Municípios mineradores iniciam campanha por pagamento de dívida da Vale estimada em R$ 2,4 bilhões

AMIG e municípios iniciaram uma campanha nacional para dar visibilidade ao impacto negativo causado aos cofres públicos pela dívida da Vale

Municípios mineradores iniciam campanha por pagamento de dívida da Vale estimada em R$ 2,4 bilhões

Na última terça-feira (22), prefeitos e gestores de 28 cidades que têm a exploração mineral em seus territórios, iniciaram a nova fase da campanha de cobrança pública da Vale. Liderados pela Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (AMIG) as lideranças municipais realizaram manifestações em frente a prédios públicos, em Brasília (DF) e Belo Horizonte (MG). A dívida reclamada pelos municípios mineradores ultrapassa R$ 2,4 bilhões, e se refere ao não pagamento dos royalties da mineração por parte da Vale S/A, se refere a um período de quase 20 anos de exploração.

De acordo com a AMIG, eles apresentaram suas demandas aos parlamentares da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e do Congresso Nacional. Há um ano, no dia 24 de agosto, a AMIG e os municípios credores iniciaram uma campanha nacional para dar visibilidade pública ao impacto negativo causado aos cofres públicos pela dívida da Vale S/A, em função do não recolhimento devido da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM). De acordo com a AMIG, até agora, a Vale não se mexeu.

Os gestores municipais reclamam que a empresa age como se fosse a proprietária dos territórios minerados e segue impune em relação à recusa em pagar a CFEM. Eles também preveem que, infelizmente, a mineradora assim seguirá, enquanto o governo federal não assumir o controle de regulação e fiscalização como deve ser feito, pela Agência Nacional de Mineração (ANM), e enquanto as concessões de explorações minerais não sofrerem mudanças e continuarem sem revisão.

A dívida que a mineradora Vale S/A insiste em não pagar é antiga. De acordo com Waldir Salvador, consultor de Relações Institucionais e Desenvolvimento Econômico da AMIG, a dívida foi auditada pela Agência Nacional de Mineração (ANM), na época Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). “É uma dívida que foi apurada de 1996 a 2005, ou seja, daqui a dois anos, ela vai completar 30 anos”, afirma o consultor. 

“Fomos à Vale inúmeras vezes para dialogar. A justiça derrotou por 13 vezes em primeira instância e uma vez em segunda instância a tese que a Vale defende para não pagar o royalty da mineração. E já perdeu todas as vezes, administrativamente. Inclusive, a dívida foi ratificada em um grupo de trabalho em 2018, formado pelas prefeituras e pela ANM, a pedido da própria Vale”, enfatiza.

O consultor destaca que depois de tantas tratativas com a empresa, a associação e os municípios não podem mais se calar. “Queremos que se cumpra a lei. Ela deve pagar. A AMIG não é adversária da mineradora e muito menos da mineração, só queremos que seja uma atividade íntegra, decente e sustentável para ambas as partes (mineradoras e municípios)”, pontua. 

Dívida de R$ 2,4 bilhões

 A mineradora deveria pagar a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) à gestão municipal dos territórios de onde ela extrai os minérios. A CFEM se destina ao implemento de políticas públicas voltadas à população daqueles municípios. As cidades cuja maior arrecadação depende da atividade minerária, reclamam dos impactos da falta dos devidos pagamentos da CFEM para a gestão das necessidades dos seus moradores.

“A Agência Nacional de Mineração e a Justiça já determinaram que a Vale S/A tem que pagar os valores correspondentes a cada município, que somam mais de R$ 2,4 bilhões. Nós já ganhamos essa causa em primeira e segunda instância na Justiça, mas, escandalosamente, a Vale S/A se recusa a pagar e nada acontece com a empresa. Não há qualquer sansão contra a mineradora. Só no primeiro semestre desse ano, a empresa divulgou que já distribuiu mais de R$ 8 bilhões de lucro aos seus sócios. Enquanto isso, os municípios estão sem os recursos da CEFEM e vendo a mineração seguir cada dia mais descontrolada e insegura em nossos territórios”, reclama o presidente da AMIG, José Fernando Aparecido Oliveira.

Os gestores municipais também alertam para o sucateamento da Agência Nacional de Mineração (ANM), que tem a missão de regular e fiscalizar o setor, incluindo os pagamentos da CFEM, mas que tem hoje apenas três fiscais para fiscalizar o pagamento da CEFEM no Brasil inteiro. De acordo com o presidente da associação dos municípios, a ANM não tem pessoal, não tem sistema atualizado, não tem estrutura, não tem concurso e não tem orçamento. E o que estava ruim piorou com a entrada dos empregados em greve por tempo indeterminado, há 15 dias.

“Essa situação é insustentável e, se persistir, vai destruir a atividade mineral. A ANM precisa estar no patamar das demais agências reguladoras federais. Afinal, a mineração representa 4% do PIB do Brasil. Desta forma, o país permitirá que ela possa se estruturar, modernizar, executar seu planejamento estratégico e, como consequência, teremos como efeito o crescimento da arrecadação, serão evitados os constantes acidentes que têm acontecido nos últimos anos, diminuir ou, quem sabe até, erradicar a cultura permanente de sonegação na atividade de mineração”, alerta José Fernando.

Apagão na mineração

No dia 14 de agosto, a direção da AMIG participou de uma solenidade no ministério de Minas e Energia e cobrou uma solução imediata para a situação caótica da agência de regulação. De acordo com a direção da associação dos municípios, nada foi resolvido e a mineração do país vive o risco de um apagão. Os gestores municipais alertam para o fato de que, enquanto não se corrigir o verdadeiro estado de inconstitucionalidade que persiste desde a criação da Agência Nacional de Mineração (ANM), os municípios permanecerão padecendo com os descasos e abusos como esse que Vale S/A insiste em perpetuar.

A campanha dos municípios mineradores seguirá até o mês de setembro, chamando a atenção das autoridades para esse abuso e desrespeito da Vale S/A. A direção da AMIG afirma que vai continuar com a cobrança pública e também diante dos órgãos reguladores e da Justiça, enquanto a empresa não pagar o que deve aos municípios mineradores.