Itabirano saiu cedo da cidade natal para realizar o sonho de ser jornalista esportivo
Rodrigo Franco saiu de Itabira para buscar o reconhecimento no jornalismo esportivo
Reportagem publicada na edição 274 da Revista DeFato
Quem diria que uma viagem frustrada mudaria para sempre a vida de uma pessoa? Foi assim com o itabirano Rodrigo Franco, 34 anos. A chuva que atrapalhou as férias da família em Porto Seguro fez com que ele e os irmãos passassem dias e noites dentro de um quarto de hotel assistindo as Olímpiadas de Barcelona, em 1992. Ali nasceu uma paixão que o acompanharia e viraria profissão.
Poucos conterrâneos que assistem Rodrigo na TV Globo imaginam que o simpático repórter é nascido e criado na terra de Carlos Drummond de Andrade. Filho de dona Agostinha e de seu Sebastião, o profissional saiu de Itabira aos 15 anos para estudar e correr atrás de seu grande sonho: ser jornalista esportivo. E a empreitada deu certo. Em Belo Horizonte, trilhou os primeiros passos e, desde 2001, quando iniciou o curso de Comunicação Social, atua na área.
Mais de 20 anos depois da viagem frustrada, Rodrigo tem no currículo importantes eventos, como a Copa do Mundo do Brasil 2014, Copa das Confederações 2013, Copa Libertadores da América, Copa do Mundo de Natação, Copa Davis de Tênis, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Superliga de Vôlei e diversas outras. Da terra natal, Rodrigo guarda saudades e boas lembranças. O repórter traça novos planos e foca em novos objetivos. Saiba tudo na entrevista a seguir.
Qual a sua relação com Itabira?
Itabira, para mim, é orgulho e saudade. Foi onde nasci e tive a melhor infância que se poderia ter. Como muitos, tive que sair para correr atrás do sonho de ser jornalista esportivo. Ficaram amigos, lembranças e a melhor família do mundo. Itabira tem a melhor culinária do mundo, praticada pela Agostinha, mãe, exemplo, inspiração, amor. Tudo de melhor que aprendi e que levo na vida é doce herança itabirana.
O que te motivou a ser jornalista?
Em 1992 fui com a família para Porto Seguro. Viagem de uma semana. Choveu muito e quase não foi possível ir à praia, que eu e meus três irmãos adorávamos. Ficamos a maior parte do tempo no quarto do hotel e, na TV, a maior diversão eram os Jogos Olímpicos de Barcelona. Eu e meu irmão, Ricardo, passávamos madrugadas em claro para ver as provas de natação, mas o interesse logo passou para todos os outros esportes. Para quem já vivia correndo atrás do pai, Sebastião, em torneios de peteca, foi o estopim para a paixão, que só cresceu com o passar do tempo. Ao mesmo tempo, desde pequeno, sempre me interessei por jornais e rádio. Gostava de ler e ouvir notícias de política e esportes. Já admirava grandes jornalistas, especialmente Caco Barcellos, e, na hora de escolher o curso no vestibular, essas influências ganharam força, determinaram minha vocação.
Como iniciou sua trajetória na Rede Globo?
Por dois anos, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), eu tive contato apenas com rádio. Trabalhei e tive uma bolsa de Iniciação Científica no estúdio da universidade. Gostava, mas sentia a necessidade de buscar uma experiência no mercado de trabalho antes de me formar. Então, foi curioso, porque passei quase um ano enviando currículos para estágios. Foram mais de 100 e só em dois lugares me chamaram para fazer provas e entrevistas: na Rádio Globo e na TV Globo. Fiz o processo seletivo para ser estagiário por um ano e meio, mas acabei ficando até hoje. Passei por quase todas as áreas do jornalismo: apuração, internet, produção, edição e, há três anos, reportagem de esporte. É um privilégio poder trabalhar com o que se gosta. E foi um longo processo na TV para que pudesse alcançá-lo.
Quais os maiores desafios de se atuar em uma grande rede de televisão?
O maior desafio é, não só buscar, mas conseguir, de fato, inovar. Inovar o tempo todo. Na Globo somos incentivados e cobrados a melhorar e evoluir constantemente, com criatividade. Não é tarefa fácil. Mas “fácil” não é, definitivamente, palavra parte do jornalismo. Seja na Globo ou em outros veículos.
Como lidar com a paixão por algum clube? Há alguma dificuldade ou desconforto em entrar no contexto de um time “adversário”?
Como todo apaixonado por esporte e por futebol, meu coração pertence a um time. Infelizmente muitos torcedores não entendem que, quando trabalhamos, nós jornalistas, buscamos ser profissionais. Por isso, muitos de nós não revelam os clubes pelos quais torcem. Alguns colegas realmente confundem torcida com trabalho, mas muitos conseguem ser profissionais antes de tudo. Mas, quando se escolhe ser jornalista, você admite que terá que deixar a paixão pelo clube de lado, para se dedicar à paixão pela profissão, pelo jornalismo. Então não há desconforto algum, mas, sim, responsabilidade e profissionalismo. De qualquer maneira, meu coração tem um pedaço grande vermelho. Do Valeriodoce. Sempre acompanho e defendo o clube. É um orgulho que levo na vida. Ser torcedor do Valério. A outra parte do coração também tem uma cor, mas, infelizmente, não dá mesmo para revelar.
Poderia citar alguma matéria ou situação que o marcou nesses anos de Jornalismo?
Um dos momentos mais tristes e impressionantes que já vivi ocorreu em Huancayo, no Peru. Acompanhei o jogo do Cruzeiro contra o Real Garcilaso, pela Libertadores do ano passado. O Cruzeiro perdeu por 2 a 1, e todos nós perdemos de goleada para o racismo. Foi inacreditável quando o meio-campo Tinga, negro, foi vaiado e ofendido com gestos e sons que imitavam macacos que vinham das arquibancadas. Homens, mulheres, crianças, todos ofendendo o jogador. Foi muito triste. Lamentável. Nunca imaginei que iria presenciar uma injúria racial como essa. E o momento mais positivo aconteceu neste mesmo jogo. Nunca vou esquecer a grandeza do Tinga para lidar com aquilo. Campeão de tudo no futebol, disse, na entrevista mais emocionante que já fiz, que trocaria todos os títulos da carreira pelo fim do racismo. Foi ali, no campo, logo depois do apito final, no calor do jogo, que Tinga deu uma aula de respeito e grandeza.
Como você lida com as críticas? Você se cobra muito?
As críticas são muitas, constantes, e logo é preciso aprender a lidar com elas. A exposição da imagem potencializa elogios e críticas. É preciso ouvi-las, analisá-las e, principalmente, tirar delas aprendizado e força para seguir. Vale para o jornalismo e para a vida também. Jornalista é um profissional que vive em constante pressão. A cobrança é grande, de fora e interna também. Se cobrar acaba virando um exercício natural diante de tantos desafios e da busca constante por melhoria e criatividade.
Quais os próximos passos?
Parece simplista, meio lugar-comum, mas acho que a vida funciona assim mesmo: é preciso sonhar e acreditar no sonho. Ela oferece a possibilidade de sonhar outros sonhos quando se realiza ou se perde algum, e acho que essa busca constante pelos sonhos, velhos e novos, é um bom combustível de vida. O meu maior sonho ainda não foi realizado. Cobrir as Olimpíadas é o grande sonho. Aquele que começou no quarto de hotel em Porto Seguro, em 1992.