Luiz Menezes: O homem mil vezes itabirano – Primeira parte
Conheça um pouco da história de um dos grandes ícones da cidade
“Sou itabirano duas vezes: de nascimento e de coração”. O ex-prefeito Luiz Menezes repetia esse bordão incansavelmente. Era uma forma simples de demonstrar o seu amor a Itabira. O “mantra” foi a marca registrada do político. Ele recitava o enunciado pelos quatro cantos do município, em diversas oportunidades. Uma coincidência bastante emblemática: o popular Sô Luiz comemorava aniversário em dez de outubro, um dia depois da data magna da cidade.
Menezes cursou o fundamental na escola “Coronel José Batista” e o ensino médio no extinto “Ginásio Sul- Americano”. Essa instituição tornou-se ícone na historiografia de Itabira. O poeta Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, lecionou português e geografia nesse estabelecimento de ensino.
O jovem Luiz tentou prosseguir os estudos em Belo Horizonte. Não deu certo. A situação econômica do itabirano não era nada boa. O estudante trabalhou como vendedor de loterias durante alguns meses. Era muito complicado sobreviver na capital mineira, naquela época.
Procurou, então, ares financeiramente mais amenos. E tomou o rumo de Ouro Preto. Mudou-se de mala e cuia para a cidade barroca. E a luta continuou. Ali, ele “ganhou a vida” como garçom de um restaurante e porteiro de cinema. Foi um período muito árduo. Finalmente, concluiu o Científico (antigo secundário) na tradicional Escola de Farmácia e Bioquímica da velha Vila Rica.
O passo seguinte foi uma mudança para o sul de Minas Gerais. O sonho da vez era fazer odontologia na faculdade de Alfenas. Essa opção profissional teve influência do pai. O velho Francisco Osório Menezes foi conceituado dentista prático. “Meu pai cursou a universidade de Chaves (uma localidade rural de Itabira)”, brincava Sô Luiz. Mas a vida continuava dura para o persistente itabirano. Ainda havia inúmeras pedras no meio do caminho. O dinheiro, muito escasso, era fruto de trabalho como faxineiro na própria escola.
E todo esse sacrifício não foi em vão. Luiz Menezes formou- se em 1942. Voltou a Itabira “com a corda toda”. Entre 1943 e 1947, exerceu a sua profissão na terra de Drummond e região. Foi uma fase de aquisição de experiência.
Mas esse sucesso ainda era pouco para o irrequieto recém-formado. Dono de um natural espírito aventureiro, o novo dentista resolveu arriscar-se mais uma vez. Deixou sua cidade natal e virou cirurgião dentista do Exército Brasileiro, no sul do país. Permaneceu, porém, pouco tempo na armada. Bateu saudade. O amor por Itabira falou mais alto. Não teve jeito. Ele abandonou o conceituado emprego e retornou.
A partir daí, desenvolveu intensas atividades na comunidade. Lecionou Biologia na Fundação Itabirana Difusora de Ensino (FIDE) e Ciências Físicas Naturais na Escola Estadual Mestre Zeca Amâncio (EEMZA). O “itabirano de nascimento e coração” casou-se com Célia Menezes. Dessa união, nasceram três filhos: Glória, Luiz Paulo (já falecido) e Paula.
O odontólogo também foi importante empreendedor. O seu alvo preferencial sempre foi o investimento econômico no município. Implantou, por exemplo, a Cia Telefônica de Itabira. Esse pioneirismo era motivo de muito orgulho. E Menezes recordava dessa vitória com satisfação. “Para você ter uma ideia, naquela época, cidades bem menores que Itabira tinham telefones automáticos. Num congresso de municípios, realizado em Recife, eu consegui subsídios para criar uma companhia telefônica. Com muito trabalho, iniciamos esse nosso empreendimento com 150 aparelhos. Quando entregamos a empresa para a Telemig, havia 2.500 telefones instalados”.
Mas, sem dúvida, a sua maior realização foi na área de radiofonia. Luiz gostava de contar como tudo começou. “Essa história é até curiosa. Eu era representante da cervejaria Antarctica. Em certas ocasiões, a fábrica de cerveja distribuía algumas propagandas para passar em emissoras de rádio. Eu sempre recusava essa oferta, porque Itabira não possuía uma estação. O que me intrigava é que, naquela época, cidades bem menores já possuíam a sua emissora. A partir de certo tempo, comecei lutar por esse sonho. Isso demandou muito esforço e perseverança. Ficamos quase cinco anos batalhando pela concessão. Finalmente, conseguimos instalar a rádio Itabira AM e a Antártida FM (atual Nova 93FM)”, explicava Menezes. A rádio Itabira entrou no ar em 1984. A Antártida (Nova 93 FM) começou funcionar um ano depois.
A política foi uma ocorrência bem natural na vida de Sô Luiz, uma pessoa carismática, simples e bastante popular. Ele frisava que “falava a língua do povo”. Tratava a todos por “fio” ou “fia”- uma derivação carinhosa para filho ou filha. E o empresário teve uma destacada trajetória na vida pública: cumpriu mandato de vereador em duas oportunidades (1959 a 1962 e 1963 a 1966), foi prefeito (1989 a 1992) e deputado estadual (1999 a 2002). Luiz Menezes morreu em março de 2003, aos 84 anos de idade.
PS: Na próxima semana, alguns divertidos causos que só Sô Luiz contava.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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