Mistura de minério que turbina vendas da Vale não impacta vida útil de minas de Itabira
Desde 2014, a Vale investe em um novo produto no mercado internacional. O Brazilian Blend Fines (BRBF) começou a ser comercializado na Malásia, mas ganhou notoriedade a partir de 2016, quando alcançou o concorrido mercado chinês. O blend é uma mistura do minério rico em ferro extraído no Pará com os de teores mais baixos […]

Desde 2014, a Vale investe em um novo produto no mercado internacional. O Brazilian Blend Fines (BRBF) começou a ser comercializado na Malásia, mas ganhou notoriedade a partir de 2016, quando alcançou o concorrido mercado chinês. O blend é uma mistura do minério rico em ferro extraído no Pará com os de teores mais baixos de Minas Gerais. Em suma, o sucesso da commodity pode dar sobrevida a jazidas com operações em risco no estado, mas não deve impactar diretamente as minas de Itabira, com previsão de exaustão para daqui a 10 anos, segundo a empresa.
O blend comercializado pela Vale tem 63,1% de ferro. O minério é comercializado a valores superiores ao preço de referência do mercado internacional, com média de 75 dólares a tonelada. Com o sucesso na China, o BRBF já responde a 35% das vendas totais da companhia e resultou em um ganho adicional de US$ 3 bilhões para a empresa de 2017 para cá.
Segundo reportagem do Jornal O Tempo, a mistura dá sobrevida a minas da Vale que já tinham os dias contados justamente porque só oferecem minério com baixo teor de ferro. A extração nessa situação se torna extremamente cara para empresa, pois exige tecnologia avançada para beneficiar o produto e o valor de venda é mais baixo. Assim, a multinacional encontrou no blend, sustentado pelo minério rico do Pará, uma alternativa para conseguir mais rentabilidade.
“No passado, em cada mina tentávamos fazer um produto com qualidade de produto final para ser vendido sozinho e com isso não se explorava a sinergia entre diferentes operações. O grande valor está na integração das operações e na complementaridade do minério de Carajás com esses minérios de baixo teor que são produzidos em Minas”, afirma o diretor global da Cadeia de Ferrosos da Vale, Vagner Loyola, em entrevista reproduzida pelo Diário do Comércio.
No entanto, o sucesso do novo produto no mercado internacional não deve alterar a previsão estipulada pela Vale para exaustão das minas de Itabira nos próximos dez anos. Procurada por DeFato Online, a empresa, por meio de sua Assessoria de Comunicação, informou que o minério extraído em Itabira e adicionado ao blend é insuficiente para alterar o cenário produtivo no município. De acordo com a companhia, o minério itabirano continua tendo como principal destino a produção de pelotas, produto mais caro e mais rentável da Vale em todo mundo.
A Vale pontua, no entanto, que a vida útil das minas está relacionada a variações de demandas e surgimento de novas tecnologias. O tempo de exaustão das jazidas é informado, anualmente, no relatório 20F, uma exigência da Bolsa de Nova York às empresas com operações na instituição financeira. “Somente no ano que vem, com um novo relatório, saberemos se houve alguma mudança nessa previsão sobre as minas de Itabira”, afirma Assessoria de Comunicação da mineradora.
Beneficiamento em Itabira
A Vale investiu nesta década cerca de 3,9 bilhões de dólares em projetos de beneficiamento do itabirito compacto (um minério com até 40% de ferro e alto nível de contaminantes como a sílica) nas minas de Itabira. Em sua terra natal, a empresa desenvolveu as usinas de Cauê Itabiritos e Conceição de Itabiritos I e II, capazes de transformar elevar o teor de ferro da commodity para algo próximo de 68%.
Além das minas de Itabira, outros US$ 1,6 bilhão foram investidos na planta de Vargem Grande, construída em uma área que abarca os municípios de Nova Lima, Rio Acima e Itabirito, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A maior parte (80%) da produção é de pellet feeds, usados para fabricar pelotas.
O BRBF
O BRBF (Brazilian Blend Fines), é um produto desenvolvido pela Vale considerado premium. Está se tornando gradativamente o standard mundial do minério de ferro, substituindo o que até recentemente era o produto australiano, principal concorrente do Brasil no mercado. O minério extraído em Minas é indispensável para a produção do BRBF, que é o resultado da blendagem (mistura) do minério do Quadrilátero Ferrífero com o que é extraído no Pará.
A produção do BRBF exige um complexo sistema de logística. A produção mineral deixa as unidades de Minas Gerais e do Pará em composições separadas e só são misturadas em plantas de beneficiamento nos próprios destinos de comercialização, uma na Malásia e outra na China.
Segundo a Vale, os bons resultados alcançados foram possíveis graças a ajustes nos processos da empresa, de acordo com a demanda e as condições de mercado atuais, capitaneados pelo Centro de Operações Integradas (COI), inaugurado há pouco mais de um ano em Nova Lima.
“A Vale tem hoje, um ano após o início dos trabalhos coordenados pelo COI, uma visão mais coesa da cadeia produtiva, desde a mina, passando pelas ferrovias, portos e transporte marítimo até a venda e distribuição do minério. Tomamos decisões melhores com a gestão otimizada da cadeia, através da melhor alocação dos estoques e produção. Estamos mais flexíveis e usamos isso a nosso favor”, comemora o diretor da Cadeia de Ferrosos da Vale, Vagner Loyola.