Caso menino Miguel: homicídio culposo e indícios de irregularidade no uso do dinheiro público

Patrão é prefeito de Tamandaré (PE). Tribunal de Contas e MP de Pernambuco investigam se salário de R$1.093,62 era pago pelo prefeito com dinheiro dos cofres públicos

Caso menino Miguel: homicídio culposo e indícios de irregularidade no uso do dinheiro público
Miguel morreu após cair de uma altura de 35 metros – Foto: Arquivo Pessoal

A trágica morte do menino Miguel Otávio, de apenas cinco anos, que morreu após cair do 9º andar do prédio onde sua mãe trabalhava como empregada doméstica, causou revolta e comoção. O garoto estava sob os cuidados de Sari Corte Real, patroa de sua mãe, Mirtes Renata Santana de Souza. O fato ocorreu o último dia 2.

Enquanto estava sob os cuidados de Sari, o garoto entrou em um elevador, chamando insistentemente pela mãe, que havia saído para passear com a cadela de Sari. Conforme imagens das câmeras de segurança, a patroa não retirou o menino do local e, aparentemente, teria apertado um botão de outro andar. Passivamente, ela viu as portas do elevador se fecharem. O resultado: Miguel saiu do elevador apenas no 9º andar e ao chegar à beira da fachada do prédio, caiu de uma altura de 35 metros. Sari foi presa, mas liberada após pagar fiança de R$20 mil. Ela responderá por homicídio culposo, que é quando não há intensão de matar.

Enredo da tragédia

Mirtes contou em entrevista a um programa de televisão que chegou mais cedo ao trabalho no dia 2 de junho. Isso atendendo ao pedido da patroa. Sari pediu que Mirtes ficasse com a filha dela enquanto levava a mãe ao aeroporto. “Quando a menina acordou, eles (a criança e Miguel) ficaram brincando. Eu fiquei tomando conta das crianças”, explicou. Em dado momento, a patroa voltou ao apartamento, mas as crianças estavam muito inquietas. Mirtes então resolveu que levaria sozinha a cadela de Sari para passear, atendendo a pedido da patroa. Ela relatou que deixou o filho com a mulher por alguns minutos.

“Ele (Miguel) ficou chorando, mas eu falei: ‘Mamãe já volta'” disse Mirtes.

A mulher ainda disse em entrevista que ao voltar, sentiu um forte aperto no peito ao ouvir do porteiro que uma pessoa tinha caído de um dos andares. “Meu filho estava vivo quando o vi no chão. Um morador do prédio, que é médico, olhou Miguel e falou que ele ainda estava com vida, mas que precisava ser socorrido urgentemente”, declarou. E como o resgate acionado estava demorando, ela e Sari levaram o filho ao hospital, de carro. Miguel não resistiu aos ferimento.

“Eu perdi o meu filho por uma questão de falta de paciência. Tanta paciência que eu tinha com os filhos dela. Ela confiava os filhos dela, de olhos fechados, para mim e para minha mãe, que também trabalhava para ela, e por uma questão de nem dez minutos, ela não teve paciência com o meu filho”, reclamou.

Salário pago com dinheiro público

O patrão de Mirtes Renata Santa de Souza é o prefeito de Tamandaré (PE), Sérgio Hacker (PSB). E consta o nome da doméstica como servidora comissionada do município, ou seja, há indícios de que ela trabalhava como doméstica na casa do prefeito, mas com salário pago pelos cofres públicos. Mirtes já declarou que não sabia que constava como funcionária pública da Prefeitura.

O prefeito ainda não se manifestou sobre a questão. Contudo, tanto o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) quando o Ministério Público Estadual (MPE-PE) instauraram investigação. Caso se constate o desvio, Sérgio Hacker responderá por improbidade administrativa.