“Itabira não será espectadora do seu próprio fim”, afirma Marco Lage durante discurso de posse focado na exaustão minerária

“Não deixaremos que brumas de minério camuflem a verdade de que a Vale dependeu de nós para nascer e crescer”, completou o prefeito reeleito

“Itabira não será espectadora do seu próprio fim”, afirma Marco Lage durante discurso de posse focado na exaustão minerária
“A Vale tem sido nossa grande âncora econômica nas últimas oito décadas. Itabira espera pelo legado da mineração. Seremos o exemplo do bem ou do mal?”. Foto: Guilherme Guerra/DeFato
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Marco Antônio Lage (PSB) e Marco Antônio Gomes (PRD) tomaram posse nesta quarta-feira (1), no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (FCCDA), para o segundo mandato como prefeito e vice-prefeito de Itabira. A cerimônia também concedeu posse aos 17 vereadores do município e elegeu Carlos Henrique Silva Filho (PRD) como o novo presidente do Legislativo itabirano para 2025 e 2026.

Durante pouco mais de 30 minutos Marco Lage fez um efusivo discurso, falando sobre os objetivos da nova gestão, as metas do mandato 2025/2028 e os desafios para a superação da dependência econômica da mineração no município. Entre duras cobranças à Vale e frases “conciliadoras”, o prefeito eleito para o segundo mandato afirmou que irá exigir que a mineradora arque com a compensação da exploração minerária: Em suas falas, Marco Lage afirmou ser necessário que a empresa e seus dirigentes revejam a forma de relacionamento com Itabira, para que a Vale se despeça “deixando uma cidade digna e viva”.

“Este pó preto saiu das entranhas das nossas montanhas, deste território, para ajudar a industrialização de Minas Gerais, São Paulo, do Brasil inteiro, do Japão, da Alemanha, tantos outros países da Europa e agora da China. Nosso território merece respeito e vamos exigir que Itabira receba a compensação por tudo que deu ao Vale e ao Brasil. Não deixaremos que brumas de minério camuflem a verdade de que a Vale dependeu de nós para nascer e crescer, e nós dependemos da consciência dos seus dirigentes agora para se despedir, deixando aqui uma cidade sustentável, digna e viva”. 

“Depois de um século de exploração mineral, que deixou marcas indeléveis na nossa pele, Itabira não será apenas uma espectadora gentil, calada e subordinada do seu próprio fim. Nem um retrato na parede de alguma sala de memória pouco visitada. Pelo contrário, com 80% de ferro nas almas, lutaremos por uma transição pacífica, mas muito determinada”, disse. 

Itabira Sustentável

Para Marco Antônio – que quer se tornar o novo presidente da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (AMIG) -, o caminho para a “transição econômica” da cidade está ancorado no programa Itabira Sustentável, que foi criado em sua gestão, em parceria com a Vale e sociedade civil organizada. De acordo com Marco, a iniciativa com 60 projetos estruturantes, ancorados em 15 eixos estratégicos, dará um novo norte ao município. 

“Uma vez implantados, ao longo dos próximos 10 anos, pelo menos, esses planos de trabalho serão a garantia da diversificação econômica e do desenvolvimento sustentável da nova cidade. Um exemplo de gestão pública e de novo modelo de relacionamento entre mineração e o seu território do ponto de vista ambiental, social e econômico. Importante ressaltar que o programa precisa se estender para além dos limites do poder executivo e ser apropriado pela sociedade civil organizada, o que vai garantir sua continuidade ao longo dos anos”

Confira outros pontos do discurso de Marco Lage

União entre Prefeitura, Câmara e sociedade civil

“Receber a confiança de um voto é a maior responsabilidade da vida de um homem público. A partir de agora, é dada a largada para o desafio de entregarmos daqui a quatro anos um município que todos os seus moradores esperam, precisam e merecem. Juntos, Poder Executivo e Legislativo, em parceria com a sociedade civil organizada, os nossos conselhos municipais, ouvindo também as associações comunitárias. Através da Casa da Cidadania, nós teremos a obrigação de dar 100% da nossa energia, criatividade e força de trabalho para amar cada voto a nós depositado nas urnas dessa cidade” 

