Itabiranos atravessam o estado em busca do sonho de jogar futebol

Lucas Carvalho e Ezequiel Acácio passaram em um teste no Formiga

Itabiranos atravessam o estado em busca do sonho de jogar futebol
Ezequiel (à esq.) e Lucas (à dir.) perseguem juntos o sonho de viver do esporte mais popular do país. Foto: Arquivo pessoal
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Um sonho em comum entre vários brasileiros é se tornar jogador, ou jogadora, de futebol. E essa meta também faz parte dos planos de Lucas Carvalho, de 14 anos, e Ezequiel Acácio, de 15. Os itabiranos escrevem, há cerca de três semanas, um novo capítulo na história que compartilham juntos há anos. Eles foram aprovados em um período de testes no Formiga Esporte Clube, no oeste mineiro, e agora integram a categoria sub-15 da agremiação.

Lucas e Ezequiel são carne e unha. De todos os clubes que o primeiro passou – como Valério, Acesita e JOC (ambos de Ipatinga) -, o segundo só não atuou no América de Ribeirão das Neves. Embora não tenha laços sanguíneos com o parceiro de bola, Ezequiel foi praticamente “adotado” pela família dele, após se conhecerem em uma escolinha de futebol na cidade. Pai de Lucas, Cristiano Menezes se refere ao rapaz como um afilhado.

Foto: Arquivo pessoal

Sobre o lateral

“Boleiro” desde os cinco anos, Lucas começou no futsal com o técnico Sacolinha, muito conhecido na cidade. Aos poucos, o atual lateral esquerdo – antes atacante – foi percebendo a vocação para o campo e migrou ao society, onde passou a intercalar os treinos com os professores Didi (society) e Victor Caldeira (futebol de salão).

Alguns anos depois, fez um teste e foi aprovado no América de Ribeirão das Neves. E foi em uma participação na Dani Cup, com a camisa verde e preta, que o itabirano começou a ser observado com mais atenção. Na oportunidade, um empresário do Vale do Aço o convidou para atuar por três times da região, o Acesita, AERC e o JEC. Este último um clube bastante ativo em competições estaduais de futebol, formando espécies de “seleções” com atletas de vários times ipatinguenses.

Um dos selecionados pelo JEC em um torneio, Lucas Carvalho acabou descoberto por um empresário responsável por gerir o Formiga Esporte Clube. Por lá, passou por um período de testes e foi aprovado, sendo integrado à categoria sub-15 da agremiação. Há três semanas no clube, o jovem, seu amigo e o pai conversaram com a DeFato. Você lê a entrevista completa logo abaixo.

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Lucas e Ezequiel em um treino pelo Formiga. Foto: Arquivo pessoal

Um segundo filho

Mãe de Lucas, Jaqueline Jacques explica como Ezequiel foi introduzido ao convívio da casa. “É uma relação de família mesmo, o tratamos como se fosse nosso filho. Conhecemos ele quando o Lucas participava de uma escolinha e ele (Ezequiel) fazia parte dos bolsistas. Os dois foram participar de um campeonato jogando pelo mesmo time e o Ezequiel se destacou. Como o Lucas já jogava no Acesita, em Ipatinga, começamos a levá-lo junto em todas as peneiras que o Lucas participava”, detalha.

Segundo Jaqueline, além da torcida e boas vibrações, não faltaram alertas sobre o novo desafio encarado pelos rapazes. Ela utiliza o termo “pés no chão”, bem comum no futebol, para definir o sentimento dos atletas em Formiga.

“A maneira que buscamos apoiar eles é sempre incentivando. Fizemos muitas reuniões antes dos meninos irem, perguntando se era o que eles queriam mesmo, porque além de ser sonho de todo pai, tem que ser deles também. Então eles estão bem pé no chão, sabem que precisam permanecer lá, precisam se entregar ao máximo para conseguirem ficar.”

“No meio do futebol é muito complicado a gente projetar qualquer coisa, apenas apoiamos, sem colocar peso ou pressão. Porque sabemos que entrar nesse meio é muito difícil, quase uma mega-sena. Claro que quero que ambos consigam se profissionalizar, mas infelizmente sabemos que é necessário matar um leão por dia”, completa.

Nova vivência

Considerado pelo pai, Cristiano Menezes, um rapaz tímido, Lucas Carvalho diz estar aprovando a experiência vivida por ele e Ezequiel no município de Formiga. “A experiência com certeza está sendo muito boa, pois nunca vivi em alojamentos com muitas pessoas”, relata. A mesma felicidade é compartilhada pelo parceiro que atua na meia direita. “Está sendo uma experiência ótima pra mim , é uma honra fazer parte desse clube”, opina Ezequiel.

