Miriam Leitão recebe o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano no Flitabira
“Eu cheguei até aqui carregada por pessoas, livros e afetos. Isso me trouxe até aqui”, declarou a jornalista em seu discurso
A quarta edição do Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira) ficou marcada pela entrega do Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano para a jornalista e escritora Miriam Leitão, na noite deste sábado, 2 de novembro. O prêmio foi entregue por Conceição Evaristo — agraciada com a premiação no ano passado também durante o Flitabira — e pelo Presidente da União Brasileira dos Escritores – UBE, Ricardo Ramos Filho.
O Troféu Juca Pato é uma homenagem a uma personalidade que se destaque em qualquer área do conhecimento, com uma obra literária publicada no ano anterior. Além disso, o vencedor deve contribuir para o desenvolvimento e prestígio do país na defesa dos valores democráticos e republicanos.
Profundamente emocionada, Miriam Leitão conversou com o público: “Hoje eu me sinto vivendo uma chuva de honras”. Miriam direcionou ao irmão, presente na cerimônia, uma missão importante: “Conta lá em Caratinga [sua terra natal] que aquela menina que vivia agarrada nos livros… ela realizou os seus sonhos”. A homenageada deste ano também celebrou a vida e a obra de Conceição Evaristo: “Você é uma escritora maravilhosa, então é muita honra receber esse prêmio das suas mãos”. Miriam Leitão prosseguiu: “Eu fiquei, no dia de hoje, conversando comigo mesma, com a menina que eu fui. Pensando nas pessoas e em todos os livros que me trouxeram até aqui. Eu cheguei até aqui carregada por pessoas, livros e afetos. Isso me trouxe até aqui”.
“Eu amo os livros. Eu sempre amei. Então, eu lia muito, muito muito”. Falando sobre o período presa pela ditadura militar:
“Eu não podia ler nada. Essa era a segunda parte da tortura. Então eu fechava os olhos. Eu pensava em Drummond, eu pensava em Graciliano Ramos. Eu lembrava de todos eles. Eu pensava em Diadorim e Riobaldo. Eu pensava em cada um dos livros que tinha lido. E isso me fazia muito forte”.
Na conclusão de um discurso emocionante, Miriam declarou: “Hoje eu vivi um dia glorioso. Eu sou muito feliz. Agradeço a todos vocês que estão aqui. (…) Eu queria dedicar esse prêmio à Elizabeth Leitão. Eu dedico esse prêmio a minha amada irmã Beth”.
Antes do discurso de Míriam, a noite foi aberta por Ricardo Ramos Filho e integrantes da diretoria da União Brasileira dos Escritores. “É com alegria que estamos aqui com o Troféu Juca Pato. Nossa gestão busca reconhecer um erro histórico: poucas mulheres foram premiada”, frisou Ricardo. “Viva a UBE, viva o Flitabira, viva a Conceição Evaristo e viva a Miriam Leitão”.
Ricardo, então, chamou o escritor Eugênio Bucci ao palco para algumas palavras em homenagem à Miriam Leitão: “O Troféu Juca Pato aponta o caminho para o Brasil, para a ação dos intelectuais. Com um significado de ação que transforma o mundo, que torna o mundo melhor do que ele é. (…) Miriam Leitão escreve uma trajetória, ao longo da sua biografia, grandiosa, brilhante em muitos sentidos. Em jovem, ela resistiu à ditadura de maneira dramática, ela venceu a ditadura. (…) Miriam Leitão, por tudo o que fez e faz, representa a mim, representa todos os jornalistas brasileiros com brilho total. (…) Quem está recebendo esse prêmio sou eu, quem está recebendo esse prêmio são todos os jornalistas do Brasil”.
Quem também prestou uma homenagem à Miriam Leitão no palco foi a jornalista Flávia Oliveira. “Eu vou dar o lead: A Miriam Leitão é a maior jornalista do Brasil. (…) Juca Pato está indo para mãos muito precisas, muito corretas, muito certeiras ao ser entregue à Miriam Leitão, como também esteve ao ser entregue, no ano passado, à Conceição Evaristo. Nós mulheres — brancas, negras, indígenas — temos muito a ensinar à intelectualidade brasileira”. Flávia ainda acrescentou: “A capacidade dela me inspira. (…) Eu tenho muita honra, muito orgulho, imensa emoção de saber que Miriam Leitão é minha amiga. Imensa referência e minha amiga”.
Conceição Evaristo também dedicou palavras especiais à homenageada: “Hoje, estando aqui com você lhe entregando o Juca Pato, várias coisas me vieram à cabeça. Inclusive, pensando na sua luta na ditadura. E hoje você está aqui. E isso pra gente é uma lição de que a liberdade, a democracia vai se construindo aos poucos. (…) Também não posso deixar de relembrar o quão significativo foi para a comunidade negra você ser a primeira pessoa pública a escrever um livro sobre a validade das cotas”.