Lula inicia a travessia do Rubicão com sérios problemas
O time deste terceiro mandato lulista tem notória especialização em bater cabeças
Em 10 janeiro de 49 a.C, o general Júlio César chegou às margens do rio Rubicão, em companhia de milhares de soldados, depois de uma temporada na Gália. Nenhum líder militar tinha autorização para entrar em Roma com a sua legião. O Rubicão funcionava como uma espécie de “stop”. A proibição era uma questão de segurança pública. O comandante, então, decidiu desobedecer à ordem institucional, pronunciou a célebre frase “Alea Jacta est” (está lançada à sorte) e cruzou a correnteza com o “seu exército”. Próximo capítulo. O audacioso estrategista provocou uma revolução, derrotou o cônsul Pompeu Magno e virou ditador vitalício. Nunca mais o Império Romano foi o mesmo. Atualmente, a travessia do Rubicão se tornou alegoria para decisões críticas nos instantes de impasses. É a escolha essencial diante das imensas pedras no meio dos caminhos desta vida.
Então, vamos contextualizar esta situação para a atual realidade brasileira. No próximo ano, o eleitorado escolherá o novo presidente da República. Desta forma, 2025 é estratégico. As peças já se movimentam no tabuleiro do xadrez da disputa. Assistimos a uma etapa de máxima tensão para os senhores do poder. Todo cuidado é pouco. As ações do cotidiano, a partir de agora, exigem critério na discussão, celeridade na elaboração e parcimônia na implantação. Uma palavra fora de tom tem potencial para produzir intensas labaredas. Cuidado com o improviso. Basta pequeno descuido e simples sussurro se transforma num vendaval. Todos os movimentos refletirão no processo eleitoral de 2026. Os dias de hoje, portanto, são o Rubicão de Luiz Inácio Lula da Silva. Ala Jacta est. O chefe do Executivo e sua tropa tentam a ultrapassagem dos primeiros obstáculos da sucessão presidencial. Os nervos estão à flor da pele. O mandatário maior do país principia a sua luta contra a correnteza com sérias dificuldades.
A pesquisa Genial/Quaest chegou recheada de terríveis vaticínios. Os péssimos resultados foram um balde de água gelada no universo da esquerda. Os números inesperados são indícios de engenho de fogo morto logo à frente. A assustadora desaprovação do Governo não constava no script dos marqueteiros oficialistas. Pobre Sidônio Palmeira! O mau humor da população chegou a trágicos 37%. Um aumento de 6% em relação ao levantamento de dezembro de 2024, que registrou 31% de insatisfação. A explícita degradação da popularidade do lulopetismo provocou calafrios nos “companheiros”. A avaliação positiva encontra-se em 47%. Coisa de fim de feira. É desanimador.
Quais são as causas de tantas notícias ruins no limiar do icônico riacho? Há algumas percepções. O time deste terceiro mandato lulista tem notória especialização em bater cabeças. O exemplo mais emblemático desta sensação é o vexame do PIX. O PT e cia levaram um passeio da aposição nas redes sociais. A intervenção do deputado Nikolas Ferreira foi cirúrgica. Os magos do Palácio do Planalto atravessaram a Praça dos Três Poderes e escorregaram na previsível casca de banana do parlamentar mineiro. A desistência da ação (do PIX) se revelou emenda pior que soneto. A tranquila água do Rubicão virou autêntico vagalhão de difícil transposição.
As gôndolas dos supermercados também se transformaram no grande símbolo da má fase da atual gestão. Haddad até apresenta um bom desempenho na economia. Os atraentes índices, porém, não refletem nos surrados bolsos da população. Pelo contrário, os preços dos gêneros alimentícios estão na estratosfera. E a coisa se complica cada vez mais. O grupo palaciano parece mais perdido que cachorro vira-lata em dia de mudança. O quadro é grave. Lula tem muito pouco tempo (uns quatro meses) para se livrar do afogamento nas águas do Rubicão. A ver.
PS1: E nada é tão ruim que não possa piorar um pouco mais. Veja o tamanho da confusão. Logo no início do terremoto Donald Trump, Lula assume a presidência do Brics. Assim, nuvens negras se formam na linha do horizonte. Esse cenário indica fortes tempestades na economia. O Rubicão, com certeza, está entrando no modo enchente. Salve-se quem puder!
PS2: Os “companheiros” têm uma arma muito poderosa para se livrarem da encrenca de 2026: a “inesgotável” resiliência de Lula. O homem é a mais perfeita encarnação da fênix.
Fernando Silva é jornalista e escreve sobre política em DeFato Online.
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