Ministério da Saúde aponta que itabiranos receberam doses vencidas de vacina contra Covid-19

Cerca de 26 mil doses da AstraZeneca, fora da validade, foram aplicadas em 1.532 municípios brasileiros. Entre as cidades da região, além de Itabira, Catas Altas, Barão de Cocais e Santa Bárbara também constam na lista

Ministério da Saúde aponta que itabiranos receberam doses vencidas de vacina contra Covid-19
Foto: Ingrid Vasconcelos/Governo de MG
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Na tarde dessa sexta-feira (2), o jornal Folha de São Paulo publicou uma matéria denunciando que cerca de 26 mil doses da vacina AstraZeneca foram aplicadas vencidas em diversos municípios brasileiros. Segundo o jornal, os dados constam de registros oficiais do Ministério da Saúde. Itabira é uma das cidades que aplicou doses vencidas. Além disso, Catas Altas, Santa Bárbara e Barão de Cocais também figuram na lista.

Para isso, a reportagem cruzou informações de duas bases do Ministério da Saúde, o DataSUS e a Sala de Apoio à Gestão Estratégica (Sage), a partir do número do lote das vacinas. Foram consideradas todas as imunizações do país contra Covid-19 até 19 de junho.

A Folha detalha que as vacinas vencidas foram utilizados em 1.532 municípios brasileiros. Na lista apresentada pelo jornal, Maringá foi a cidade que mais aplicou imunizantes vencidos. A cidade paranaense vacinou 3.536 pessoas com o produto da validade. Na sequência estão Belém (PA), com 2.673; São Paulo (SP), com 996; Nilópolis (RJ), com 852; e Salvador (BA), com 824.

E não para por aí! A Folha de São Paulo informou ainda que 114 mil doses da vacina AstraZeneca chegaram a ser distribuídas, dentro do prazo de validade, mas agora já expiraram. Nos registros oficiais do Ministério da Saúde, não há detalhes de que essas doses foram descartadas ou se continuam sendo aplicadas.

O que diz a Gerência Regional de Saúde

Todos os imunizantes expirados integram oito lotes da AstraZeneca importados ou adquiridos por consórcio. Ainda de acordo com a reportagem, os lotes vencidos são os seguintes:

  • 4120Z001 (validade 29 de março)
  • 4120Z004 (13 validade de abril)
  • 4120Z005 (14 validade de abril)
  • CTMAV501 (30 validade de abril)
  • CTMAV505 (31 validade de maio)
  • CTMAV506 (31 validade de maio)
  • CTMAV520 (31 validade de maio)
  • 4120Z025 (4 validade de junho)

As vacinas aplicadas em Itabira e mais 23 cidades da região são distribuídas pela Gerência Regional de Saúde (GRS) que tem sede no município. A DeFato procurou a Regional para tentar entender o que aconteceu. Por meio da assessoria de comunicação, a GRS informou que é responsável apenas a gestão de logística e distribuição dos imunizantes.

A Regional esclareceu que as vacinas desses lotes foram distribuídas de janeiro a março pelo Governo Federal antes do vencimento. Assim, segundo a GRS de Itabira, as vacinas são conferiras no Ministério da Saúde, na Secretaria de Estado de Saúde e nas Unidades Regionais. “Quase impossível entregar vacinas vencidas. Geralmente, quando estão próximo do vencimento, os imunizantes são distribuídos somente nas capitais”, disse a assessoria.

Além disso, a Gerência de Saúde reforçou que o município é o responsável por aplicar as doses. E que “é na sala de vacina que é feita a última verificação. O próprio usuário do SUS também pode verificar a data e lote do imunizante, tanto que eles estão nos cartões de vacina do usuário. O técnico(a) de enfermagem, o(a) enfermeiro(a) ou o(a) médico(a), não podem aplicar imunizantes vencidos, de nenhum tipo. Existem as notas técnicas do Ministérios da Saúde que orientam estes profissionais da sala de vacina, quanto a este assunto”.

Notas oficiais

Diversas entidades púbicas se manifestaram sobre o assunto. Confira as notas oficias na íntegra.