Segundo Lucas, seu principal sonho mudou durante os anos. A meta, agora, é atuar pelo clube do coração da família e, claro, a seleção brasileira. Duas camisas já vestidas por um jogador que volta e meia é personagem de comparações feitas por pessoas próximas a ele: Guilherme Arana.

“Meu sonho, desde os dez anos, era jogar na base do Internacional. Mas a partir dos 12 eu passei a desejar fazer parte do Atlético Mineiro e, logo depois, ter uma oportunidade na seleção brasileira”, admite.

Lucas Carvalho iniciou um novo ciclo no Formiga, há três semanas. Foto: Arquivo pessoal

Ezequiel possui ambições parecidas, já que também planeja vestir, algum dia, a camisa da Amarelinha. “Meu sonho no futebol é jogar na seleção brasileira e fazer um gol na Copa do Mundo”.

Para além dos campos, uma das metas dos jogadores certamente é manter a parceria de anos. “A nossa amizade vem de quatro anos. Ele é meu parceiro em tudo, um irmão pra mim. Tudo começou na escola do Didi Esporte, a gente treinava lá e nem éramos muito próximos. Mas o tempo foi passando, o pai dele gostou de me ver jogando e desde então começamos a conversar. Hoje ele é uma das pessoas mais importantes para mim, meu irmão”, comenta Ezequiel.

Além do futebol, familiares fazem questão de frisar algo que também os conecta: os estudos. Nenhum dos dois abandonou a sala de aula em todo este período, se juntando ao FEC apenas depois de estarem devidamente matriculados na escola.

Foto: Arquivo pessoal

Apoio paterno

Para encarar os novos sonhos e desafios, Lucas Carvalho conta com o apoio da família, sempre ao seu lado nas competições e viagens. O atleta de 14 anos cita os pais como as pessoas mais importantes em seu curto trajeto.

“Uma das pessoas mais importantes com certeza foi meu pai, que me apresentou o esporte, e me levava para outras cidades para eu disputar campeonatos. E a outra pessoa muito importante também foi minha mãe, pois ela sempre me incentivou. O apoio da minha família é muito bom e saudável”, afirma.

Lucas e o pai, Cristiano, eterno companheiro em sua trajetória esportiva. Foto: Arquivo pessoal

Pai de Lucas, Cristiano Menezes confia muito no futuro do filho. Um dos indicativos do talento, segundo ele, é o reconhecimento recebido por pessoas que trabalham no meio esportivo.

“Se você tiver um filho que joga bola, ele é o melhor do mundo. Mas o Lucas não sou eu que falo. Todo lugar que ele vai em Itabira, os professores de futebol conhecem ele. O Riva é apaixonado por ele, Mauricinho, do Valério, Vitinho (Victor Caldeira), Sacolinha, todos conhecem ele e veem esse potencial. Ele se destaca por onde passa, nunca ficou na reserva. E sempre teve esse aval de pessoas do esporte”, enfatiza.

“O menino tem que gostar, não adianta só o pai insistir, às vezes é só sonho do pai. Desde pequeno, ele fala que quer ser jogador de futebol. E eu falava que se estudasse, o pai dava condições, porque sempre foi bom de bola. Então a gente sempre tenta conciliar o estudo com o futebol”.

O quarto do jovem respira a futebol. Foto: Victor Eduardo/DeFato Online

Apesar do caminho muito bem pavimentado no futebol, Lucas e seus familiares não se vislumbram. De acordo com Cristiano, o jovem continua ciente das outras responsabilidades, sem perder o foco que sempre lhe acompanhou.

“O foco da escola nunca foi perdido, tanto que ele já está no quarto ano de inglês, pensando nisso mesmo. Ele diz: ‘pai, se eu precisar sair algum dia, já sei inglês’, até nisso ele já pensou. O Lucas era um menino de dez anos que ia dormir e fazia 150 abdominais, o foco já é da essência dele. Quando não tá jogando bola, está fazendo academia”, ressalta.

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Lucas e Ezequiel em um treino pelo Formiga. Foto: Arquivo pessoal

E a saudade? Essa é tão grande quanto o talento do filho. O professor itabirano cita o aperto no coração ao passar na frente do quarto vazio, mas pondera que o contato continua, por meio de outras alternativas.

“É difícil para mim (a distância), porque a gente sempre foi muito companheiro. A mãe também apoia muito, mas as viagens sempre foram comigo. Então quando eu passo na frente do quarto, dói no coração. Mas ele está super de boa, porque já vem sendo preparado desde os nove anos para isso. Hoje não estou lá, mas sempre que der a gente vai. Todo dia nos falamos por telefone ou vídeo”, diz Cristiano.

Foto: Victor Eduardo/DeFato Online