Kobra pinta Drummond em Itabira e anuncia mural em presídio de Guarulhos
Muralista participa do MAPA e contou em entrevista exclusiva à DeFato ter sido convidado para pintar muros na Faixa de Gaza e em presídio de SP
Dá pra notar a potência de alguém pelo que mostra até mesmo depois de sua morte. Carlos Drummond de Andrade segue atraindo pessoas ao lugar onde nasceu para registrar sua grandeza — em tamanho real. Nesta semana, Itabira recebeu o muralista Eduardo Kobra, que está pintando um muro em homenagem ao poeta durante a Mostra de Arte Pública (MAPA) e, além de participar do programa Sempre Um Papo ontem (10), conversou com a DeFato em uma entrevista exclusiva.
Conhecido mundialmente por registrar personalidades que marcaram a história, Kobra trouxe seus desenhos realistas e suas cores vibrantes para uma parede com cerca de 32 metros de altura na avenida Duque de Caxias, 1220. Para o artista, retratar Drummond em seu lugar de origem é um prato cheio: “Itabira, por mais que seja uma cidade pequena, é conhecida internacionalmente. Acho que o Carlos Drummond fez esse papel, então já tem essa vocação artística. Pra mim, é sempre um privilégio, uma honra, poder ocupar um espaço desse”, comenta.
Kobra precisou adaptar o desenho para outro local, cuja parede é mais estreita. O artista conta que cada empena tem uma particularidade e requer um olhar diferente com um único ponto em comum: a inspiração pelas histórias de quem retrata.
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No caso de pessoas conhecidas, o muralista realiza uma pesquisa atenta para compreender a trajetória dos rostos que amplia, principalmente quando estão vivas. “Eu tenho muito cuidado com a escolha do que eu vou pintar. Então, isso é tudo muito calculado, eu preciso entender bem da história pra ver se aquilo faz sentido”, conta. Aquilo que não conhece, procura pessoas que têm um conhecimento maior para entender.
Além disso, também valoriza rostos anônimos. O muralista já pintou migrantes, refugiados e trabalhadores, como o último que criou em Belo Horizonte. Para isso, escolhe a dedo um local visível e, de preferência, com uma simbologia interessante.
Com murais em vários países como Estados Unidos, Itália e Japão, Kobra relembrou, no Sempre Um Papo, o muro da ONU pintado no ano passado. Recentemente, o artista conta que foi convidado a pintar na Faixa de Gaza: “Eu estava negociando isso. Imagina se eu tivesse ido lá agora! Pra pintar os dois lados do muro, tanto da Palestina quanto de Israel”.
Seus planos agora envolvem pintar o primeiro muro completo de um presídio no mundo. Kobra está criando uma arte para o Centro de Detenção Provisória II de Guarulhos (SP) que se espalha até pelas guaritas. O artista conta que escolheu o tema ressocialização para criticar o punitivismo do Estado.
“É uma tortura, eu não sei se o Estado deveria fazer isso. Aí o Estado acaba cometendo um crime também”, reflete.
Assim como nos trabalhos anteriores, visitou o local e concluiu que ele pode representar algo que faz sentido, “porque eu entendi isso: a pessoa cometeu um crime, ela tem que pagar pelo que ela cometeu. Óbvio. Só que não em condições que hoje são colocadas ali. Várias pessoas na mesma cela sem condição nenhuma, sem ter um colchão pra dormir… Eu acho que não é necessário torturar. Acho que a ressocialização é um caminho melhor no sentido de você dar educação, dar uma formação profissional, dar uma oportunidade de trabalho”, explica.
Kobra entende que a arte urbana também cumpre esse papel e ressalta a efervescência que tem provocado em Itabira ultimamente. “Eu acho que, com esse movimento de arte aqui, uma galera vai se identificar com isso e vai começar a pintar também”. Para o artista, iniciativas como a MAPA trazem inspiração para novas gerações. Essa é a sua grandeza.