Libertees: marca de itabirana usa criatividade de detentas em projeto com apelo social
Reclusas do Complexo Penitenciário Feminino Estêvão Pinto dão vida às peças da grife Libertees, idealizada pela itabirana Marcella Mafra
Detentas do Complexo Penitenciário Feminino Estêvão Pinto, em Belo Horizonte, se transformaram em modelos por um dia, em um desfile cheio de propósito nessa segunda-feira, 14 de maio. O pátio do local se transformou em uma passarela. A iniciativa é da empresária itabirana Marcella Mafra, fundadora da grife Libertees, confecção que funciona dentro do presídio feminino com a participação das próprias reclusas.
O desfile contou com peças da coleção de inverno e verão da Libertees, e teve a finalidade de estimular o trabalho das detentas. “Foi um momento delas, como uma forma de incentivo, para continuar o trabalho com mais vontade e incentivar outras a começar o trabalho. Foi muito legal”, descreve Marcella. De acordo com a empresária, a grife existe desde 2013, a partir do desejo que ela tinha de ter uma marca própria, desde que estivesse dentro do contexto da penitenciária, onde ela já atuava.
Oportunidade
As mulheres do complexo participam de escola de arte dentro do ambiente penitenciário, com o professor Eder Batista. Foi numa exposição de desenhos feitos por elas que a empresária percebeu a oportunidade de mostrar o que havia de bonito dentro dos muros da detenção. “Apesar de ser um lugar que se pensa que é triste, que é um local ruim, na verdade é um lugar que têm muitas oportunidades, talvez a primeira oportunidade na vida das meninas ali presas. A condição em que elas estão de estarem presas não inibe, não tira a liberdade da mente delas. A mente delas é livre”, comenta a empresária.
Assim que viu a exposição, Marcella fez um projeto, com o apoio da sócia Daniela Quiroga, e apresentou à Secretaria de Estado da Educação e à Secretaria de Assistência Social. O projeto foi aprovado para ser viabilizado no presídio. Foi aí que surgiu a Libertees. Desde que começou, a marca produz roupas para grandes empresas de moda.
As roupas são cortadas e costuradas na penitenciária, que ficam a cargo da empresa da itabirana, a Liberte-se Confecção. Hoje, a marca conta com a mão de obra de sete detentas, que trabalham costurando para a Liberte-se. Já na escola de arte, onde são desenhadas as estampas, são mais de 100 mulheres envolvidas.
Pelo trabalho, as detentas recebem remuneração de 3/4 do salário mínimo, que são divididos em três partes: uma para o pecúlio, outra para elas se manterem dentro da penitenciária com o que não é fornecido (por exemplo, cigarro), e ou mandarem para a família para ajudar na criação de seus filhos e a terceira parte para a penitenciária. Elas ainda recebem o benefício de a cada três dias trabalhados, terem um dia de remissão.
Coleção
Marcella conta que a primeira coleção da marca foi lançada em outubro do ano passado, no evento de moda Minas Trend, e teve o apoio da estilista Andreia Aquino, responsável por desenvolver as peças. Foi apresentada a coleção do Inverno/2018, feita pelas reclusas, em um concurso dentro da semana de moda, chamado Ready To Go. Nela, a Libertees conquistou o terceiro lugar. Em abril deste ano, novamente a Libertees esteve no Minas Trend, para participar do Ready To Go, mostrando peças para o Verão/2019. Mais uma vez, a marca ficou em terceiro lugar.
Segundo a empresária, a coleção de verão está muito mais madura. “Acrescentamos peças de baixo, como calças, shorts e saias, macacão, que era uma necessidade que percebemos que precisaria. Algumas peças com menos estampas, que seriam mais localizadas, com alguma intervenção de bordados, que remetesse à penitenciária”, descreve. Ela emenda: “É importante que as pessoas conheçam esse trabalho também, para que o projeto seja duradouro e que eu possa empregar mais meninas”.