Itabirana transforma trauma de infância e trajetória difícil em seu próprio negócio

Um a um, Natiele foi superando seus desafios para hoje ter um “Studio Pub”

Itabirana transforma trauma de infância e trajetória difícil em seu próprio negócio
Hoje com 33 anos, Natiele superou vários obstáculos para abrir seu próprio empreendimento. Foto: Thamires Lopes
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“O êxito da vida não se mede pelo caminho que você conquistou, mas sim pelas dificuldades que superou no caminho”. Esta frase é de Abraham Lincoln, o 16º presidente dos Estados Unidos. Mas a história que contaremos agora, apesar de se encaixar perfeitamente na citação acima, nada tem a ver com o político norte-americano.

Neste texto, falaremos de Natiele Aguiar, ou, como é carinhosamente conhecida, Naty. A trajetória da itabirana se assemelha a de vários brasileiros, que precisam se provar, dia após dia, para acharem um lugar ao sol. Hoje com seu próprio empreendimento, denominado “Studio Naty Aguiar”, ela encarou demissões, trocas de empregos, dificuldades financeiras e otras cositas más para ter seu negócio.

O espaço, localizado no edifício Bihia Andrade, centro de Itabira, oferece serviços como hidratação, maquiagem, manicure e pedicure. Porém, os clientes ainda contam com a oferta de drinks e petiscos. Água de coco, cappuccino, cerveja, energético e outras bebidas são disponibilizadas no local, uma espécie de “Studio Pub”. Já a empresária, hoje com 33 anos, começou a mostrar sua vocação na adolescência, quando fazia e pintava a unha dos familiares.

“Desde nova, eu já queria mexer com unha. Às vezes pintava a unha de Rogéria (mãe adotiva), tias e aí foi começando minha paixão pela área da beleza”. Ali, a semente começava a ser plantada…

O casal Helison, conhecido como “Tielinho”, e Naty Aguiar com os filhos Théo (4 anos) e Julia (9 anos). Foto: Arquivo Pessoal

Depois disso, muita coisa aconteceu. Mineração, supermercados, setor de móveis, farmácia e outras áreas totalmente distintas entre si passaram pela sua carreira, que ainda era aliada aos estudos. Mas a cada nova experiência, ficava claro que o destino estava reservado ao setor de beleza, um caminho que só começou a se pavimentar por volta de 2008.

“Uma vez, havia começado um processo seletivo na Vale. Mas no dia em que fui fazer a entrevista, tive uma gripe muito forte e não estava com condições de falar. Hoje, pego isso tudo como aviso”, relembra a itabirana.

“Você nasceu pra ser patroa”

Esta frase, dita por um antigo chefe de Naty ao se referir à sua personalidade, poderia soar como uma provocação. Mas hoje parece mais um prenúncio. Após passar por vários empregos, Natiele resolveu ir em busca do negócio próprio.

O primeiro foi criado em um pequeno cômodo, no Bela Vista, chamado “Espaço dos pés”. O ambiente era bom, a localização agradável, mas existia um porém: começaram a aparecer escorpiões no espaço. Naty, à época já com a Julinha, sua primeira filha, teve de sair do local por conta do problema.

A partir daí, a rotina da itabirana passou a ser marcada por tentativas e decepções. Houve convites para trabalhos em parceria, ajuda financeira do sogro, o nascimento do segundo filho (Théo), depressão pós-parto… tudo isso em pouco espaço de tempo.

As coisas só começaram a se estabilizar melhor a partir de 2018. Trabalhando em um espaço no Shopping Avenida e, posteriormente, numa parceria com uma amiga em um espaço na rua Esmeralda (Centro), Naty viu sua clientela aumentar exponencialmente.

Trabalhar na área da beleza sempre esteve no radar da itabirana. Foto: Arquivo Pessoal

Pandemia

Mas, como nada na vida da itabirana é fácil, surge o coronavírus. A pandemia atrapalhou tanto os seus planos pessoais, incluindo o casamento, quanto a vida profissional. Em março, quando as atividades estavam “bombando”, os clientes passaram a desmarcar os atendimentos.

Vendo o negócio ruir aos poucos, Naty entrou em depressão e interrompeu os serviços, em decisão conjunta com sua parceira de trabalho. Mas Helison Silva, atual esposo e também administrador do negócio, percebendo o desânimo da companheira, a apoiou para começar algo novo.

E foi nesse instante que surgiu a ideia do Studio Pub. O empreendimento aliaria o antigo desejo da comerciante em abrir uma esmalteria à iniciativa, já posta em prática no antigo emprego da rua Esmeralda, de oferecer bebidas no espaço. Faltava um pequeno detalhe: o espaço. Em uma Itabira deserta, com as pessoas presas dentro de casa por conta do coronavírus, o casal saiu vagando em busca de um cantinho que abrigasse o Studio.

Quando a dupla já parecia desistir da procura, uma notificação de aplicativo anunciava a venda de um espaço, no edifício Bihia Andrade, no centro. E foi lá, no segundo andar, número 103, que Naty pôde, finalmente, abrir seu negócio e realizar atendimentos a partir de maio deste ano.

Com a consolidação do empreendimento, a comerciante já almeja dedicá-lo apenas ao atendimento de noivas futuramente. No entanto, ela assume que ainda precisa pagar uma dívida com seus antigos clientes, que sempre estiveram ao seu lado.

“Todo mundo tem que ser bem atendido em qualquer lugar.  Tenho o sonho de trabalhar com noivas? Tenho, mas futuramente. Hoje quero um espaço bonito pra quem esteve comigo durante a vida toda. Alguns clientes estão ao meu lado há 18 anos”, conta.

Desde que foi adquirido, o espaço já passou por várias mudanças. No futuro, ele ainda será ampliado. Foto: Arquivo Pessoal

Além dos percalços profissionais, Natiele, ao lado de outros seis irmãos, ainda teve de lidar com o problema de alcoolismo do seu pai. Quando cedia ao vício, o patriarca da família agredia sua esposa, uma rotina que provocou na empreendedora o seu maior trauma de infância.

No entanto, parte desse trauma pode ser superado com a oferta de bebidas alcoólicas no estúdio de maquiagem. “Meu pai era um homem carinhoso, mas quando bebia, batia na minha mãe. Meu trauma de infância é o alcoolismo, mas o Studio Pub é uma forma de superação”, revela Naty.

Hoje ela se recupera de uma cirurgia de apendicite, que a obrigou a interromper os atendimentos e só retorná-los nesta quarta-feira (16). Um pequeno problema, mas nada que chegue perto do que foi encarado ao longo de todos esses anos.

“Eu acredito que nada é por acaso. Tanto que aqui tenho um quadro da Frida Kahlo que diz ‘onde não puderes amar, não demores’. E tenho a minha frase principal que é ‘nunca foi sorte, sempre foi deus’. Então a gente só quer um ambiente de amor. Talvez era pra ter acontecido antes, mas o momento é agora”.

Por fim, a itabirana compartilha uma meta para o futuro. “Eu ainda tenho o sonho de dar palestras motivacionais. Tenho um pouco de vergonha, mas estou começando aos poucos. Pela minha história de vida, e pelas coisas que passei, posso incentivar outras pessoas, principalmente as mulheres”.

Talvez este texto tenha sido o primeiro passo…