclusão do empreendimento, a gestão das estruturas e operação do novo sistema hídrico ficará a cargo do Saae de Itabira, órgão responsável pelo abastecimento público de água no município. Até a entrega do sistema de captação e tratamento de água do Rio Tanque, a Vale manterá o fornecimento de 160 l/s de água para abastecimento do Anel Hidráulico e das ETA’s Areão e Rio de Peixe, conforme acordado com os órgãos competentes.