“Monlevade é um celeiro de formação do futebol feminino”, diz treinador Douglas Oliveira
Treinador está há mais de 15 anos trabalhando com as meninas
O futebol feminino vem ganhando cada vez mais espaço no cenário nacional e também a atenção da mídia, de empresas e admiradores. Aos poucos o machismo nu e cru, soberbo e prepotente, de que “futebol é coisa para homem” vai perdendo força. Entretanto, em João Monlevade, o futebol como esporte para as mulheres já vem há bastante tempo; desafiando tabus e conseguindo grandes feitos. Quem está nessa caminhada com as meninas desde 2007 é o treinador Douglas Oliveira, atual comandante técnico da Seleção Municipal de João Monlevade de futsal. Conversamos com o professor para entender os sucessos recentes que Monlevade vem colhendo em cenário mineiro e até nacional.
Confira na íntegra a entrevista do repórter Luciano Vidal com o treinador:
– Como é sua história com o futebol feminino na cidade?
Ao final do ano de 2007 comecei minha trajetória no futsal feminino de João Monlevade como técnico da equipe adulta do município, com objetivo de dar continuidade nesse projeto ingressei na Faculdade de Educação Física no início de 2008. No ano de 2009 junto ao Prof. Hilário Quaresma, grande referência regional do futsal com quem aprendi e aprendo muito até hoje, formamos uma Comissão Técnica que resultou na conquista do Campeonato Metropolitano Adulto de Futsal Feminino, conquista inédita para o nosso município. A partir do ano de 2010 comecei a me dedicar na formação de atletas formando as equipes de categoria de base, Sub-13 e Sub-15, participando de competições da Federação Mineira e outras competições regionais e estaduais.
Em paralelo em parceria com as escolas E.E. Luiz Prisco de Braga e E.M. Germin Loureiro começamos a participar dos Jogos Escolares de Minas Gerais, sendo referência em toda região e conquistando resultados importantes e inéditos para o município. Hoje temos várias categorias, com destaque ao Projeto iniciado a poucos meses do Sub-11, categoria que pela primeira vez tem a formação de equipe pra treinamento em João Monlevade na modalidade.
– Conta um pouco das conquistas que o futebol/futsal feminino de Monlevade já teve até aqui.
As equipes monlevadenses de futsal feminino tiveram importantes conquistas nestes últimos 16 anos em competições regionais e estaduais. Com destaque para os títulos de COPA SESC-BH, três vezes campeão da Etapa Regional dos JEMG, vice Campeonato Mineiro Sub-15, Campeonato Metropolitano, Etapas do JIMI, Campeonatos Regionais, Etapa da Taça Valadares, conseguimos ficar 6 anos invictos na Etapa Microrregional do JEMG (módulo I e II) conquistando por 6x consecutiva esta competição.
– Você considera que Monlevade hoje é um celeiro de formação de jogadoras?
Com certeza. É impressionante como a renovação é constante e com qualidade nas nossas equipes. Várias atletas já foram cedidas para equipes que participaram de competições nacionais, no período em que ficamos fora das competições oficias. Hoje com maior destaque temos a atleta Drielly de Souza, atleta profissional da equipe do Mixto Esporte Clube – MT que recentemente foi campeã brasileira da Série A3. A Drielly começou no futsal feminino aos 9 anos idade, ficando nas equipes monlevadense até os 19 anos.
– Você como homem e treinador. Como é ver o futebol feminino ganhando espaço com a Copa do Mundo Feminina, Campeonato Brasileiro, Regional, etc?
A realidade atual do futebol/futsal feminino mudou bastante em relação a quando eu comecei. Hoje o preconceito é bem menor, as meninas têm mais apoio da família, amigos que enxergam o esporte com outros olhos. A popularização se deve a maior exposição nas mídias com transmissões de partidas, apoio dos clubes profissionais, inserção de mulheres nas transmissões, mesmo que masculinas, nos grandes meios de comunicação.
Hoje temos 3 divisões do Campeonato Brasileiro de Futebol, campeonatos estaduais, Libertadores e a transmissão desses jogos em TV aberta, fechada, além de streaming e demais redes sociais.
A Copa do Mundo iniciada no último final de semana demonstra o crescimento da modalidade, quebrando recordes na transmissão na partida da Seleção Brasileira e de outras equipes. Claro que o interesse comercial, comparado ao masculino ainda é menor, mas considerando no Brasil que a modalidade, até algumas décadas, era proibida já podemos considerar um grande avanço, principalmente nestes últimos 15 anos.
– Ainda falta algo para que o futebol feminino “estoure”? E isso seria o que na sua visão, treinador?
Sempre há algo a melhorar. Esse investimento que está sendo feito nos últimos anos infelizmente atingiu apenas o nível profissional. Há necessidade urgente de maior investimento na base, desde as escolinhas em bairros quanto categorias de base nos times profissionais. Precisamos ter uma massificação de meninas treinando o futsal/futebol, só aumentando o número de atletas praticando a modalidade conseguiremos extrair a qualidade.
Tiro por exemplo o trabalho que é feito em países onde a modalidade é referência, nos EUA a modalidade está difundida e organizada nos vários níveis, desde as escolinhas, passando pelas escolas regulares, universidade até chegarmos ao nível profissional. Para alcançarmos essa excelência há necessidade de parcerias público/privada para que a modalidade continue sua ascensão.
– Tem competições a vista? Qual a expectativa?
No segundo semestre teremos a participação na Etapa Final da Taça Valadares, Campeonato Estadual Sub-20 e Adulto da Federação Mineira de Futsal, JIMI e competições regionais que possam surgir, principalmente na categoria de base.
Treinador Douglas Oliveira, em 2018, conquistando mais um campeonato com a Seleção Feminina de Monlevade Foto: Divulgação