Representatividade feminina

“Quero mencionar especialmente as duas mulheres que compõem a nova casa legislativa: Dulce Citti e Jordana Madeira. Com o dever de representarem e honrarem prioritariamente as mulheres itabiranas, que as duas vereadoras sejam exemplos muito positivos das mulheres na política, incentivando tantas outras a ocuparem as cadeiras do poder. A vida pública precisa das mulheres. Boa sorte e contem comigo. Vamos juntos combater o machismo estrutural e a misoginia ainda muito presentes. 

Teremos o apoio de uma metade de secretariado composto de mulheres, o maior número de mulheres do poder na história de Itabira. E a outra metade de homens honrados que respeitarão, tenho certeza, as mulheres do governo e as mulheres dessa cidade”

Política antirracista

“Com 73% da população negra em Itabira, é urgente que políticas públicas eficientes continuem para a evolução de uma cidade antirracista. Nós sabemos que nossa herança africana é uma força, não uma fraqueza. E se os ancestrais da diáspora ajudaram a construir esta cidade com mais de 300 anos de história, serão seus descendentes os responsáveis pela construção do futuro.

Por minha visão progressista, considero imprescindível basear a gestão pública nos interesses e respeito mútuos. Por isso, a defesa da diversidade continuará merecendo nosso empenho também neste novo governo. Quero ser cada vez mais o prefeito da gente, que respeita as pessoas, que enxerga as pessoas, que atende as pessoas, independentemente da cor, classe social ou gênero”

Foto: Guilherme Guerra/DeFato

Pandemia e risco de barragens

“Foram tempos difíceis, o mundo lutava contra a pandemia e nossas famílias viviam entre o medo e a dor. Mas foi mais um mais um drama para Itabira e para os itabiranos, que naquela altura já conviviam com outros medos, como o derrumbamiento de uma de suas barragens, receio potencializado pelos desastres de Mariana e Brumadinho, e o anúncio da exaustão mineral, assombrado pela derrota incomparável de outros territórios minerados, onde sobraram apenas, ao fim, pobreza e esvaziamento.

Hoje Itabira não tem mais tanto medo como antes. A Covid foi superada, as barragens estão controladas e fiscalizadas e nosso plano para diversificação econômica é uma realidade, uma vez que o ambiente social em nossa cidade foi modificado ao longo deste primeiro mandato. Isso é pré-requisito para falar de desenvolvimento econômico. Não existe desenvolvimento econômico sem desenvolvimento social”

Unidade junto à Vale

“Caiu na mão dessa geração aqui, caiu na nossa mão a responsabilidade de construir um novo ciclo econômico na cidade, primordial para a sobrevivência de todos os itabiranos. Estamos optando pela esperança no lugar do medo. A unidade de propósito em vez do conflito e da discórdia. E acreditamos que a mineradora terá o mesmo comportamento conosco”

Preocupação com o futuro

“Poucos representantes do poder público pensam a longo prazo, infelizmente, porque se preocupam muito mais com a próxima eleição e não com a próxima geração. Pela primeira vez, temos um projeto de Estado e não apenas de Governo em Itabira. Avançamos e damos um largo passo rumo ao futuro.

A Vale está entendendo que Itabira pode impactar de forma importante na construção da sua imagem e reputação no Brasil e no mundo, principalmente depois dos desastres de Mariana e Brumadinho. A empresa precisa apresentar novos modelos de produção e de relacionamento com seus territórios. Não só nas novas minas do Pará, mas também em Minas Gerais, notadamente Itabira, com sua importância de cidade com vocação cosmopolita e internacional. Sim, Itabira tem vocação cosmopolita internacional e temos que nos orgulhar disso”

Foto: Guilherme Guerra/DeFato