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informa que as vacinas recebidas do Ministério da Saúde foram distribuídas e entregues aos municípios mineiros dentro do prazo e com prazo de administração anterior à data de vencimento. A SES-MG realiza um rigoroso protocolo de conferência de todos os imunizantes antes de enviar para as 28 Unidades Regionais de Saúde. Este processo assegura o controle de temperatura, o acondicionamento das caixas de vacina, bem como a verificação dos prazos de validade. Para além deste processo, em cada remessa de vacina enviada aos municípios, uma nova Nota Informativa é emitida sobre o quantitativo de doses, especificidades, público-alvo e alerta quando o prazo de validade está próximo. A SES-MG orienta que os imunizantes sejam administrados dentro do prazo estabelecido pelo fabricante. Minas Gerais recebeu 3 dos 8 lotes citados pelo jornal Folha de S. Paulo. O lote 4120Z001, com vencimento em 29/3, foi distribuído às URSs em 26/2, 1/3 e 19/3. Já o lote 4120Z005, com vencimento 14/4, teve distribuição para as URSs no dia 12/3. Em 5/4, a SES-MG realizou a última distribuição do lote CTMAV506 que tinha o prazo de validade para 31/5. A SES-MG está em contato com os municípios para conferir se as aplicações foram realizadas fora do prazo e registradas no Vacinômetro e no SI-PNI , além de orientar as medidas que serão tomadas a partir do resultado desta análise. Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG)

 

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) vêm a público esclarecer que:

  1. Todos os casos sobre aplicação de doses contra a Covid-19 fora do prazo de validade serão investigados;
  2. Não está descartado erro do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações, que desde o início da Campanha de Vacinação apresenta instabilidade no registro dos dados;
  3. O número de casos identificados corresponde a 0,0026% de todas as doses aplicadas no País, sendo necessárias ponderação e investigação quanto à aplicação das doses e preenchimento das informações;
  4. A ação de Estados e Municípios visa dar rápida resposta à sociedade brasileira;
  5. Por fim, ressaltamos que todos os profissionais destacados pelos municípios para aplicação das vacinas adotam as boas práticas de vacinação, dentre as quais, a checagem do prazo de validade.
    Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems)

A Prefeitura de Itabira também emitiu o seu posicionamento oficial:

A respeito de divulgações feitas em mídias nacionais e locais, a Prefeitura de Itabira esclarece que não procede a informação de que aplicou vacinas sem validade no município.

Nesta sexta-feira, após a divulgação da matéria, a Secretaria Municipal de Saúde realizou uma conferência no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações e checou que as duas doses do imunizante AstraZeneca apontadas como fora da validade, referentes ao lote 4120z005, foram aplicadas dentro do prazo:

– A primeira dose, apontada no sistema do Ministério da Saúde como aplicada no dia 12/05, na verdade, foi aplicada em 12/02, muito antes da data de validade (14/04);

– A segunda dose, apontada como sendo do lote 4120z005, na verdade, pertence ao lote 213vcd001w, sem qualquer problema de vencimento.

As duas informações equivocadas já foram corrigidas no sistema do Ministério da Saúde.

A Prefeitura de Itabira reitera seu compromisso com uma campanha de vacinação dentro das regras e prazos estipulados.

Doses vencidas na região

Em Itabira foram aplicadas apenas duas doses vencidas. Em Barão de Cocais, uma dose foi aplicada. Em ambas as cidades, os imunizantes são originários do lote 4120Z005. Já em Catas Altas, duas doses do imunizante expirado foram usadas, da remessa 4120Z001. E, em Santa Bárbara, quatro doses chegaram a ser ministradas, duas do lote 4120Z001 e outras duas do 4120Z005.

A Prefeitura de Itabira foi procurada para falar sobre o assunto. Por meio da assessoria de comunicação, informou que não houve aplicação de vacinas com data vencida no município.

“Na matéria citam dois lotes em Itabira, mas não procede. Um foi por causa de data errada no sistema e o outro teve o número do lote trocado no sistema. No primeiro caso, houve digitação errada da primeira dose banco do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI). Ao invés de 12/02/21, foi digitado 12/05/21. Essa correção já foi realizada. No outro caso, na hora do digitador inserir o lote, ele inseriu o lote 4120z005 e o certo é 213vcd001w”.

A assessoria de comunicação para Prefeitura completou ainda que “Itabira recebeu o lote que a reportagem aponta no início da vacinação. Foi a primeira remessa de AstraZeneca. Ele foi aplicada em profissionais de saúde imediatamente”.

O que fazer agora

O Ministério da Saúde recomenda que quem tiver recebido uma dose de um desses oito lotes de AstraZeneca, após a data de validade, deve procurar uma unidade de saúde para orientações e acompanhamento. Além disso, de acordo com o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19, essas pessoas devem se revacinar pelo menos 28 dias depois de ter recebido a dose vencida. Na prática, é como se a pessoa não tivesse se vacinado.

A validade das vacinas contra Covid-19 depende da tecnologia e dos insumos utilizados no desenvolvimento do imunizante. Essas informações integram os dados analisados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para regulação dos imunizantes utilizados no país.

A AstraZeneca e a Pfizer duram até seis meses. A Janssen, com validade original definida em três meses, agora pode ficar armazenada por até quatro meses e meio. A Coronavac tem duração de um ano —o primeiro lote dessa vacina utilizado no Brasil venceria somente em novembro.