Lula não vai, mas o Brasil vai defender alternativa ao dólar e menos dependência do FMI na Cúpula do Brics

O chanceler Mauro Vieira representará o governo brasileiro no encontro

Lula não vai, mas o Brasil vai defender alternativa ao dólar e menos dependência do FMI na Cúpula do Brics
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Impedido de viajar por recomendação médica, depois de se machucar no banheiro do Palácio do Alvorada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não vai estar presencialmente na Cúpula do Brics, na cidade russa de Kazan, que começa nesta terça-feira (22) e vai até a próxima quinta-feira (25), mas deve ter uma participação virtual na quarta-feira (23), ainda não confirmada.

Lula deve destacar dois pontos prioritários de sua política externa, como a ‘reforma da governança global’, ressaltando o Conselho de Segurança da ONU; além da busca de formas dos países do bloco dependerem menos do dólar nas transações comerciais e de organismos multilaterais de crédito, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Lula tentará buscar temas relacionados à origem econômica do Brics, no intuito de mostrar ao mundo que não compactua com a ideia que se tem de que o grupo está crescendo em contraponto ao Ocidente.

Mauro Vieira, chanceler, vai chefiar a delegação brasileira no evento e, em função da ausência de Lula, várias reuniões bilaterais foram canceladas, como com o presidente russo Vladimir Putin, Xi Jinping, da China e Masoud Pezeshkian, do Irã.

Lula deve ressaltar sobre resultados concretos, a exemplo da cúpula realizada em Fortaleza, com a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB-sigla em inglês), conhecido como Banco do Brics, que hoje tem como presidente, a ex-presidente do Brasil, Dilma Roussef (PT), indicada por Lula ao posto.

O Banco do Brics já emprestou mais de US$32 bilhões (18% ao Brasil), principalmente em infraestrutura, com uma forte dose de sustentabilidade e “funding” formado basicamente no mercado de capitais, em especial o chinês.

Outro ponto importante para o governo brasileiro é a definição de critérios para o ingresso de outros países no grupo.

A princípio, o Brasil se postava contra o ingresso de outras nações ao bloco, mas admitiu a possibilidade mediante o cumprimento de critérios técnicos para essas admissões.

Outra condição imposta pelo Brasil seria a de que se esses países não se adequarem às exigências, eles entrariam no grupo na condição de parceiros.

O Talibã, grupo que domina o Afeganistão, demonstrou vontade em participar do bloco, mas, mesmo que receba o apoio Rússia e da China, o Brasil vetaria a candidatura dos afegãos. O Brasil não reconhece o governo do Talibã no Afeganistão, segundo um interlocutor brasileiro.

Para Ronaldo Carmona, professor de geopolítica da Escola Superior de Guerra (ESG), “o Brics se tornou um polo aglutinador de países que desejam uma desconcentração do poder mundial. Querem um sistema de feição multipolar, onde haja maior margem de manobra para projetos nacionais. Essa aspiração por liberdade de ação, livre de condicionalidade de viés político, é a principal motivação dos 34 novos membros. Assim, a agenda geopolítica do Brics se concentra em ser um impulsionador da multipolarização do poder mundial”.

Carmona avalia que a “bola da vez,” em 2025, é consolidar o uso de moedas nacionais no comércio bilateral, abrindo mão do uso do dólar, arbitrado pelo país que o emite, os EUA.

Carmona acrescenta que para o Brasil é algo relevante, uma vez que o comércio com a China (importação e exportação), atingiu, em 2023, US$ 160 bilhões.

Lula designou a Mauro Vieira, na Cúpula, a reafirmação das posições do Brasil com relação ao Oriente Médio, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e a necessidade de compromissos mais firmes para o enfrentamento da mudança do clima.

Existe a expectativa de que seja assinada uma declaração final da cúpula com mais de cem parágrafos.