Itabira: mais de 600 adolescentes serão beneficiadas pelo projeto da Dignidade Menstrual
Segundo o CadÚnico, 642 adolescentes itabiranas vivem em situação de pobreza e extrema pobreza e serão beneficiadas com a distribuição de absorventes
Aprovado em definitivo pela Câmara Municipal de Itabira na última terça-feira (31), o projeto de lei 35/2021, de autoria da vereadora Rosilene Félix Guimarães (MDB), estabelece mecanismos para a promoção da dignidade menstrual na cidade — sobretudo com a distribuição de absorventes higiênicos para adolescentes de 13 a 17 anos que se encontram em situação de pobreza e extrema pobreza. O texto, que segue para sanção ou não do prefeito Marco Antônio Lage (PSB), poderá beneficiar diretamente 642 itabiranas.
De acordo com informações do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), Itabira possui 436 adolescentes cadastradas no grupo de extrema pobreza e 206 meninas em situação de pobreza. São essas mulheres que precisam, mensalmente, lidar com o seu ciclo menstrual sem ter acesso a itens básicos de higiene — encontrando dificuldades em suas rotinas, principalmente no contexto escolar.
As irmãs gêmeas Maria Eduarda e Maria Luiza, que são criadas por uma tia, relatam que devido ao orçamento apertado é necessário priorizar as despesas domésticas básicas, o que acaba por limitar o acesso à muitos itens de higiene. Elas, ainda, destacam que essa é uma realidade para muitas itabiranas.
“Não trabalhamos por falta de oportunidade e nossa tia precisa priorizar os alimentos e as despesas da casa. Por isso, na maioria das vezes, nos faltam absorventes”, relata Maria Eduarda. “Não somos só nos duas. Temos muitas amigas que não têm condições de conseguir absorventes. A falta de utensílios de higiene pessoal afeta sim e traz muitas dificuldades”, complementa Maria Luiza
Conscientização
Após a aprovação no Legislativo, o projeto da Dignidade Menstrual gerou um intenso debate na cidade — com algumas pessoas questionando a relevância da iniciativa enquanto outras buscavam esclarecer a importância de políticas que combatam a pobreza menstrual. Um processo que evidenciou a necessidade de se debater de maneira ampla e aberta os tabus que envolvem a menstruação.
De acordo com a Fundo das Nações Unidades para a Infância (UNICEF), a pobreza menstrual “é caracterizada pela falta de acesso a recursos e infraestrutura”. No Brasil, afeta mulheres que “vivem em condições de pobreza e situação de vulnerabilidade em contextos urbanos e rurais, por vezes sem acesso a serviços de saneamento básico, recursos para higiene e conhecimento mínimo do corpo”. O que pode prejudicar o desenvolvimento escolar de meninas e adolescentes, assim como causar constrangimentos e transtornos no ambiente profissional.
As itabiranas Maria Vitória e Patrícia, que procuraram a vereadora Rose Félix a respeito da dignidade menstrual, ressaltam que é fundamental conscientizar as pessoas sobre o tema para superar as desigualdades.
“Muitas mulheres que não tem absorventes não podem ir para a escola por vergonha de se sujar e, por isso, ficam em casa. Mulheres em condições de rua também não usam absorventes, o que causa muitas doenças na região íntima”, argumentou Maria Vitória. “Queremos conscientizar as pessoas que não são todas que têm acesso a essa higiene e que esse é assunto que devemos falar e não devemos deixar debaixo do pano”, completou Patrícia.
Esse processo de conscientização — que também é um dos pilares do projeto da Dignidade Menstrual — se mostra necessário para ampliar as políticas públicas voltadas para as mulheres em Itabira.