Jovem é morta pelo ex-marido após expor divórcio no TikTok
Sania Khan era fotógrafa e usou a rede social em busca de apoio. Raheel Ahmad, acusado do crime, se matou em seguida
A história do fim de um casamento abusivo, vivido pela fotógrafa Sania Khan, viralizou no mundo. A moça, de 29 anos, usou seu perfil no TikTok para contar como alguns membros da sua comunidade muçulmana – no sul da Ásia – fizeram com que ela se sentisse “fracassada na vida” por causa do relacionamento frustrado. Porém, seu ex-marido Raheel Ahmad, de 36 anos, não aceitou a reação da jovem, a assassinou e se matou em seguida.
Segundo fontes das forças policiais de Chicago, onde o casal morava, Sania Khan estava de malas prontas para começar um novo capítulo, sozinha, na sua cidade natal de Chattanooga, no Tennessee. Três dia antes da mudança, a polícia encontrou a jovem fotógrafa caída perto da porta da frente do condomínio onde ela vivia com seu ex-marido. Ela tinha um ferimento por arma de fogo na parte de trás da cabeça e foi declarada morta no local.
Quando foi encontrado pela polícia, Raheel Ahmad, de 36 anos, voltou a arma para si mesmo e atirou, tirando sua própria vida. Segundo os boletins de ocorrência, ele Ahmad viajou cerca de 1.100 km de volta até sua antiga casa “para salvar o casamento”.
Sania Khan era paquistanesa-americana e tinha sido reconhecida, recentemente, pelo TikTok como uma voz das mulheres que lutam contra o trauma do casamento e o estigma do divórcio na comunidade do sul da Ásia. Sua morte tem sido muito repercutida nas redes.
Os jornais norte-americanos divulgaram em peso o assassinato seguido de suicídio e conhecidos da fotógrafa contaram que ela estava feliz em viver uma nova fase. Para suas amigas, Khan era alegre, autêntica, positiva e generosa. No perfil do Instagram, onde Sania construiu sua primeira rede pública, descrevia a paixão pela fotografia: “ajudo as pessoas a se apaixonarem por si próprias e entre si em frente à câmera”. Ela registrava casamentos, recém-nascidos, chás de bebê e outros acontecimentos sociais.
Relação conturbada
Segundo os relatos de pessoas próximas, Sania buscava o mesmo tipo de alegria na sua própria vida pessoal. Depois de namorarem por cerca de cinco anos, Khan Ahmad se casaram em junho de 2021 e se mudaram para Chicago juntos.
Segundo as testemunhas, a cerimônia foi tradicional conforme a cultura paquistanesa. Porém, o casal passou a maior parte do namoro em um relacionamento à distância antes de se casar. Os problemas vieram à tona em dezembro, quando Khan disse a uma amiga que Ahmad teve uma crise de saúde mental e que ela se sentia insegura.
Ainda de acordo com as pessoas próximas à fotógrafa, Ahmad tinha dificuldades para dormir, não aceitava buscar ajuda ou frequentar terapia e demonstrava comportamentos violentos. Mesmo que se sentisse desconfortável no relacionamento, Sania era aconselhada a manter o casamento, já que o divórcio é considerado uma vergonha em sua cultura.
Filha de um casal divorciado, Khan ouviu as amigas e pediu a separação. Ela ainda solicitou uma ordem de restrição contra o ex-marido e trocou as fechaduras das portas. A partir daí, decidiu usar o TikTok para compartilhar sua história no TikTok, descrevendo-se como a “ovelha negra” da sua comunidade.
Em umas das postagens ela chegou a escrever que “uma mulher do sul da Ásia passar por um divórcio às vezes parece ser um fracasso na vida”.
@geminigirl_099 Hugs to anyone going through this too #southasian #southasiantiktok #muslimdivorce #healing ♬ original sound – Sam Arrow
E completou, em outra postagem: “meus familiares me disseram que, se eu deixasse meu marido, estaria deixando Shaytan [o diabo, em árabe] ‘vencer’, que eu me visto como uma prostituta e, se eu voltar para minha cidade natal, eles se matarão”.
@geminigirl_099 ? #muslimparents #MadewithKAContest #PerfectPrideMovement #southasianproblems #muslimdivorce #divorce ♬ Bulletproof – La Roux
Em cada postagem, Khan encontrava força e consolo dos seguidores. Pouco a pouco o perfil vinha ganhando novos seguidores. Quando Khan morreu, mais de 20 mil pessoas a seguiam, mas algumas de suas publicações alcançavam mais de 700 mil visualizações.
A BBC, que fez uma reportagem completa sobre o caso, não conseguiu falar com a família de Ahmad. Parentes declararam, por meio das amigas de Khan, que não fariam comentários.